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maria point of view
av fagner antunes

— curtiu o show?
— nossa, curti demais – falo colocando o cinto de segurança, enquanto ele dava partida — queria ter pique pra ficar até o final, mas infelizmente sou uma jovem senhora.
— 'sepá que eu 'tô ficando velho também – diz e ri — ainda bem que essa semana 'vamo pegar folga.
— engraçado que você reclama de cansaço, mas até quando não é pra trampar, você trampa – falo me referindo ao show surpresa de hoje — aí não dá pra entender.
— pior que é verdade – ri, concentrado no volante — mas foi chave, mano, nunca vou me recusar a fazer isso, curto pra 'carai.
— eu imagino – sorri largamente — nem te contei né, aquela amiga de vocês, a larissa, mora no meu condomínio.
— é nada!
— juro – ri — coincidência né.

nossa, muita – diz com certo sarcasmo — não é bem amiga não, mas 'tá suave.
— pensei que fosse – dei de ombros — gostei dela, é gente boa.
— uhum – sorri fraco — mas aí, quer passar em algum lugar pra comer?
— segunda vez na semana comendo fast-food – fiz careta — eu passo, nem posso ficar comendo porcaria. mas, se você quiser parar lá em casa, eu faço um macarrão dos bons pra gente.
— 'carai, quer dizer então que 'cê desenrola na cozinha? – diz impressionado — essa eu não imaginava...
— é o que dizem né – ri — convidei até o g.a pra ir lá, ele disse que gostava de parmegiana e modéstia parte, é o que eu mais mando bem.
— não convida ele não, ele vai comer até as panela – diz e eu ri — mas já que 'cê ofereceu, eu aceito então.
— então bora lá!

ele perguntou se precisaríamos passar no mercado 24h e eu disse que não. fiz compras essa semana então tinha tudo lá em casa. passamos o resto do caminho em um silêncio confortável. ele era realmente mais quieto que eu, mas quando eu puxava assunto, ele parecia falar um pouco mais. assim que chegamos, achei que precisaria fazer o check-in do carro dele na portaria, já que na minha cabeça, era a primeira vez dele entrando lá. mas não foi preciso, e eu nem questionei, ele pode conhecer alguém que mora aqui, né? normal. depois de tudo certinho, ele estacionou e subimos o elevador até meu andar. entramos em casa tentando não fazer muito barulho no hall, pra não incomodar os vizinhos, já que já estava bem tarde.

— bem vindo a minha caverninha.
— nossa, que apê 'daora – diz enquanto eu terminava de ligar as luzes — deve ser 'mó chave morar sozinha.
— eu gosto muito – falo indo pra cozinha que era dividida com a sala por um balcão. ele senta em uma das banquetas, enquanto me observava — você ainda mora com a sua mãe?
— por enquanto sim. eu tenho um apê também, mas nem fico lá – diz e eu assinto, pegando os ingredientes — ela é 'mó grude comigo, aí fico receoso de deixar ela sozinha assim...
— filho único?
— uhum.
— por isso o apego – ri — mas ela provavelmente sabe que você quer se mudar, ter seu canto sozinho, no começo vai sentir saudade mas depois acostuma.
— deve que é.
— mas então, 'cê prefere molho vermelho ou branco?
— qualquer um – deu de ombros — qual você prefere?
— branco.
— então pode ser.

comecei a preparar a macarronada, enquanto a água fervia, aproveitei pra ligar a tv e colocar uma música qualquer pra tocar, só pra não ficar totalmente silencioso. ora ou outra eu virava pra ele e ou ele estava me encarando, ou estava mexendo no celular super concentrado. depois de preparar o molho, joguei os camarões dentro e em seguida o macarrão, deixando finalmente pronto. a mesa costumava a ficar posta já, me poupava esforço, já que a iara costumava vir aqui na semana almoçar. levei a panela até a mesa e chamei ele pra sentar, o garoto não pensou duas vezes.

— 'tá com fome?
— com fome? eu 'tô 'numa larica que 'cê nem imagina – confessa e eu ri, me sentando também e servindo os pratos — ó, 'tá com uma cara boa.
— experimenta aí. eu 'tô meio balançada ainda, vai que coloquei sal demais.
— 'tá bom pra caralho! – diz depois da primeira garfada, me fazendo rir com a sincera reação dele — 'carai, que negócio gostoso.
— eu me garanto né – me gabei e ele riu — que bom que 'cê gostou!
— tem nem como não gostar – diz — que dia você marcou com o g.a 'memo?
— vamos combinar direitinho depois, mas essa semana, talvez depois de amanhã quando eu voltar da faculdade – digo e ele assente, quase que devorando a comida — pensei em chamar o resto dos meninos também.
— nossa, quer essa cambada toda na sua casa? – pergunta e eu ri — meu pesadelo é quando eles vão na minha, comem de tudo, e minha mãe acha graça ainda.
— você não entende, é legal receber visita – dei de ombros — quando tiver morando no seu apê 'cê vai ver.
— duvido que vou receber alguém lá – diz e eu ri — quero é paz.
— imagino.

continuamos comendo, mas dessa vez em silêncio. o único barulho que se escutava era da televisão ligada, tocando alguma música aleatória da tape do leozin. o efeito do álcool estava passando quase que completamente. eu sentia a mesa vibrar a todo momento, com notificação do celular do ghard. era até engraçado, parecia que a todo segundo procuravam por ele de alguma forma. isso me fez lembrar da cena de hoje mais cedo, da garota parando ele e dizendo que queria conversar. tinha algum problema nisso? nenhum, nem é da minha conta, mas de qualquer forma isso me marcou e eu nem sei porque. ele era mesmo disputado assim pelas meninas?

— 'tá pensando em que? – pergunta de repente — 'cê vive no mundo da lua né.
— isso é um grande fato sobre mim – ri — come mais! não gosto que sobre comida.
— 'carai, 'cê é igualzinha minha mãe – ele diz colocando mais macarrão no prato e eu ri alto — ela fala a 'mema fita.
— ela deve ser muito legal então – ri — 'cê vai voltar pra boate?
— vou nada, já acabou o show lá – diz — devo ir pra casa ou algum after, 'tô vendo ainda.
— hum, entendi – sorri fraco — a iara me mandou mensagem, disse que vai dormir no thiago hoje de novo.
— ele casou com ela legal – fala enquanto comia — meu amigo é muito romântico 'memo, não tem jeito.
— né? – ri dando uma garfada do meu prato — e olha que a iara nem tem muita paciência pra esse tipo de coisa.
— eu também não – ele confessa — os moleque nunca me viu casar em festa.
— isso explica seu estereótipo de cafajeste.
— talvez.

ele diz e nós rimos. levantei da mesa com meu prato e também levei o dele, que já tinha acabado. passei uma água nas coisas rapidamente e coloquei dentro da máquina de lavar louças. essa máquina era tudo, fazia o serviço completo. voltei pra mesa de jantar e ele falava no telefone, então não quis atrapalhar, só terminei o que tinha que fazer e me sentei novamente no lugar de antes.

[...]

𝐋𝐈𝐁𝐄𝐑𝐓𝐈𝐍𝐀, 𝗀𝗁𝖺𝗋𝖽.Onde histórias criam vida. Descubra agora