ESTRANGEIRO

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O avião finalmente tocou o solo, e Venice sentiu o coração bater mais forte. Durante todo o voo, manteve uma calma surpreendente, mas agora que estavam prestes a sair e encontrar Vegas, uma ansiedade crescente começou a dominá-lo. Ele falava inglês com fluência, mas o nervosismo ainda estava lá. Ao seu lado, Macau permanecia em silêncio, absorto em pensamentos.

Quando desembarcaram e foram conduzidos até o carro que os aguardava, Pete pôde perceber um pouco mais do estilo de vida que Macau levava na Tailândia. O carro de luxo dava uma ideia, mas nada o preparou para a visão que se revelou na chegada: uma mansão imponente, cercada por carros de última geração e com um ar de exclusividade palpável. Ao lado dele, Venice ajeitava a camisa, inquieto.

— Está acontecendo algo que eu não saiba? — Pete perguntou, notando a expressão do filho.

— Vegas disse que algumas pessoas estariam aqui — Venice respondeu, hesitante. — Ele chamou de... uma breve apresentação como filho.

Macau, que ouvia tudo, olhou para Pete com as sobrancelhas arqueadas, demonstrando surpresa. Ele também não sabia de nada sobre essa “apresentação”. Mexeu no celular, na esperança de encontrar alguma mensagem de Vegas, mas não havia nada. Ele olhou para si mesmo, um pouco desleixado pela longa viagem, e pensou que um aviso teria sido, no mínimo, educado.

Ao entrarem na mansão, as malas foram levadas imediatamente, quase sem que percebessem. Macau se adiantou, cumprimentando algumas pessoas, enquanto Pete e Venice observaram o ambiente, ainda assimilando a grandiosidade do lugar. Foi quando Pete avistou Vegas ao longe, conversando com algumas pessoas. Assim que os viu, Vegas sorriu e acenou, cumprimentando Macau antes de se aproximar deles. Com um inglês impecável, seguido de tailandês, ele começou a apresentar Venice aos convidados, introduzindo-o com orgulho. Pete, por outro lado, permanecia em silêncio, apenas observando.

O coração de Pete estava em um turbilhão. Ele havia vindo até ali determinado, disposto a tentar uma vida em família com Vegas, caso ele desejasse. Mas quando chegou a vez de ser apresentado, Vegas o olhou de relance, sem muita ênfase, e disse com frieza calculada:

— Este é o pai estrangeiro do meu filho.

Pete sentiu um aperto no peito. Não, ele não havia entendido errado. A expressão "pai estrangeiro" ecoou em sua mente, carregada de distância. Vegas sequer o tocou, sequer olhou nos olhos. Manteve a formalidade, deixando claro que Pete não era mais do que isso. Com um sorriso contido e sem reação, Pete engoliu a frustração e a mágoa. Durante o tempo no Brasil, Vegas fora carinhoso e atencioso, quase como alguém que queria ser uma família. Mas aqui... aqui era diferente. O clima perfeito do Brasil era uma lembrança distante; agora, ele estava de volta à realidade fria e calculista de Vegas.

Foi então que Pete notou um homem se aproximando de Venice, elegante e charmoso, claramente familiarizado com o ambiente e com as pessoas ao redor. Vegas o apresentou a Venice com uma intimidade perturbadora, e só então Pete percebeu o motivo da formalidade: o homem era o noivo de Vegas.

Um nó se formou na garganta de Pete, que se afastou discretamente antes que pudessem trocá-lo por alguma formalidade vazia. Ele observou de longe, vendo Vegas ao lado do noivo, mostrando um lado de si que ele, Pete, havia acreditado que fosse reservado para eles dois. Enquanto os outros conversavam em tailandês, Pete não conseguia entender as palavras, mas os olhares e sorrisos diziam tudo. Ele não pertencia àquele lugar.

A imagem que Vegas havia construído durante o tempo no Brasil era uma ilusão. Pete sentiu uma lágrima solitária escorrer, que limpou rapidamente, disfarçando. A frase ecoava em sua mente: "o estrangeiro pai do meu filho". Vegas havia deixado claro qual era o seu lugar. Ele lembrou-se de uma música brasileira, "me apaixonei pelo que inventei de você". Pete, de fato, se apaixonara pela ideia de Vegas que criou em sua cabeça, não por quem ele realmente era.

Ele queria confrontar Vegas, questionar por que o trouxe até ali, mas ao olhar para Venice, percebeu que o filho estava radiante, completamente encantado pelo luxo e pela atenção ao seu redor. Em nenhum momento Venice pareceu notar a maneira como Vegas o tratava, como se fosse algo natural. Aquilo o atingiu como um golpe silencioso: Venice estava feliz, e talvez já se acostumando com essa realidade.

Desconcertado, Pete pegou o celular e ligou para Macau, que havia sumido para os andares superiores. Poucos minutos depois, Macau apareceu para buscá-lo, notando imediatamente o abatimento no rosto de Pete.

— Está tudo bem, Pete? — perguntou, preocupado.

— Sim, só estou cansado. Venice é jovem, ele nem sente esse tipo de cansaço... mas eu...

— Entendo — Macau respondeu, com um olhar que mostrava simpatia e compreensão. — Considere esta casa como sua também, Pete.

Ao se despedir, Pete entrou no quarto que lhe haviam reservado, afastado dos outros, detalhe que Macau também notara com certo desagrado, embora fosse um ambiente lindo e confortável.

Assim que fechou a porta, Pete deixou toda a máscara cair. Sentou-se na cama, e as lágrimas vieram. Era como se um sonho tivesse se transformado em um pesadelo. Ele realmente acreditara que Vegas o queria, que estavam em um caminho para serem uma família. A saudade que sentiu agora parecia ridícula, unilateral. Vegas nem ao menos o queria por perto. O que tinha acontecido no Brasil? Talvez fosse mesmo como dizem... o que acontece em Vegas, fica em Vegas. Ou melhor, o que aconteceu no Brasil, ficou no Brasil, porque aquele homem ao qual ele entregara o coração não era o mesmo que estava diante dele agora.

Ele respirou fundo, sabendo que precisava engolir a dor e priorizar Venice. O filho estava radiante naquele mundo novo, e ele não podia estragar isso. Mesmo que significasse sacrificar a própria felicidade, Pete aceitou que viveria aquele caos.

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Depois Daquele Carnaval - Pete E VegasOnde histórias criam vida. Descubra agora