VERDADE

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Pete entrou no quarto de Venice.Ele sabia que aquele era o momento que vinha temendo por anos. Seus olhos se fixaram no filho, que estava deitado na cama, folheando distraidamente um livro. Tudo o que Pete queria era proteger Venice, mas agora, a verdade ameaçava destruir a relação entre eles.

Seu coração acelerava, cada batida uma lembrança do que estava prestes a acontecer. Ele se aproximou lentamente, sentou-se ao lado de Venice e, com um suspiro trêmulo, o abraçou. O calor do filho deveria acalmá-lo, mas só aumentava sua ansiedade. Como ele poderia contar algo tão devastador, sabendo que as consequências poderiam ser irreparáveis?

- Venice... - Pete começou, a voz falhando. - Preciso que você me escute, filho. O que vou dizer... eu tenho que falar tudo de uma vez. Se eu hesitar, vou perder a coragem.

Venice levantou o olhar, confuso. - Pai? O que está acontecendo?

Pete fechou os olhos por um instante, buscando forças. - Lembra quando eu disse que não sabia quem era seu pai? - Sua voz tremia, cada palavra pesada. - Eu menti. Pela primeira vez na minha vida, eu menti pra você.

Venice se afastou um pouco, a confusão em seu rosto se transformando em incredulidade. - Mentiu? Sobre o quê, pai?

Pete engoliu em seco, sentindo o nó apertar sua garganta. - Eu sempre soube quem era seu pai. Desde o momento em que descobri que estava grávido, eu sabia. Mesmo que não soubesse... olhar pra você seria suficiente. É impossível não perceber.

Venice franziu o cenho, a raiva começando a borbulhar sob a superfície. - Por que você está me dizendo isso agora? Depois de tanto tempo? - Ele se levantou, o peito subindo e descendo rapidamente, tentando controlar a raiva crescente. - O que mudou?

Pete abaixou a cabeça, as lágrimas se formando em seus olhos. - Porque eu o reencontrei... Por uma ironia cruel do destino, nossos caminhos se cruzaram novamente. E agora eu não posso mais mentir pra você.

Venice deu um passo para trás, seu corpo tremendo de frustração. - Quando? Quando você o encontrou? Isso não faz sentido, pai! Não precisa me contar mais histórias, eu..

Pete olhou diretamente nos olhos do filho, a dor evidente em sua expressão. - Não estou inventando, Venice. Seu pai... é o Vegas. O homem com quem você esbarrou no supermercado, aquele que ficou te observando como se já te conhecesse. - A voz de Pete falhou, o peso da revelação finalmente caindo sobre ele. - Ele é seu pai. Aquele homem com quem eu estive anos atrás, no carnaval. A melhor época da minha vida, antes de tudo desmoronar.

O quarto pareceu congelar. Venice ficou em silêncio, os olhos arregalados, o choque estampado em cada linha de seu rosto.

- Vegas? - A palavra saiu quase como um sussurro, carregada de incredulidade e negação. - Não... não pode ser. Isso é uma piada de mau gosto, pai. Ele... ele não pode ser meu pai! Ele é...

Mas conforme as palavras deixavam sua boca, a verdade cruel se infiltrava. Venice começou a juntar as peças: suas feições, os olhares de estranhos que sempre o confundiam com alguém de outra nacionalidade, as semelhanças físicas que agora eram impossíveis de ignorar. Seu estômago se revirou.

- Ele sabe? - Venice perguntou, sua voz fina e frágil, como se temesse a resposta.

Pete assentiu, seus olhos marejados. - Soube no momento em que te viu. Ele não tinha dúvidas.

Venice deu um passo para trás, sentindo as paredes do quarto se fecharem ao seu redor. O ar parecia pesado, difícil de respirar. - Eu tenho um pai... e você nunca ia me contar? - A dor e a raiva começaram a se misturar, e Venice sentiu o peito apertar. - Você ia esconder isso de mim pra sempre, não ia?

Pete não respondeu, porque a verdade era óbvia. Ele havia mentido. Por medo. Por egoísmo. E agora estava pagando o preço.

- Eu quero vê-lo - Venice declarou, a raiva fervendo em seu peito. - Agora.

- Ele está lá fora. - Pete respirou fundo, sentindo a vergonha queimá-lo por dentro. - Eu prometi que não esconderia mais nada de você.

Venice o encarou, os olhos brilhando de raiva e mágoa. - Quinze anos, pai. Quinze anos de mentiras. Você não acha que isso já foi longe demais?

Pete ficou em silêncio, sentindo-se pequeno e impotente diante do filho. Ele saiu do quarto sem dizer mais nada e encontrou Vegas do lado de fora, ansioso e inquieto.

- Ele quer te ver - Pete murmurou, tentando controlar as lágrimas. - Lembre-se, Vegas... também é difícil pra ele.

Vegas respirou fundo, seu coração batendo forte no peito. Quando entrou no quarto, o olhar de Venice o perfurou. Mas, para sua surpresa, ao invés de explosões ou confrontos, Venice deu um passo à frente e o abraçou com força.

Vegas, inicialmente surpreso, retribuiu o abraço, seu coração se partindo e se curando ao mesmo tempo. Ele sentiu o peso de anos de ausência naquele contato, a promessa de que faria tudo diferente agora.

- Desculpa por só saber disso agora - Vegas sussurrou, a voz carregada de culpa. - Mas eu prometo, Venice... prometo que vou recuperar todo o tempo perdido.

Venice não disse nada. Só apertou o abraço, tentando lidar com a tempestade de emoções dentro de si. A dor de descobrir a verdade tão tarde, misturada com o alívio de finalmente saber quem era seu pai.

Do lado de fora, Pete observava a cena, seu coração se partindo. Ele sabia que era o certo, mas a dor de ver seu filho se reconectar com Vegas enquanto ele se sentia cada vez mais distante o devastava. Era como se ele estivesse perdendo Venice aos poucos.

O restante do dia passou em uma névoa para Pete. Vegas e Venice passaram horas juntos, conversando, rindo, tentando recuperar anos que nunca poderiam ser realmente recuperados. Pete, por outro lado, estava sozinho em seus pensamentos, se perguntando por que Venice conseguia perdoar Vegas tão facilmente, mas não a ele.

Mais tarde, naquela noite, Pete foi ao quarto de Tay. O amigo estava ocupado trabalhando, mas Pete se sentou em silêncio, esperando. Quando Tay finalmente fechou o notebook, Pete se jogou em seus braços, incapaz de segurar as lágrimas.

- Eu estou com tanto medo... medo de perder meu filho - Pete soluçou, suas mãos agarrando a camisa de Tay. - Eu sei que Vegas não vai tirá-lo de mim, mas sinto que, de alguma forma, Venice já está se afastando.

Tay apenas o abraçou mais forte, sem palavras, sabendo que, às vezes, não há consolo suficiente para um coração partido. Ele segurou Pete enquanto ele chorava, sentindo o peso da responsabilidade e do amor que um pai carrega.

Depois Daquele Carnaval - Pete E VegasOnde histórias criam vida. Descubra agora