ROUBANDO A CENA

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O silêncio no carro era confortável, mas carregado de expectativas. Venice, no banco de trás, olhava pela janela, visivelmente nervoso, enquanto Macau mexia nos dedos, inquieto. Tay, por sua vez, observava tudo com um sorriso malicioso, claramente se divertindo com o nervosismo de Macau.

Quando finalmente chegaram ao local, Tay ficou impressionado com o tamanho e a organização do evento. O espaço era luxuoso, quase opressor em sua grandiosidade. Logo após entrarem, Vegas se juntou a eles, guiando Venice pela exposição com orgulho, mostrando os carros, enquanto o menino observava tudo com uma expressão de puro encantamento. De vez em quando, o tradutor aparecia para auxiliar, sempre que Vegas hesitava com o português.

Tay, sem perder a oportunidade, puxou conversa com Macau: — Venice está adorando — disse ele, com um tom leve. — Seu irmão ainda precisa de um tradutor, mas o seu português é impecável.

Macau deu um sorriso modesto, sem querer parecer convencido: — Desde pequeno eu sabia que iria me casar com alguém brasileiro, então treinei bastante.

Tay levantou uma sobrancelha, interessado. — Ah, então você está na época certa. Aqui estão todos na febre dos doramas coreanos. Você vai arrasar, nem precisa se esforçar.

Macau revirou os olhos, mas respondeu, mantendo a calma: — Eu não sou coreano, Tay. Sou tailandês.

— Ah, para mim é tudo a mesma coisa... olhos puxados e... — Tay fez uma pausa dramática, lançando um olhar malicioso para Macau. — ...pau pequeno.

Macau suspirou, irritado, mas entrou no jogo: — Se você pensa assim, Tay, é porque ainda não conheceu o tailandês certo. Mas tenho que admitir, essa foi pesada até pra você.

Tay sorriu, satisfeito por ter irritado Macau o suficiente, mas sem ultrapassar o limite. No entanto, antes que Macau pudesse continuar, alguém se aproximou e sussurrou algo no ouvido dele. Por um momento, Macau desviou o olhar, preocupado, e logo voltou a encarar Tay, o que não passou despercebido.

— O que aconteceu? — perguntou Tay, atento.

— Como você sabe que aconteceu algo?

— Eu trabalho nas alturas, Macau. Sei identificar problemas à distância.

Macau suspirou, parecendo um pouco constrangido. — A modelo que ia apresentar os carros exclusivos não vai conseguir chegar a tempo. Eu posso fazer a apresentação sozinho, mas...

Tay o interrompeu, cruzando os braços com um sorriso astuto no rosto: — Você precisa de alguém para completar o combo perfeito, né? Dinheiro, carros, e uma pessoa bonita ao lado. Não pode faltar.

Macau ficou visivelmente desconfortável, percebendo que Tay estava certo. — Eu... peço desculpas. Não quis te incomodar.

Tay estreitou os olhos, divertido: — Você deveria ter falado antes, Macau. Eu posso ser seu troféu. Por 50 mil reais.

— 50 mil? — Macau arregalou os olhos, incrédulo.

— Estou sendo generoso. Eu deveria cobrar 100 mil, mas, por você, dou um desconto.

Ainda atordoado, Macau balançou a cabeça, rindo baixinho. — Tudo bem, combinado. Vamos fazer isso.

— Ótimo, vou te passar as orientações. — Tay sacou o celular e mostrou um QR code. — Primeiro, transfere o valor.

Macau tirou o telefone do bolso e, sem hesitar, fez a transferência.

— Agora sou seu troféu. E posso ser exibido como você quiser essa noite — Tay disse com um sorriso travesso, dando de ombros.

Quando entraram juntos no salão principal, Macau estava visivelmente mais relaxado ao lado de Tay. Os dois se entrosavam cada vez mais enquanto caminhavam entre os carros. Tay observava atentamente cada detalhe da exposição, absorvendo a grandiosidade do evento e entendendo finalmente a empolgação de Venice.

— São todos à venda? — Tay perguntou, enquanto passavam por mais uma linha de carros.

— Sim, cada um com suas especificações — respondeu Macau, explicando com naturalidade as características dos modelos.

— Impressionante. — Tay observava tudo com um ar de admiração genuína, sentindo a energia do evento crescer ao redor.

Antes que pudessem notar, um dos organizadores avisou que o evento seria aberto ao público em breve. Tay endireitou-se ao lado de Macau, acostumado aos olhares curiosos que o seguiam. Ele estava no controle, não havia nervosismo. Enquanto Macau falava sobre motores, marchas e potência dos veículos, Tay sorria, lançando olhares encantadores para o público. Ele sabia como atrair atenção, e fazia isso com perfeição.

A transmissão ao vivo capturava cada momento, e Tay, naturalmente carismático, se destacava em meio ao evento. “Carros e futebol: paixões que unem”, dizia o slogan da festa, com imagens dos veículos sendo exibidas nas telas gigantes ao redor.

Em outra parte da cidade, um grupo de médicos assistia à transmissão em uma confraternização. Dois deles estavam de folga antes de viajarem para assumir novos cargos, e o evento se tornara o entretenimento da noite.

— Ei, Tem, olha isso! Por um segundo, achei que era o Tay ali — comentou um dos médicos, apontando para a TV.

Tem, distraído no celular, olhou para a tela e paralisou. Lá estava Tay, ao vivo, sorrindo, envolvido no evento. Ele parecia ainda mais elegante do que Tem se lembrava.

Na tela, o apresentador brincava com Tay, que respondia com leveza, arrancando risadas do público. Quando perguntaram sobre os preços dos carros, Tay fez uma expressão divertida e, em inglês impecável, respondeu: “Desculpe, eu só preciso saber qual cor combina com a minha roupa.” O público riu, e a interação entre Tay, o apresentador e Macau era tão natural que prendia a atenção de todos.

Tem assistia em silêncio, os olhos fixos em Tay, enquanto Time observava Tem, tentando decifrar suas emoções. O silêncio entre eles era quase tão denso quanto a tensão no ar, e os outros médicos na sala perceberam o desconforto de Tem. Ele estava imóvel, olhando para a TV, vendo Tay brilhar em meio à multidão, agora distante em todos os sentidos.

Time cruzou os braços, encarando Tem com um misto de curiosidade e desconforto, sabendo que aquele momento trazia lembranças e sentimentos não resolvidos.

Na tela, Tay sorria para os repórteres, respondendo com seu charme habitual, enquanto Macau o observava de perto, admirando o controle e a elegância com que ele lidava com a atenção que recebia.

Depois Daquele Carnaval - Pete E VegasOnde histórias criam vida. Descubra agora