Meu Tormento

Capítulo 29

Yoko e Lux se aproximaram da entrada do baile. A música estava alta e parecia estar realmente com muita gente.
Yoko havia levado um tecido fino para enrolar no pescoço e no rosto durante o caminho, deixando à vista somente os olhos.
Pararam na entrada, um pouco longe de onde os seguranças da festa estavam, e Baki já os esperava num carro.

-Yoko... estamos com tudo à postos. –Baki disse. –Como prefere fazer? Quer que eu fale com a polícia já, ou...?

-Não. Me dê uma hora, Baki. –Yoko pediu. –Me deixe uma hora lá dentro, e exatamente na hora marcada, chame a polícia e meu advogado.

-Tudo bem. –O homem trocou um olhar com Lux.

-O que pretende, Yoko? –Lux perguntou com a testa franzida.

-Antes eu quero observar o ambiente. –Ela respondeu, enigmática, sem tirar o pano que cobria seu rosto e seus cabelos. –Você verá, não se preocupe.

-Então está pronta para entrar?

-Mais do que pronta. –Yoko enlaçou a mão na dela e fez um aceno de cabeça para Baki, que retribuiu.

Deram suas entradas aos seguranças, e entraram no baile. Algumas pessoas olhavam para o lenço que cobria o rosto de Yoko, mas não diziam nada.
Assim que pisaram lá dentro, Lux fez uma leve pressão na mão da morena, e ela encarou as pessoas uma à uma.

-Vamos sentar? –Lux murmurou, hesitante.

Yoko assentiu, e pegaram uma mesa vazia. A morena sentou-se na frente da amiga, e viu que Lux a encarava.

-O que foi?

-Seus olhos... –Ela disse, fascinada. –São maravilhosos. Mesmo numa situação séria como essa você consegue me distrair com essas coisas.

Yoko deu um pequeno sorriso, desviando o olhar. Não queria que Lux falasse de seus olhos daquela forma, porque quem costumava fazer aquilo, era Faye.
Uma música de Zouk começou a tocar, e vários casais se juntaram na espaçosa pista.
Yoko deu um sorriso irônico. A última vez que vira Faye, antes do acidente, ela tentava ensiná-la a dançar Zouk. Ela era um desastre naquela época, mas enquanto estivera morando fora, como outra pessoa, entrara para um rápido curso de dança de salão, somente porque tinha muito tempo livre e aquilo parecia fazer-lhe muito bem. Não se deu conta na época, por ainda estar com falta de memória parcial, mas só agora via que quisera aprender dança de salão porque involuntariamente fazia-a lembrar de Faye.

-Vou pegar algo para beber. –Yoko levantou-se, incapaz de ficar ali sentada mais tempo. –Quer que eu traga algo?

-O que você for tomar. –Lux pediu.

Yoko assentiu, ajeitando o pano sobre o nariz e saindo. Observou a pista de dança... agora os casais estavam em roda, e faziam troca de damas.
Não percebeu que estava caminhando sobre a pista, e surpreendeu-se quando alguém esbarrou em suas costas.

-Desculpe. –Disse uma voz arrepiante e rouca. –Parece que você vai ter que ser minha parceira, já que roubaram a que estava comigo.

Yoko engoliu em seco e olhou para trás. Faye a encarava. Seus olhos estavam enrugados de diversão, e estava um pouco ofegante, deveria estar dançando minutos antes. Mas quando olhou nos olhos dela, ela ficou séria e pareceu ligeiramente intrigado.

-N-Não... eu não... –Ela tentou protestar.

-Não sabe dançar? Não se preocupe, é só seguir meus comandos... é fácil.

Yoko sentia a garganta travada. Pensou que agüentaria vê-la de novo, que seria forte, mas tê-lo novamente perto de si não deixava que fizesse nada. Parecia lhe travar os músculos.

-Eu realmente não...

-Venha. –Faye insistiu, puxando-a. –Se você estava na pista, é porque tem algum interesse de dançar, certo? –Sorriu de lado.

Ela colou o corpo pequeno de Yoko ao dela, mas a morena estava rígida em seus braços.

-Relaxe. –Ela pediu, começando a fazer um movimento para frente, batendo o quadril levemente no dela.

Yoko sentiu que começava a suar. Não encarava-a nos olhos.

-Está tremendo. –Ela observou. –Como se chama?

-Arpatsara. –Yoko forçou-se a responder, sua voz abafada pelo pano.

Faye pareceu pensativo um momento.

-Arpatsara. Prazer, sou Faye. Porquê está com o rosto escondido?

-Porque preciso. –Yoko murmurou.

