Ato 2, Capítulo 28

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Se Draco precisasse tomar mais uma xícara de chá na companhia de Ivan Krum, ele iria assassinar o homem com uma faca de manteiga.

Draco não estava em seu melhor humor. Aliás, ele não estava com um bom humor há dias e nada tinha a ver com as dores de estômago constantes que o infligiam, normalmente, durante à noite. Dores que, aliás, pareciam ter sido curadas depois do fim do tratamento que Hermione havia lhe dado.

A insônia, no entanto, era uma outra história e não parecia ter qualquer ligação com as dores, como ele havia pensado inicialmente. De alguma forma, conseguia ser um incômodo ainda maior do que a agonia que acometia seu abdômen. Enquanto urrava de dor, Draco não tinha tempo ou forças para pensar em qualquer coisa, agora que as noites de sono haviam magicamente desaparecido de sua rotina diária, ele tinha tempo o suficiente para pensar.

E Draco odiava pensar.

Odiava ainda mais o fato de que não conseguia pensar em outra coisa que não fosse a maldita curandeira.

"Eu odiaria que Vossa Alteza confundisse minhas intenções clínicas com qualquer outra coisa".

Que mulher insuportável e irritante! Sempre orgulhosa, com seu queixo levantado e aqueles malditos olhos castanhos que pareciam estar sempre observando Draco, considerando cada uma de suas falhas.

Céus, como a odiava...

E ainda assim, ele não conseguia esquecer o seu toque.

Sem dúvidas, ele havia feito uma série de escolhas ruins nos últimos tempos. Interagir com a menina pela primeira vez foi apenas uma delas, que levou a uma sequência de erros que Draco não tinha certeza se tinha ou não algum controle sobre.

Por algum tempo, foi divertido pensar que estava apenas se divertindo. Achava graça na maneira como a menina sempre parecia exasperada, perturbada até, quando notava a sua presença. Mas dizer que havia feito tudo o que fez por diversão era um pouco demais, até mesmo para ele.

Ele poderia ter considerado que era apenas diversão se as coisas... bem, tivessem parado por aí. Mas então teve aquele maldito baile em que o maldito Nott a tirou para dançar e Draco foi acometido por uma vontade súbita de esfolar Theo vivo, tirar sua pele e mandar fazer almofadas com ela. E depois disso, Draco foi obrigado a ir atrás da menina e a puxar para uma alcova. Não era culpa dele que ambos estivessem sozinhos em um ambiente vazio e escuro, e que a adrenalina estivesse aflorada pela possibilidade de serem pegos. Uma coisa levou a outra e Draco foi praticamente obrigado pelos próprios instintos a beijar a garota.

E de alguma forma, aquele foi o momento de sua derrocada.

Depois daquilo, a curandeira se espalhou pelo seu corpo como se fosse uma infecção e, de repente, todos os seus pensamentos e seus atos eram voltados em sua direção.

E depois daquela madrugada, em que sua magia se conectou com Draco de alguma forma, como se eles fossem duas partes de um mesmo indivíduo...

Ele sacudiu a cabeça, tentando esquecer a sensação das mãos fantasmas percorrendo de forma obscena cada parte de seu ser. Ele se esforçou para esquecer o toque quente da magia da menina penetrando em sua pele e sua carne, preenchendo-o, aquecendo-o. Sua presença havia tomado conta de seu corpo, tomando-o, reivindicando-o. Um segundo a mais de seu toque e Draco temia que tivesse aberto mão de qualquer coisa em nome dela.

—Você parece distraído, Alteza —A voz estrondosa de Lorde Krum sobressaltou Draco, trazendo-o de volta à realidade.

—Perdoe-me, senhor. Eu acabei me distraindo.

—Tem andado bastante distraído ultimamente. —O homem notou, embora não parecesse dar muita atenção ao Príncipe.

Draco puxou a lapela de seu paletó, pigarreou e ajeitou sua postura em sua poltrona. Estavam em reunião já há algumas horas. Dessa vez, Ivan Krum havia pedido para reler o contrato oferecido pela coroa antes de tomar uma decisão definitiva. Aparentemente, seus pensamentos haviam ido um pouco longe demais enquanto o homem fazia o que deveria ser a milésima leitura do contrato.

Domínio e AscensãoOnde histórias criam vida. Descubra agora