NOVOS AMIGOS

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Chamar o apartamento que Tay alugou de Airbnb era um erro. Aquilo era muito mais do que um simples aluguel de temporada. O lugar exalava luxo e exclusividade, destinado apenas a um seleto grupo. Localizado em uma área tranquila e altamente protegida, era onde pessoas ricas e influentes buscavam refúgio para temporadas de descanso. O apartamento, pertencente a um dos diretores da companhia onde Tay trabalhava, oferecia tudo o que ele precisava: academia, lojas e um supermercado.

Venice tinha saído com o avô para comprar algo para comer, deixando Pete sozinho com Tay.

- Eu não entendo, Tay... Não entendo essa atitude. - Pete quebrou o silêncio, sua voz carregada de confusão e preocupação.

Tay suspirou, e seus olhos revelaram uma mistura de mágoa e exaustão.

- Nem eu, Pete... Queria acreditar que tudo isso fosse um pesadelo. Passei anos dedicando minha vida a essa relação. Sim, seguir carreira nesse hospital é incrível, mas no fim das contas, é só um emprego.

Pete tentou consolar Tay, sua voz suave e firme.

- Mas, Tay, eles não disseram que não te amam. Não disseram isso.

Tay ergueu o olhar, seus olhos marejados e cheios de uma dor que tentava esconder.

- Eles vão se arrepender, Pete. Eles vão sentir minha falta. Podem até me amar, mas não o suficiente. Eu sonhei em ter um filho com eles, lutei por essa promoção para poder ser um marido presente e um pai de família. Se a minha promoção dependesse de abandonar meus companheiros, eu teria recusado na hora. Teria dito: me rebaixem, então! Mas a vida não é justa, nunca foi... Estou sentindo tanto, Pete. Ainda bem que tenho Venice e você. Tem que haver um propósito nisso tudo... Não posso aceitar que vim ao mundo apenas para ser um gay bonito; eu também quero ser amado.

Pete se aproximou, sua preocupação evidente.

- E como foi o acidente? Tenha cuidado, Tay. Olha aí, todo duro.

Tay tentou sorrir, tentando aliviar o peso do momento.

- Ainda bem que tenho vocês. Pete, você deveria casar comigo, sabia? As pessoas já acham que Venice é meu filho. Seria perfeito.

Pete riu, balançando a cabeça.

- Perfeito e sem graça, né? Como eu iria apagar teu fogo? Seria café com leite todo dia.

- Mas eu gosto de leite. - Tay respondeu, com um sorriso travesso.

- O problema é que eu também gosto. - Pete brincou, o sorriso nos lábios suavizando a tensão. - Agora, deixa eu me situar nessa casa. Venice e o avô podem se perder por aí.

Tay assentiu, mais relaxado.

- Aqui é seguro, Pete. Muito seguro.

Quando Venice voltou, ele estava radiante.

- Vocês demoraram... - Pete comentou, levantando-se devagar.

- Venice foi um prefeito por onde passou. Já fez amizade com alguém. Outro apaixonado por carros e motos. - O avô explicou, rindo.

- Foi mesmo, tio. O rapaz disse que tinha uma máquina incrível e até me mostrou uma foto. Disse que estava na casa dele, mas era longe.

- Sim, acho que ele era estrangeiro. Chinês, talvez? - o avô especulou.

Venice franziu o cenho, pensativo.

- Não sei... Ele era oriental, mas acho que era tailandês. Minha amiga disse que tem diferença. Ela até jura que sou descendente de tailandeses.

Tay sorriu, Pete mudou de assunto:

- Agora é banho e descanso. Seu tio precisa se recuperar.

Antes de sair, Venice abraçou Tay com cuidado, o carinho transbordando em seu gesto.

- Você terminou com os TT? - Venice perguntou, olhando nos olhos de Tay.

Tay assentiu, o tom resignado.

- Sim, nosso ciclo acabou.

O abraço de Venice foi ainda mais carinhoso. Ele amava aquele tio de todo o coração.

Com todos fora do quarto, Tay se viu sozinho com seus pensamentos. O peso do que havia perdido parecia esmagador, mas ele sabia que não suportaria se não fosse por Venice.

Enquanto isso, Pete estava no quarto, esperando Venice sair do banho. Era a semana do aniversário do filho e ele não queria nenhum tipo de confusão.

- Senta aqui, Venice. - Pete pediu, chamando-o para perto.

- Você está quase fazendo 15 anos. Está se tornando um jovem lindo. Daqui a pouco, vou começar a ser chamado de sogro. - Pete brincou, tentando aliviar o momento com humor.

- Pai... - Venice respondeu, envergonhado.

Pete retirou uma caixinha da bolsa e entregou para Venice.

- Esse é o meu presente para você.

Venice abriu a caixa e encontrou uma corrente com a letra "V".

- É um conjunto com a minha. - Pete mostrou a corrente idêntica que usava no pescoço. - Isso é algo muito, muito valioso, Venice. Não apenas pelo dinheiro, mas pelo que significa. Espero que você cuide dele como eu cuidei todos esses anos.

Pete colocou a corrente no pescoço do filho e, ao olhar para ele, foi tomado por uma onda de emoções. Venice era a cópia fiel dele e de Vegas, uma lembrança dos dois. O nome "Venice" não foi escolhido ao acaso; Vegas disse que eles se encontrariam em Venice, e agora, ao olhar para o filho, Pete sentia que aquela promessa se cumprira de uma forma inesperada. Venice era a junção dos dois, uma combinação perfeita das características deles. De certa forma, eles realmente haviam se encontrado em Venice, não como lugar, mas na essência do filho que tinham juntos. O sorriso de Venice, o cabelo preso em um coque bagunçado, tudo nele lembrava Vegas de uma forma quase dolorosa. "Será que Vegas iria gostar do filho?", Pete se perguntou.

- É lindo, pai. Obrigado. Sei que as coisas não estão fáceis entre a gente, mas...

Pete interrompeu, abraçando o filho.

- Você é jovem, Venice. Tem coisas que você ainda não entende, e outras que nem eu entendo. Mas acredite, tudo no universo tem uma razão. Feliz aniversário, meu filho. Você foi o melhor presente que eu já recebi. Nunca duvide disso.

Venice abraçou o pai de volta, e por um momento, o mundo parecia fazer sentido para ambos. Pai e filho, unidos por um laço inquebrável, inclusive em seus gênios fortes.

Depois Daquele Carnaval - Pete E VegasOnde histórias criam vida. Descubra agora