O dia foi tumultuado. Helicópteros e mais helicópteros sobrevoando todos os mínimos detalhes de água. Parecia que o Papa havia sofrido o acidente, era notícia em todos os canais, inclusive internacionalmente.
Cinco da tarde acharam, finalmente, o helicóptero. Já estava no fundo do Atlântico, a frente toda destroçada e enterrada na areia. Mas não acharam o corpo de Yoko.
Chet e Faye eram os mais afetados naquilo tudo. Phiangfa, apesar de disfarçar bem as emoções, também estava mal. Se revezava em ir ficar com a filha no hospital, ou ir dar apoio ao marido.Quando a notícia de que o corpo de Yoko não estava dentro do helicóptero se espalhou, as emoções pioraram. Metade das pessoas que acompanhavam as notícias entraram em desespero, e a outra metade insistiu que aquilo era um bom sinal, que ela poderia estar viva.
Chet não sabia se ficava aliviado, ou não. Observou Faye, que falava rapidamente no celular. Ela passara o dia inteiro assim, pálida, telafonando e trocando mensagens com os pilotos para saber se haviam visto qualquer coisa no mar.
Quando ela desligou e se aproximou, Chet deu um sorriso cansado:
-Filha, você precisa comer alguma coisa. Parece que vai desmaiar. Todos nós estamos mal, preocupados, mas você cair desmaiada não vai ajudar na busca.
-Não consigo passar nada por aqui, Chet. –Faye apontou a garganta. –Mas você também não está diferente de mim. Está branco. Tudo bem? –Aproximou-se e colocou a mão no ombro do homem mais velho.
-Nada vai estar bem enquanto eu não achar minha filha. –Balançou a cabeça. Os olhos estavam vermelhos de emoção contida. –Yoko é minha vida, Faye. Ontem à noite eu falei com ela no telafone... ela me ligou e não parecia muito bem... se eu soubesse que seria a última vez que falaria com ela. –Se calou.
Faye franziu o cenho. Yoko ligara e não parecia bem... seria por causa da briga que tiveram?
Seu peito afundou e sentiu-se culpada. Na verdade, surpreendeu-se por conseguir sentir algo. Sentia-se oca por dentro. A ideia de que poderia perder sua Yoko...
-Não pense nisso, Chet. –Disse com voz dura. –Não foi a última vez. Não acharam o corpo. Ela ainda está viva, eu sei disso.
-Você parece tentar convencer à si mesmo, e não a mim. –Chet comentou, e com outro sorriso triste, se afastou.
~*Para desespero de todos, a noite chegou. Aquilo era como uma sentença de morte. Não podiam continuar as buscas à noite, teriam que interromper e recomeçar no dia seguinte. Mas sobreviver uma noite inteira em alto-mar era quase impossível.
-Quer dizer que passaram o dia inteiro sobrevoando o mar e não acharam nada? –Faye dizia em voz alta aos comandantes da busca. –Que classe de incompetentes vocês são? Eu estou pagando por minuto para vocês revirarem cada centímetro até acharem alguma pista sobre o paradeiro da minha... –Ela olhou rapidamente para Chet. -..minha cunhada.
-Nós fizemos isto, senhora Malisorn. –Um deles disse, sem jeito. –Mas não encontramos nada! Se a senhorita estiver viva, o mar provavelmente a arrastou para longe... e bom, nesta região há tubarões...
-Você não está sendo pago para dar sua opinião. –Faye o cortou friamente. –E sim para localizá-la. Eu posso pagar o dobro, mas quero que pelo menos três helicópteros continuem a busca durante toda a noite. Usem lanternas, alto-falantes, tudo o que for preciso.
-Mas senhor... a noite é complicado, fica impossível de se ver alguma coisa. Podemos recomeçar amanhã cedo...
-Amanhã pode ser tarde. –Faye disse entredentes, furiosa. –Eu já disse: três helicópteros no mínimo. Vão!
Os comandantes se entreolharam. Seria inútil, elas sabiam. Mas se saíssem da busca, certamente Malisorn contrataria outros para fazerem o serviço, então de nada adiantaria se recusassem.
Quando se afastaram, Chet e Phiangfa se aproximaram.-Muito obrigado pelo que está fazendo, Faye. –Chet agradeceu, sincero. –Se não fosse por você...
-Não se preocupe com isso. –Faye abanou a mão, nervosa.
-Atom está tão mau, pobrezinha. –Phiangfa disse, chorosa. –Está se culpando.
-Ela não tem que se culpar. Foi um acidente. –Faye soltou o ar, impaciente. –Meu Deus, ficar aqui sem poder fazer nada é frustrante.
Phiangfa ficou observando a nora. Ela parecia... em desespero. E não se dava bem com Yoko. Era estranho. Mas de qualquer forma estava agradecida por ela estar fazendo tanto.
-Mas não há nada para fazermos, a não ser esperar. –Chet respondeu, também nervoso. –Deus queira que encontrem minha filha.
A noite se arrastou. Parecia que o desespero alargava os minutos. Cada segundo parecia uma hora para Faye. Três da manhã, sentiu que não aguentava mais. Pediu para um dos helicópteros voltarem à praia para apanhá-lo. Chet também foi junto, e Phiangfa decidiu voltar para o Hospital.
Ficaram das três, até o amanhecer, sobrevoando as águas. Faye gritando o nome de Yoko pelo alto-falante, fazendo sua voz ecoar no silêncio da madrugada.
E nada.
Sete da manhã, voltaram à praia. Faye e Chet estavam fracos por tanta pressão, e por estarem sem comer nada. Mal saíram do helicóptero, quando um dos comandantes se aproximou, com a expressão culpada. Ela segurava algo.
-Nós achamos isto há vários metros do local do acidente. –Ele murmurou, estendendo para que Faye pegasse. Era um chapéu branco. Faye já havia visto Yoko usar algumas vezes. Ela sentiu o estômago contrair ao ver uma mancha de sangue ali.
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Meu Tormento
Hayran KurguUma estrela... Yoko era uma das pessoas mais famosas no momento. Invejada por centenas de mulheres, seguida por milhões de jovens, e desejada por todos os homens. Sua vida eram os holofotes, o glamour e a fama. Seus olhos, tão extraordinários, estav...