Yoko dormiu como uma pedra naquela noite. Acordou dez da manhã, com os músculos mais relaxados, e mais cor no rosto.
Vestiu-se e desceu para tomar seu café. A mãe e o pai já estavam na cozinha.
-Bom dia, meu amor. –Chet sorriu, esticando o braço para dar um abraço na filha.
-Espero que esteja contente, Yoko. –Phiangfa comentou com amargura. -Me fez ficar envergonhada ontem a noite, e estragou a felicidade da sua irmã. Sabe, a Faye não merece aguentar esse tipo de coisa.
-Phiangfa, não comece. Yoko acabou de chegar em casa. –Chet repreendeu.
-Se a pobre Faye não merece, ela que vá procurar a turma dela. Assim ninguém ficará incômodo. –Yoko respondeu, amável, sentando-se ao lado do pai.
-Yoko, porquê tem que ter um caráter tão difícil? –Phiangfa resmungou. –Desde pequena com seu mau gênio... é tão diferente de Atom! Se fosse meiga como ela...
-Não me compare com Atom! –Yoko disse rispidamente.
Pressentindo mais uma briga entre mãe e filha, Chet pigarreou e mudou de assunto.
-Filha, já viu a reportagem que saiu sobre sua turnê?Ela estendeu o jornal, e Yoko o pegou, tentando ficar calma. Passou os olhos pela manchete.
Havia uma foto sua, tirada no show do dia anterior, onde ela mandava um beijo para o público.
Logo abaixo, uma matéria comentando sobre o sucesso da turnê.
"Yoko encerra sua turnê no Chile, com sucesso, e volta para descansar em Bangkok, na casa dos pais."
O celular de Yoko começou a tocar. Mordiscando um pedaço de torrada, ela enfiou a mão no bolso da calça.
-Alô.
-Diva!!! –Era a voz estridente de Susi. –Preciso de você aqui na minha casa agora! Tenho novidades.
-Mas agora, Susi?
-É, urgente. Venha dirigindo com seu carro. Te espero, morena, byeee.
Com um sorriso divertido, Yoko levantou da mesa.
-Tenho coisas para resolver. Meu carro está na garagem? –Perguntou ao pai, que assentiu.
-Mas você ainda não comeu nada, menina. –Phiangfa uivou. –Se desmaiar por aí, não pense que eu vou sair da minha casa para ir lhe socorrer... peça aos seus amiguinhos.
-Não se preocupe, mãe. –Yoko sorriu, irônica. –Caso eu desmaie, não vou chamar por você. Beijos, pai, até mais tarde – Soprou um beijo ao homem, e saiu rapidamente.
Susi tagarelava, enquanto voltava para a sala segurando duas xícaras de café. Yoko estava sentada no sofá do amigo, pensativa.
-E eu subi no rinoceronte, e ela saiu galopando.. Até que eu vi um homem maravilhoso que me pediu em casamento, e agora eu sou uma mona casada. –Susi concluiu, vendo que a morena não prestava a mínima atenção.
-Uhum. –Ela disse, assentindo e pegando seu café fumegante. –Quê?
-Diva, hello. –Susi estalou os dedos. –Em que mundo você está?
-Ai, desculpa, Susi. –Yoko se desculpou. –É que eu estou meio distraída desde ontem... perdão, pode falar que agora eu presto atenção.
-Rum. –Susi empinou o nariz. –Bom, então vamos direto ao assunto... te chamei aqui para acertarmos tudo sobre a sessão fotográfica dessa semana.
-Que sessão? –Ela perguntou confusa, tomando um gole de café.
-Minha deusa, acorda. A sessão para a marca So Cool, lembra? Te chamaram para ser a garota propaganda das roupas?
-Ah. –Ela assentiu. –Lembrei.
-Tadinha, acho que o excesso de shows está fazendo mal para seus neurônios. –Susi a beijou na testa, e Yoko riu relaxada.
-Não seja idiota. Bem, qual o primeiro dia das fotos?
-Amanhã. E no final da semana você têm o desfile da Fashion Week Bangkok.
-Isso eu sei. –Ela deu um sorrisinho.Decidiram ir almoçar fora para continuarem conversando sobre a sessão de fotos. Yoko foi de óculos-escuros... o restaurante era de um amigo delas, por isso sempre que Susi e Yoko iam comer ali, ficavam afastados, numa mesa individual. Podiam comer tranquilos pois ninguém os reconhecia.
Quando terminaram, saíram conversando animados. Como Yoko não podia andar muito livremente sem ser reconhecida, foram direto para o apartamento de Susi. Estavam atravessando a rua, quando Yoko ouviu uma buzina.
-Yoko, cuidado! –Susi gritou.
Yoko congelou, e um segundo depois afastou-se para trás num ímpeto. O carro brecou violentamente. Por incrível sorte, não tocou em Yoko, mas ela tremia de susto.
Todos na calçada pararam para ver, e Susi logo veio correndo, aflito.
