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maria point of view
arena show sampa

já fazia um tempinho que estávamos ali, a casa de show estava previamente lotada e o cantor entraria em pouco tempo. se eu dissesse que não 'tava me divertindo horrores com esses meninos, eu estaria mentindo. g.a e eu trocamos um papo super cabeça hoje mais cedo, ele me contou das vivências dele e de como cresceu no mundo do trap. quase não acreditei quando ele disse que rimava no vagão pra conseguir grana. e de pensar que ele foi uma revelação e tanto nesse meio, quando estourou seu primeiro álbum de lovesong. loucura, mas era muito legal. eu vi os olhinhos dele brilharem a cada palavra que ele falava quando o assunto era trampo e fama.

— 'tá perdida, parceira?
— nada, 'tava pensando só – respondo ghard, que se aproxima rindo — e essa carinha de chapado? seu olho 'tá menor que o normal.
— pra conseguir curtir o show 'direitin – piscou — eu já ia te oferecer de novo, tinha esquecido que 'cê não curte.
— pois é – ri — vai acabar me dando outra carona hoje de novo?
— 'pô, não seria uma ideia ruim – diz, grudando na grade ao meu lado — quem sabe 'cê não me dá essa moral de novo.
— para de bobeira – ri — foi um favor.
— 'carai, 'cê não me deixa jogar meu charme, cortou minha brisa legal agora – diz cruzando os braços, foi aí que eu ri mesmo — 'tô zoando, não 'tô dando em cima de você não.
— não consigo acreditar nisso – falo e ele ri, desviando o olhar pro chão, 'numa tentativa de flerte — 'tá vendo aí? isso é coisa de quem quer flertar.
— e talvez seja – confessa — 'tô afim 'memo de te levar pra casa hoje, será que tem como?
— eu...
— ô ghard, seu cabeçudo – shandin chega falando, ou melhor, gritando, antes que eu pudesse continuar — o thiago 'tá te chamando lá no camarim do boa.
— agora, irmão? – ele pergunta incrédulo — beleza, já 'tô indo.
— 'pdp, demora não! – shandin diz e sai, nos deixando "a sós" de novo.
— pode ir lá – falo rindo e ele faz careta — depois a gente conversa.
— é 'rapidão, já volto aí.
— 'tá bom.

digo por fim e vejo ele sair andando, em direção a saída do camarote. muito obrigada por atrapalhar meu flerte com ele shandin, muito obrigada! e a minha amiga pelo visto viu tudo, porquê me encarava querendo rir. fiz careta e caminhei até ela, que estava provavelmente no seu terceiro drink da noite.

— shandin empatou sua foda, né?
— 'cê viu? – pergunto frustrada e ela assente rindo — mas é isso, fazer o que.
— da em nada, na volta ele te beija – diz e pisca, me fazendo rir — ri não, bobona! 'tô falando sério, maior química.
— você exagera muito – ri — e falando em química, cadê seu namoradinho?
— nem sei viu, amiga – fez cara de tédio — se ele 'tiver me fazendo de otaria, eu vou embora com outro e ele não vai ver nem minha poeira mais.
— calma, iara! – ri — ele 'deve estar ocupado.
— ocupada vou ficar eu já já – diz irritada — você sabe como eu sou, não tenho paciência. gosto de atenção e se eu tiver que implorar, eu sumo logo!
— depois fica se perguntando do porquê ninguém te atura, insuportável desse jeito.
— você me atura, e isso já basta – mandou beijo, me fazendo rir — você que é muito 'boazinha, menina doce, coração mole...
— pra sua informação, isso era antes – atravessei sua fala — agora sou uma nova pessoa, parei com isso de ser besta.
— vou finjir que acredito.

iara não estava errada, eu ainda era realmente uma besta do coração mole. mas é isso né, não perco nada por ter o coração bom. eu ia continuar nossa pequena discussão, mas fui interrompida por veigh, que começou a falar no microfone da balada. não entendi nada e iara muito menos, mas saímos de onde estávamos e colamos o corpo na grade, onde dava a visão completa pro palco. veigh ia abrir o show do boaventura. e não só ele, porque ghard, koda e g.a também estavam lá.

— boa noite são paulo! 'vamo começar essa porra em grande estilo? – thiago perguntava pelo microfone, sendo seguido por gritos histéricos do público presente lá — então cantem comigo, ela me engana dizendo que...

a música começou a tocar e ele automaticamente a cantar. o pessoal estava mesmo empolgado e era lindo de se ver. mas, pra mim, o que realmente chamava atenção era o ghard, que fazia as dobras e os adlibis da música. ele era bom nisso e sabia, porque sua confiança era nítida. era engraçado que, às meninas da plateia gritavam mais pra ele do que para o próprio veigh, e ele parecia adorar isso, porque sorria e tocava na mão de praticanente todas elas.

— as meninas babam ele demais, 'cê 'tá vendo isso? – iara comenta e eu ri, as vezes acho que ela lê minha mente — e ele adora pelo visto!
— nem posso julgar – fiz careta — eu também 'tô babando por ele.
— ai, maria julia! não me estressa não – diz e eu ri — ele é bonito mas não é deus, você tem é que desprezar!
— você é muito sem coração, sabia?
— sabia, e eu adoro – rimos — mas sem brincadeira, acho muito engraçado isso, parece que elas 'tão vendo o cara mais bonito do universo no palco.
— uai, feio ele não é – dei de ombros — e outra que isso deve ser um personagem dele, sei lá.
— é, deve ser – diz bebendo do seu copo — mas já parou pra pensar no tanto de menina que da em cima dele e do thiago?
— e você liga pra isso?
— eu não, irrelevante pra mim – da de ombros — mas o ego deve ficar lá em cima.
— realmente...

continuamos curtindo o show, dessa vez falando menos. tocou umas músicas que eu conhecia e aproveitei pra cantar. em algum momentos, vi ele me encarar e mandar alguns sorrisinhos, como se tivesse prestando atenção em mim. eu não sei se era o efeito do álcool mas, ele 'tava realmente muito bonito. depois de umas músicas tocadas, os três sumiram do palco, dessa vez vindo o artista que realmente estava programado pra cantar lá. eu nunca tinha escutado, não conhecia nada, mas ver ele no palco me surpreendeu positivamente, ele tinha letras boas, contagiantes e a voz estranhamente parecida com a do thiago. chegava até a ser engraçado.

𝐋𝐈𝐁𝐄𝐑𝐓𝐈𝐍𝐀, 𝗀𝗁𝖺𝗋𝖽.Onde histórias criam vida. Descubra agora