Capítulo 8

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De alguma forma, Hermione sentia como se tivesse oito anos outra vez. Se fechasse os olhos, ela praticamente podia sentir a brisa de outono em seu rosto, varrendo seu cabelo e suas vestes. Quase podia sentir o cheiro de bolinhos de canela e melado que Lilian havia enfiado em uma cesta de piquenique. Quase sentia a grama pinicar a palma de suas mãos enquanto ela e os pais de Harry se sentavam em uma grande toalha estendida no gramado e assistiam ao treino do menino, que voava através das torres da velha escola abandonada em sua cidade natal.

Só que agora não estavam naquela pequena cidadezinha do interior onde Harry e Hermione haviam crescido. Não assistiam a um treino informal de crianças usando uma vassoura pela primeira vez. Não havia bolinhos de canela e melado, nem uma toalha sobre a grama.

A brisa tranquila havia sido substituída pelos gritos dos torcedores eufóricos conforme os jogadores entravam em campo e sobrevoavam a platéia pela primeira vez. Os bolinhos deram lugar à taças de bebidas borbulhantes. E a tranquilidade havia dado espaço para a angústia e nervosismo.

Hermione sentia como se os olhos de cada pessoa naquele estádio estivessem sobre ela. Na verdade, ela sabia que os olhos de cada pessoa nos camarotes, incluindo o da família real, estavam sobre ela. Ela engoliu em seco, dando um passo para o lado tentando se aproximar de Lílian Potter.

—Está se sentindo bem, querida? —A mãe de Harry perguntou, lançando um olhar preocupado para a curandeira.

—Estou ótima! —Hermione tentou sorrir. —Um pouco nervosa por Harry apenas.

—Ah, nem me fale. Eu praticamente não dormi a noite toda —Lilian confessou. Os olhos verdes encontrando o filho no ar em um segundo.

—E, por consequência, eu também não dormi —Tiago revirou os olhos, porém um sorriso de canto surgiu em seu rosto. Lilian bufou, dando um tapinha leve no braço do marido.

—Então o ronco que eu ouvi a noite toda só pode ter vindo do bicho-papão em nosso armário —Lilian piscou um olho na direção de Hermione e a menina reprimiu uma risada.

Havia algo muito tranquilizador e familiar na provocação do casal. Hermione os adorava.

—Vocês chegaram hoje? —Ela perguntou vendo os capitães de cada time descer no centro do campo.

—Sim. Chegamos logo após o almoço e voltamos no mesmo horário, amanhã. —A mulher explicou sem tirar os olhos dos jogadores.

Hermione quase perguntou porque voltariam para casa, no interior, tão cedo, mas mordeu a língua antes que as palavras deixassem sua boca.

Não precisava ser muito esperta para saber porque o casal não parecia muito confortável na Capital. Enquanto Hermione recebia olhares de curiosidade e interesse, o casal Potter recebia olhares de acusação e julgamento, mesmo sem pisar na cidade há mais de vinte anos.

Hermione estava prestes a dizer que sentia muito por eles terem que partir tão cedo, quando duas figuras apareceram ao seu lado. A curandeira virou-se em direção à elas e se surpreendeu ao encarar dois pares de olhos azuis bastante conhecidos.

—Senhorita Granger? —O rapaz a chamou primeiro, brindando-a com um grande sorriso contente. —Não sei se se lembra de mim, mas você me curou algum tempo atrás. Um corte na cabeça causado por...

—Quadribol! —Hermione se lembrou, sorrindo. —Lorde Weasley, é bom vê-lo novamente. —Hermione falou, fazendo uma mesura. Ela se virou para a outra figura, vendo a irmã do rapaz a observar com olhos arregalados de reconhecimento. —Lady Ginevra. Eu deveria imaginar que nos veríamos por aqui.

Domínio e AscensãoOnde histórias criam vida. Descubra agora