Capítulo 5

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Enquanto a carruagem avançava pelas ruas da cidade, Hermione evitava pensar no que estava prestes a fazer.

No dia anterior, fora fácil concordar com o pedido da Princesa Luna para se juntar a ela para um café, mas, quanto mais pensava a respeito, mais a curandeira pensava que nada daquilo era uma boa ideia.

Magia era tudo, Hermione lembrou a si mesma puxando a saia do vestido azul em um movimento nervoso. Em um país governado por uma família de longa linhagem de feiticeiros, sangue e magia eram tudo. Ela não podia fazer nada com relação à sua origem, porém fora abençoada com a segunda. Embora torcessem o nariz com relação à pureza de seu sangue, ninguém poderia negar suas habilidades.

Certamente, a princesa parecia uma boa pessoa. Diferentemente do restante das pessoas para quem Hermione havia se apresentado durante a apresentação ao palácio, ela não havia dado uma desculpa para se afastar ao descobrir que Hermione era apenas uma pessoa comum, que nascera longe da nobreza e sem qualquer ligação com uma das importantes famílias mágicas do país.

Porém, Hermione havia conhecido pessoas o bastante para saber que nem sempre elas costumavam dizer o que pensam. E, para sua infelicidade, havia conhecido nobres o suficiente para saber que todos achavam a mesma coisa sobre feiticeiros com sua origem.

Sem valor.

Desperdício de magia.

Corrupção de sangue mágico.

As palavras martelaram em sua cabeça, como um eco. Lembranças de uma época em que Hermione acreditava em um mundo melhor, em um país em que haveria lugar para todos, até mesmo para pessoas como ela. Até mesmo para alguém cuja origem é tão humilde, sem importância.

Não era mais aquela garota, no entanto. Havia enterrado sua ingenuidade e sua inocência no solo sagrado e estéril de suas memórias e não voltaria para colocar flores em seu túmulo.

Agora, pensou puxando novamente a saia do vestido, sem perceber os movimentos frenéticos, era uma curandeira da Casa, morava na Capital e tinha um plano, que seguiria à risca até alcançar seus objetivos.

Ela não era indefesa, nem fraca.

No final, ela sobreviveria. Ela faria qualquer coisa para garantir isso.

Estava tão concentrada em seus pensamentos que não notou quando a carruagem simples, preta e sem qualquer brasão, parou. A batida na porta a tirou de seus devaneios, fazendo-a dar um pulo em seu lugar. Pirraça abriu a porta de repente, com um solavanco. Ele também não estendeu a mão para ajudá-la a descer, mas Hermione não se importou.

A confeitaria indicada pela Princesa ficava a poucos metros de onde a carruagem havia parado. Hermione sorriu para o cocheiro, pedindo que ele deixasse a carruagem ali. Antes de avançar para as grandes portas duplas de madeira branca adornadas com janelinhas de vidro, Hermione lançou uma única moeda de prata para o rapaz, que a pegou enquanto ainda girava no ar.

—Eu vou demorar um pouco. Por que não dá uma volta e não acha algo com que se divertir enquanto me espera?!

O cocheiro ergueu as sobrancelhas, surpreso e, antes que ele pudesse agradecer, a menina já havia se colocado em movimento, andando rapidamente pela calçada de pedra lisa.

A confeitaria, pouco mais de um quarteirão da carruagem estacionada, parecia um daqueles estabelecimentos que era gerenciado por geração após geração de uma mesma família. Ou, pelo menos, essa foi a impressão que Hermione teve ao entrar na lojinha pequena e apertada e ver a única garçonete do local, ouvindo o pedido de um cliente e limpando outra mesa ao mesmo tempo, que não parecia ter mais do que quinze anos.

Domínio e AscensãoOnde histórias criam vida. Descubra agora