Meu Tormento

Capítulo 28

E assim mais dias se passaram. 

Yoko não agüentava mais ter que manter-se escondida, sonhava todas as noites com seu verdadeiro retorno, quando pudesse abraçar o pai, encarar Faye nos olhos e ver de perto a justiça sendo feita com Atom.

Naquela madrugada, Yoko estava encostada na pequena janela do quarto, tomando um copo d'água enquanto observava o mar, ouvindo o som tranqüilizante das ondas. Sabia que seus dias de calmaria não durariam muito mais tempo, e logo sua vida daria um giro de cento e oitenta graus.
Seus olhos começaram a arder, e foi até a mesinha ao lado da cama, depositando o copo vazio e deitando-se na cama.
Parecia que tinha deitado há cinco minutos, quando alguém começou a chacoalhá-la.
Yoko resmungou em voz alta, pois estava sonhando com Faye. Estava tocando-o no sonho, quase podia sentir seu cheiro e sua pela quente... Era como se nada do que houvera nos últimos meses tivesse acontecido. Não queria acordar. Precisa continuar dormindo nem que fosse por mais alguns minutos, tinha que se segurar ao máximo ali para manter a ilusão de Faye ao seu lado. A ilusão e os sonhos com ela eram a única coisa que Yoko tinha para poder se apegar.

-Yoko... acorde, Yoko. –Era a voz extasiada de Lux.

A morena sentiu o peito em brasas, vazio, quando por fim foi se dando conta de que estava acordando, e perdendo a visão de Faye em sua cabeça.

-Yoko!

Rendendo-se, ela abriu os olhos, sentando-se na cama com expressão vazia. Observou a janela do quarto e notou que já amanhecera.

-O que aconteceu? –Perguntou ao ver a expressão ansiosa e feliz de Lux.

-Finalmente seu tormento vai terminar. –Ela informou, séria. –Temos tudo o que precisamos... inclusive a data do show. –Lux deu um sorriso maliciosa e ergueu um jornal para que ela pudesse ver.

Yoko coçou os olhos e leu a notícia que ela apontava. Estava dizendo que na noite do dia seguinte haveria um baile na cidade, onde Faye Peraya Malisorn seria madrinha.

-Hum? –Yoko ergueu os olhos, sem entender. –Não entendi seu ponto, Lux.

-Yoko, não me ouviu? Eu disse que finalmente temos tudo em mãos. Tudo mesmo. –Ela frisou, e Yoko aos poucos começou a 'acordar'. –A perícia encontrou um fio de cabelo de Atom no pedaço do pára-quedas, assim como o sangue... a testemunha aceitou contar tudo à polícia o quanto antes... e contratamos um advogado em sua defesa. E sobre a reportagem... amanhã Faye vai estar nesse baile, assim como metade da cidade. Com certeza Atom vai estar também.

Yoko sacudiu a cabeça, incrédula.

-Isso tudo quer dizer que... amanhã...?

-Amanhã é a hora da verdade. –Lux garantiu. -Amanhã é o dia da sua aparição pública. A oportunidade perfeita.

-Mas... –Yoko gaguejou, nervosa. –Como vamos fazer?

-A coisa toda é o seguinte: eu e você vamos aparecer nessa festa à meia-noite, quando a coisa toda estiver cheia de gente. Meu primo vai estar lá fora com os amigos dele que cuidaram do caso, com as evidências das provas em mãos, e vai chamar a polícia quando for a hora certa. Quando a polícia chegar, Baki vai ligar para seu advogado aparecer também.

Yoko ficou alguns segundos quieta, imagens ilusórias passando por sua cabeça à velocidade da luz, à medida que imaginava como seria a noite seguinte.

-Vamos arrebentar. –Ela disse em seguida, um pequeno sorriso aparecendo nos lábios.

Lux riu, dando-lhe um abraço forte.

-Vou estar com você amanhã. –Sussurrou em seu ouvido.

-Não, que coisa horrorosa! –Atom se queixou, quando a mãe entrou em seu quarto com dois vestidos no braço. Um era roxo e o outro era verde-musgo.

-Filha, são os únicos vestidos de gala que eu tenho e que cabem em você. –A mulher disse, de cara feia.

-O que está acontecendo? –Chet colocou a cabeça para dentro e entrou no quarto, tomando um gole do café fumegante que segurava.

-Sua filha está numa crise por causa deste bendito baile de amanhã à noite. –Phiangfa resmungou, aparentemente não muito animada com a tal festa. -Não quer usar nenhum vestido que tem no armário, e acha os meus horríveis.

-Papai, não pode me emprestar um dinheiro para que eu compre algo hoje à tarde? É realmente importante. Faye vai ser a madrinha amanhã, e eu como sua acompanhante devo usar algo aceitável.

-Você sabe como as coisas andam difíceis, Atom. –Chet tomou mais um gole. -Você pode muito bem usar um dos vestidos que já tem, e que usou no máximo duas vezes na vida. Eu mesmo vou usar um smoking velho que usei na formatura de faculdade de Yoko.

-Tenho certeza que se fosse ela pedindo, o senhor não negaria. –Atom destilou.

O pai a encarou com frieza.