Capítulo 20

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Ouviu vozes que pareciam distantes. Murmúrios. Sua cabeça começou a girar como se fosse um redemoinho quando tentou abrir os olhos, e desistiu.
As vozes foram ficando mais fortes. Havia um zumbido em sua cabeça, que a fazia enjoar.
Percebeu que manter os olhos fechados era pior. Com muito esforço, abriu as pálpebras. A luz fez com que voltasse a cerrar os olhos com força, para tentar abri-los novamente.

Aos poucos as cores se focalizaram. O enjoo piorou, e teve que respirar fundo para não vomitar.
Odiava vomitar.

-Ela está acordando, graças a Deus! –Alguém disse, e pareceu alto demais aos seus ouvidos naquela momento.

Ouve um pequeno alvoroço no pequeno lugar, e ela tentou erguer-se.

-Não! Está muito pálida e fraca, fique deitada. –Outra voz murmurou, empurrando-a delicadamente.

Focalizou o rosto da pessoa mais próxima. Era uma mulher mais velha. A mulher lhe sorriu:

-Bem-vinda de volta... Yoko.

-Onde eu estou? –Sussurrou roucamente.

-Está a salvo. –A mulher respondeu, arrumando o travesseiro em que a moça estava apoiada. –Não se lembra do que aconteceu?

-Não. –Yoko respondeu confusamente, desejando fechar novamente os olhos para dormir.

-Será melhor que durma mais um pouco. –A mulher lhe confortou, e ela sentiu a cabeça cada vez mais pesada. Queria lembrar, saber o que estava fazendo ali, mas sua mente fraca não permitia. –Quando acordar, conversamos.

Yoko não ouviu mais nada, adormecendo profundamente como se estivesse sedada.


--*

A resposta do médico foi o que Chet esperava: Faye estava em estado de choque.
Tiveram que chamar uma ambulância para levá-la discretamente ao hospital. Era impossível acreditar que sua nora, uma mulher feita, segura de si e forte, estava agora daquela jeito.

Faye não era exatamente uma figura frágil no momento em que entrou no Hospital. Mesmo doente, sua figura era dominante e desprovida de emoções.
A única coisa que indicava seu estado era o fato de não estar dizendo uma só palavra, e seus olhos estarem fixos em um nada.

Não havia nada que Chet pudesse fazer ali. O médico, conhecido da família, disse que faria uma bateria de exames e depois sedaria Faye para que descansasse até o dia seguinte.
Chet se despediu e foi para o outro Hospital, em que Atom estava.

-O que ela lhe disse? Ela explicou aquela foto, Chet? –Foi a primeira coisa que Phiangfa perguntou ao ver o marido.

-O que há para explicar, Phiangfa? –Chet suspirou, cansado. –Faye e Yoko estavam juntas, isso ficou bem claro.

-Mas... como... –Ela gaguejou. –Isso não poderia estar acontecendo! Ela sempre namorou com Atom, isso é...

-Elas terminaram, pelo que eu saiba. Faye e Yoko eram livres.

-Você está defendendo essa situação? –Phiangfa disse incrédula.

-Não estou defendendo nada. Só estou dizendo que Faye não estava mais com Atom há algum tempo, então nada a impedia de se envolver com outras pessoas.

-Mas com Yoko, Chet! Por Deus, as duas eram irmãs... –Phiangfa engoliu em seco ao dizer eram. –Atom vai ficar devastada.

-Não é o momento para falarmos sobre isso. –Chet a cortou. –Eu sequer tive tempo de conversar com Faye. Ela está mal, tive que deixá-la no hospital, Phiangfa.

-Hospital? –A expressão da mulher suavizou. –O que aconteceu?

-Aparentemente ela entrou em estado de choque. –Chet colocou as mãos nos bolsos, deprimido. –Quando eu fui vê-la para esclarecer as coisas, ela estava esquisita. Parecia entorpecida. Não falava, estava transpirando, com o olhar perdido, parecia uma morta-vivo. Estou preocupado, mas o médico disse que esse estado só dura alguns dias.

-Meu Deus.

Ouviram um pequeno apito do lado de dentro do quarto de Atom. Ela estava chamando.

-Você entra. –Chet acenou. –Eu vou tomar um café e ficar um pouco aqui.

Phiangfa entrou no quarto. Chet dirigiu-se ao banco mais próximo e sentou-se, pensando em Yoko e sentindo o peito apertado.

Era incrível como em apenas um dia a vida de todas as pessoas próximas virara de cabeça para baixo. Inclusive a dela.

--*

Meu TormentoOnde histórias criam vida. Descubra agora