Capítulo 27

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Yoko acordou no meio da madrugada, molhada de suor. Mas aquilo já se tornara comum. Não tinha uma boa noite de sono, sem pesadelos, desde o acidente.
Foi até a cozinha tomar água, e para sua surpresa, Lux estava acordada.

-Olá. –Ela disse, largando uns papéis que lia e se pondo a observá-la.

Ela colocou uma mexa morena atrás da orelha, bocejando, enquanto abria a pequena geladeira e pegando a jarra.

-Olá... o que faz acordada essa hora?

-Insônia. –Ela deu de ombros. –Não esperava te ver acordada até amanhã.

-Eu não consigo dormir noites inteiras, sempre acordo no meio da noite com pesadelos. –Ela admitiu, sentando-se perto dela e tomando um gole de água. –Podemos conversar agora?

-Se quiser. –Lux debruçou-se na mesa. Olhou-a por alguns segundos. –Mas antes... vai me dizer o que aconteceu, para você estar tão estranha. Desde que você apareceu naquela porta de desembarque, eu notei que tinha algo de errado, mas não quis insistir na frente da minha mãe. Aconteceu alguma coisa para você ter mudado. Você estava tão animada no telafone, antes da viagem!

Yoko suspirou, olhando para as unhas e mordendo o lábio.

-Tem algo que eu não quis contar por telafone...

-O que é?

-Minha memória se recuperou enquanto eu estava na Inglaterra. –Yoko engoliu em seco. –Todas as peças que estavam em branco, voltaram para o lugar. Não que tenha me ajudado em algo contra minha irmã... sobre o acidente, eu já lembrava de tudo. Mas...

-Você têm alguém. –Lux deduziu, endireitando-se na cadeira com tranquilidade. –É isso?

Yoko afirmou com a cabeça, desanimada.

-Bom... eu tinha. Antes do acidente.

-O que te impede de voltar a tê-la? –Lux ficou confusa. –Você é uma vítima, Yoko. Acha que ela pode não entender o fato de você ter tido que se esconder por esse tempo?

Com um suspiro, a morena começou a contar a amiga toda a história dela e de Faye... até chegar na parte da foto que vira mais cedo.

-Bom. Isso não vai durar. –Lux disse ao final, com um suspiro. –O que acha que ela vai sentir quando souber que a namoradinha de tantos anos, que se faz de santa, na verdade é uma maníaca assassina?

-Eu não sei. E sinceramente, não me importa a reação dela. –Yoko passou a mão pelo rosto. –Eu sei que ela ainda não sabe de tudo o que aconteceu, mas eu estou me sentindo...

-Traída. –Ela completou. –Eu entendo.

-Mas não quero falar disso. –Yoko mudou o assunto. –O que me diz das provas, Lux? Pra quando você acha que vamos ter tudo pronto?

-Ainda não sei. Mas não vai demorar. –Ela respondeu, satisfeita. –Pode acreditar na nossa sorte, e no azar da sua irmãzinha, por termos conseguido achar uma parte do pára-quedas que ela usou? Não sei se vai ser possível detectar as digitais, meu primo está trabalhando nisso, com uns amigos detetives e policiais. Mas apesar disso, já temos o principal: a testemunha. Um dos amiguinhos de Atom, que ajudou a preparar o acidente, parece que não é tão amiguinho assim. –Sorriu, irônica. –Ele aceitou o dinheiro que você me enviou, semanas atrás, em troca de ser a testemunha à nosso favor e contra Atom, contando tudo o que sabe. Está no papo, Yoko. Sua irmã está ferrada. Confiou nas pessoas erradas para fazerem o trabalho sujo para ela.

-Estou com medo. E se esse homem der para trás e não testemunhar?

-Ele não vai dar para trás. A quantia é demais para uma recusa, no caso dele. –Lux esticou o braço e pegou a mão pequena de Yoko. –Se acalme, vai dar tudo certo. A justiça nunca falha, por mais que demore. E nós temos muito ao nosso favor. Quem deveria estar com medo neste momento, é sua irmã.

-Aonde vai, querida? –Déa perguntou na manhã seguinte, vendo Yoko ajeitar cuidadosamente a peruca na frente do mini espelho do banheiro, vestida para sair.

-Vou com Lux até a cidade. Vou falar com os amigos do primo dela, que estão cuidando do meu caso... quero saber de tudo o que é possível saber, inclusive da minha situação perante a lei, quando tudo acontecer.

-Não é arriscado você ficar perambulando pela cidade assim, Yoko? –A mulher perguntou em dúvida.

-Ela vai estar comigo, mãe. –Lux apareceu no quarto. –Não se preocupe. Pronta, Yoko?

Yoko colocou o chapéu sobre a peruca, os óculos e apanhou a pequena bolsa com os documentos falsos.

-Sim, vamos. Até mais tarde, Déa. –Beijou a senhora no rosto e saiu com o mulher.

Yoko achou os detetives que estavam cuidando do caso muito discretos e atenciosos. Realmente estavam do seu lado.
O primo de Lux, Baki, também era boa pessoa. Yoko lhe agradeceu por estar fazendo tudo aquilo por ela.

-Você é uma pessoa importante para Lux. E se é algo importante para ela, é para mim também. –Ela respondeu com um leve sorriso.

-Obrigada.

-Agora, o que precisamos, é um bom advogado. –Baki juntou as mãos. –Apesar de você ter sido vítima de tentativa de homicídio, quando tudo vier à tona, você vai ser julgada por falsidade ideológica e por ter fingido estar morta por tantos meses, Yoko.

-Eu posso ser presa, não é? –Ela suspirou.

Meu TormentoOnde histórias criam vida. Descubra agora