Meu Tormento

Capítulo 30

-Por quê? Porque... está fazendo isso comigo, Faye? –Atom sussurrou, confusa.

-Atom, não comece. –Ela disse entredentes. –Não é um drama. Eu avisei desde o início. Eu disse que as coisas jamais seriam iguais, mas você insistiu nisso. Não se pode voltar ao passado.

-Há! –Ela riu, desdenhosa. Faye permaneceu fria. –Olha quem está falando que não se pode voltar no tempo... você, Faye. Acha mesmo que eu não percebo como sua vida ainda é presa à de Yoko? –Ela fechou a cara. –Você simplesmente não aceita sua morte. É como se você continuasse vivendo, fingindo que nada aconteceu, até que possa reencontrá-la. Mas isso não vai acontecer. –Separou as sílabas com maldade.

-Você... –Ela a agarrou pelo braço com repentina brutalidade, encarando-a de perto. Depois respirou fundo, acalmando-se. –Não entende nada, Atom. Não fale do que não sabe.

-Faye, por favor. –Ela choramingou. –Não faça isso. Eu preciso de você.

-Você precisa aceitar, de uma vez por todas, que eu não quero você, Atom.

Ela recuou, como se ela a tivesse batido.

-Sinto muito. –Faye pareceu um pouco constrangida, mas não alterou sua expressão. –Quero que seja feliz. Mas eu não sou a pessoa certa para isso. Fique bem. –Afagou levemente os cabelos loiros da mulher, e se retirou.

Atom permaneceu ali, tremendo. Sentiu as cápsulas queimando em sua pequena e elagante bolsa... cápsulas que comprara para Faye.
Abrindo apenas uma, e despejando o pozinho na bebida dela, seria o bastante para fazê-la ficar fora de si.
Não... não fora naquela festa para ser humilhada daquela maneira. Conseguiria Faye, do jeito que planejara, e teria que fazer isto logo.

À medida que a uma hora combinada se passava, e a festa, por mais incrível que parecesse, enchia-se mais de gente, Lux ficava mais pressurosa, e Yoko, ansiosa.

-Lux. –Chamou, engolindo em seco. Ela a olhou. –Acho que está na hora.

Ela olhou no relógio de pulso.

-Está quase na hora, mesmo. Mas... não quer esperar mais um pouco?

-Não, se eu esperar um minuto mais, vou vomitar aqui. –Yoko impacientou-se. –Vou aproveitar a deixa da banda. –Indicou com a cabeça a banda que tocava bossa-nova no palco que ficava em frente à todas as mesas.

-Ok, vamos. –Lux levantou-se.

-Lux. Acho melhor eu fazer isto sozinha. –Yoko disse, segurando seu braço. –Não quero que você pareça mais envolvida nisto que o necessário. Fique na porta, preparado para me passar qualquer sinal, se algo der errado, pode fazer isto por mim?

-Mas Yoko...

Ela olhou-a de modo significante por um minuto, e por fim ela deu-se por vencida, suspirando.

-Estarei na porta. Mas não vou tirar os olhos de você. Vou estar do lado de dentro.

-Obrigada. –Yoko esperou que a amiga lhe virasse as costas, para suspirar alto e morder o lábio, desviando a vista para o palco, e se colocando a caminhar até lá.

Cada passo que dava, parecia fazer seu coração bater com mais violência. E em vez do palco lhe parecer mais perto, parecia mais longe. Era como se estivesse caminhando sobre uma esteira, não chegando para frente como queria.
Olhou para os lados, tentando avistar Faye ou Atom, mas não os viu. Não tinha importância... conseguiria a atenção delas, assim que pisasse naquela palco.
A banda terminava sua última música... Yoko acercou-se, como uma pequena tigresa em busca de comida. Silenciosa... misteriosa... letal.
Ao final, todos bateram palmas energéticas. Ao ouvir os sons, Yoko percebeu que ali havia realmente muita gente. Mas não seria aquilo à fazê-la acovardar. Nada a faria voltar atrás agora.
Soltou o ar pela boca, enquanto esticava os dedos das mãos. Pareciam congelados. Subiu pela escadinha lateral e subiu no palco, finalmente.
As palmas continuavam... provavelmente todos achava que ela era a próxima cantora da festa, ou que faria algum tipo de apresentação com aquela lenço no rosto.
Os homens da banda a olharam interrogativamente, se perguntando se não haviam sido informados de uma mudança de planos ali no show.

-Não se preocupem, eu estou encarregada agora. Podem deixar comigo. –Ela murmurou para eles, calma.

Elas se entreolharam e saíram lentamente. Yoko pegou o microfone e bateu levemente em cima, testando o som.

-Boa noite.

Houveram algumas respostas de volta. Ainda haviam pessoas na pista de dança, outras nas mesas de banquete.

-Eu não vou cantar para vocês esta noite, ou dançar, ou fazer nenhum tipo de espetáculo assim. Bom, há alguns meses atrás eu poderia fazer. Mas hoje o espetáculo vai ser um pouco diferente. –Disse. –Eu gostaria de ter a atenção especial da madrinha deste baile e sua acompanhante. Onde estão elas? Faye Peraya Malisorn e Atom Apasra. –Sua voz estremeceu um pouco ao dizer seu próprio sobrenome, mas controlou-se e deu um esgar frio, passando os olhos pelas pessoas calmamente, enquanto todos também olhavam para os lados.