-My Good, você está bem?
A porta do carro se abriu. Era um carro esporte negro, com vidro fumê.
E então Yoko ficou mais congelada do que já estava: era Faye Peraya Malisorn que estava vindo em sua direção.
-Yoko! –Ela gritou, violenta. –Pelo amor de Deus, quer se matar?!-Faye?
-Vocês se conhecem? –Susi arregalou os olhos. Yoko fez que sim.
-Por acaso sempre passa na rua sem olhar?! –Faye a olhava furiosa. –O carro quase bateu em você.
-Eu sei, mas.. Eu olhei e não tinha carros... –Ela passou a língua pelos lábios. –Você apareceu de repente.
Yoko estava tremendo, e Susi passou a mão pelos ombros da amiga. Faye então olhou para ela com desprezo.
-Quer que eu a leve para casa, querida? –Susi murmurou. Yoko ia assentindo, mas Faye foi dizendo rudemente:
-Eu a levo.
Yoko estava abalada demais para negar qualquer coisa, e permitiu que Faye a levasse pelo braço. Tinha sorte de tudo ter acontecido rapidamente, e ninguém na rua ter reconhecido-a, ou seria pior.
-Te ligo mais tarde, Susi. –Conseguiu dizer por cima do ombro. Susi a olhava meio preocupado, mas assentiu, gritando em resposta:
-Mais tarde eu levo seu carro de volta!Faye colocou Yoko na frente, amarrou-lhe o cinto e fechou a porta com um baque. Depois sentou na direção e ligou o carro.
O coração dela estava acelarado, e estava com frio.
-Você ainda está tremendo. –Faye a olhou. –Está bem?
-Eu me assustei. –Ela respondeu, sem olhá-la. Passou as mãos pelos braços, nervosa.
-Que demônios, Yoko, se o carro tivesse encostado em você... você iria passar semanas num Hospital. Têm os ossos muito frágeis. Eu poderia ter lhe matado! –Ela disse batendo a mão no volante, e fazendo ela dar um pulo.
-Faye, já chega! Estou bastante assustada e me dando conta disso sem a sua ajuda, não precisa fazer tudo ficar pior!
Ela a olhou pelo canto do olho, tentando se controlar.
-O que diabos fazia andando naquela rua?
-Não que lhe interesse... –Ela suspirou. -Mas meu assistente pessoal mora lá, e é um dos meus melhores amigos. Fui almoçar com ele.
-Então aquele que estava com você é seu assistente?
Yoko não entendeu aquele interesse ridículo de Faye, e só assentiu. Um pouco mais calma, ela conduziu até a casa de Yoko.
-Têm certeza de que está bem? –Ela perguntou, rude, quando estacionou na frente da casa. Virou-se para a morena e passou as mãos pelos braços dela, como se quisesse inspecionar os ossos.
-Faye, estou bem! Foi só um susto. –Yoko se afastou dela, um pouco irritada. –Obrigada por ter me trazido aqui, mesmo que não fosse necessário.-Bem. –Ela parecia estar se controlando, tinha as mandíbulas apertadas. –Então diga a Atom que a estou esperando aqui.
-Ah, então você estava vindo pra cá antes de quase me atropelar? –Yoko riu com ironia. –Que conveniente.
-Yoko, eu posso tentar ser gentil com você na frente dos seus pais, para não criar constrangimentos, mas você está me deixando no limite dos nervos. –Ela a agarrou com rudeza. –Está agindo pior do que quando era adolescente, parece que está mais birrenta e mimada do que nunca! Eu não tenho jeito de babá, e tampouco tenho paciência com crianças como você. Manere sua língua, se não quiser sofrer as consequências.
Atrevida, Yoko jogou uma mexa castanha para trás.. o cabelo tinha ido para frente com o agarrão súbito de Faye, e elas se encaravam com ódio, os narizes quase encostando.
-E que consequências seriam? Você pode fazer a minha irmã de boneca, como sempre fez, mas comigo não é assim. Não tenho medo de você, Faye.
-Nunca teve, não é? –Ela apertou os braços dela, e estavam doendo, mas Yoko não movia um músculo sequer do rosto para demonstrar a dor. –Pois acho bom começar a me temer, Yoko. Agora saia do carro e chame sua irmã.
Ela a soltou de forma brusca e voltou a ligar o carro. Yoko tirou os cabelos da frente, seus olhos castanho-avermelhados parecendo cor de vinho, agora que estava furiosa. Saiu do carro batendo a porta com força.
Entrou em casa enraivecida, e Atom vinha descendo as escadas, toda arrumada.
-Seu anjo protetor está aí fora. –Yoko comunicou, passando pela irmã sem olhá-la.
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Meu Tormento
FanficUma estrela... Yoko era uma das pessoas mais famosas no momento. Invejada por centenas de mulheres, seguida por milhões de jovens, e desejada por todos os homens. Sua vida eram os holofotes, o glamour e a fama. Seus olhos, tão extraordinários, estav...