Ela não insistiu, por hora, e começou a tentar fazê-la rebolar colada à ela. Yoko respirou fundo... sabia que estava dura feito uma estátua nos braços dela. Mas afinal, ela não a reconhecera... para quê ficar nervosa daquele jeito? Ao menos aproveitaria a dança, como se estivesse dançando com qualquer outra mulher.
Começou a relaxar, levando o próprio quadril de encontro ao de Faye. Ela notou a mudança dela e pareceu um pouco surpresa.
Rodopiou-a uma vez e a fez voltar a chocar-se com seu corpo. Yoko fechou os olhos para poder aproveitar melhor a dança.
Sentia a mão quente de Faye em sua cintura como se fosse um pedaço de brasa, deixando-a corada. Ela desceu a mão para o quadril, rodopiando-a somente com um empurrão leve ali, e voltando a encaixar as pernas nas dela.
Yoko encostou a intimidade na coxa dela, e não sabia se era impressão, mas pôde ouvi-la resfolegar em seu ouvido.
Começou a rebolar lentamente na coxa dela, provocante como uma serpente... fazendo-a sentir o leve calor que tinha entre as pernas.

Faye a pegou pelo pescoço e começou a fazer um movimento que deixava Yoko mole em seus braços, girando o tronco e encostando os seios no peito dela.
A morena agradeceu por ter o pano bem preso ao rosto. Ela a fez serpentear contra ela, e Yoko fez um sexy movimento de ondulação com o corpo, encostando lentamente os seios no corpo duro.

-Você me enganou... –Ela murmurou, ofegante, em seu ouvido.

-Sobre o quê? –Yoko sussurrou, dançando contra ela sem abrir os olhos.

-Sabe dançar muito melhor que eu.

Ela deu um sorriso, que Faye só pôde notar pelas pequenas ruguinhas que se formaram nos olhos dela.

A morena girou-a de costas para ela e deu apoio para que Yoko descesse de costas até o chão e voltasse. Ela voltou de serpente, ondulando-se e encostando as nádegas de propósito em Faye.
O que sentiu ali fez ser a vez de Yoko resfolegar. Excitada.
Para sua surpresa, ela segurou-a pelos quadris ali. Yoko abriu os olhos, e Faye colou o peito largo em suas costas, deixando-os unidos como uma só pessoa, enquanto fazia alguns movimentos leves para frente.

-Você dança... incrivelmente... bem. –Ela sussurrou.

Yoko não evitou rir de leve, surpresa com a sensação de alegria que inundou seu peito. Uma sensação de vida que a preencheu de repente, fazendo-a sentir-se completa como não sentia há meses. Fazendo-a rir de verdade.

-Você também. –Ela fez outro movimento para trás, provocando-a intencionalmente.

-Hum. –Ela gemeu sem querer. –Você é atrevida, Arpatsara. Eu gosto disso.

Yoko virou de frente para ela, sem contar que seu rosto estivesse tão perto. O sorriso dela foi desvanecendo ao encará-lo à centímetros. Sentia o hálito quente dela em seu rosto, e se não fosse o tecido separando-os, estaria quase beijando-a.
Os olhos dela a olhavam diretamente nos olhos. Ela tinha o cenho franzido, e Yoko desejou fazer algo para despreocupá-la e fazer sua testa desfranzir.

-O que foi? –Murmurou olhando para a boca dela.

-Você... –Ela disse, parecendo de repente surpresa e doída. –Você me lembra alguém...

Yoko ergueu os olhos, apavorada.

-Eu?

-Sim... –Ela a observou atentamente, querendo ver seus olhos, mas Yoko os tinha baixado para disfarçar. –Posso tirar isto do seu rosto? –Foi quase uma ordem, que fez os pêlos de Yoko arrepiarem. Sentiu a mão dela sair de sua cintura e tocar o tecido que cobria sua identidade. Yoko parou de respirar.

Afastou-se, num ímpeto, assim que sentiu as mãos dela delicadamente emseu rosto.

-Preciso ir. –Murmurou, saindo às pressas da pista de dança, sem voltar a olharpara trás.

Quase tropeçou alguns metros à diante, de tão desnorteada que estava devido àproximidade e toque de Faye. Sentia o coração bombeando com tanta força, quedoía, devido à adrenalina de ter sido quase descoberta, literalmente.
Apanhou um copo numa das mesas de banquete que ficavam à frente da pista,mergulhou-o no ponche e bebeu rapidamente. Respirou fundo, observando o líquidoavermelhado no copo. Virou o rosto para trás e, por cima do ombro, finalmenteviu o que menos queria... e o que esperara até agora.

Faye estava no exato lugar onde Yoko a deixara. Mas já não estava sozinho. Atomestava à sua frente, de costas para Yoko, gesticulando. Pela expressão dela,estavam discutindo, pois Faye parecia quase entediada enquanto murmuravapalavras baixas para ela.

Yoko bebeu o último gole de seu ponche, os olhos fixos na irmã. Depositou ocopo vazio em qualquer lugar e refez seu caminho para a mesa onde Lux aesperava, daquela vez tomando o cuidado para passar bem longe daquela lado dapista.