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maria point of view
condomínio campo belo

— esse dia foi 'amais!
— nessa época, 'nóis ainda nem sabia que ia estourar – koda diz — doideira né.
— né? e hoje em dia, tu é o mais estourado – shandin brinca e eu ri, entendendo o sentido — bem estourado inclusive.
— ó o papo dos cara...
— se fuder, shandin! – koda responde puto e a galera ri — 'tá me estranhando?
— parei, parei.
— 'pô, depois dessa comidinha gostosa – veigh diz, alisando a barriga por cima da camisa — só a sobremesa que o ghard trouxe mesmo né.
— não posso discordar – foi a vez de g.a e eu ri — quer que eu vá lá buscar?
— sai fora, confio nunca! deixa que eu vou – ghard diz já se levantando da mesa com a chave do carro em mãos — bora lá comigo, maju.
— bora!

terminei de colocar as louças na pia pra lavar mais tarde e acompanhei ele, que saiu andando na frente, saiu do apartamento e caminhou até entrar no elevador. assim que eu entrei também, ri de nervoso e ele percebeu, achando graça da minha reação e rindo também.

— 'tá nervosa, é?
— não, é que 'tava tudo muito quieto, aí me deu vontade de rir.
— 'cê é maluca – ele ri, encostando o corpo no espelho do elevador e me puxando pra mais perto — então esse cheiro é seu...
— que cheiro? – ri — de comida e suor?
— quem disse que tu 'tá com cheiro de comida e suor? – me deu um beijo no pescoço, me fazendo arrepiar — não, mano, seu cheiro mesmo. eu senti na rua esses dias e fiquei tentando lembrar de quem era.
— cheiro do meu perfume?
— cheiro da sua pele, sei lá – coloca uma mecha do meu cabelo atrás da orelha — quer dizer então que 'cê vai viajar com 'nóis?
— nem vou – fiz careta — não posso. mas o gabriel não pode saber disso, se não, ele vai fazer o maior drama da vida dele. aí 'tô tentando enrolar.
— 'cê devia ir, mano.
— você jura? – pergunto sorrindo, toda boba — acha mesmo?
— aham.
— beleza, talvez eu vá então – ri e ele também, me dando um selinho.

a porta do elevador abriu direto no estacionamento, então saímos e ele caminhou até o carro dele que estava em algum lugar que eu não sabia ainda, então fiquei parada apoiada em uma das pilastras ali, enquanto o garoto caminhou e sumiu da minha vista por uns segundos, até voltar com uma embalagem bem bonita nas mãos.

— 'tá com um cheiro bom.
— não estraga ter ficado esse tempo sem pôr na geladeira, né? – pergunta assim que entramos no elevador novamente — ou estraga?
— não, foram só umas duas horas – falo e ele assente — não precisava!
— relaxa 'carai, foi nada.
— então 'tá – sorri — mas ghard...
— o que?
— muito obrigada!
— pelo que?
— por ter vindo – falo e ele me encara, como se estranhasse o que eu tinha acabado de falar — eu achei que você não viria, porque a gente ficou e...
— nossa, 'cê fala muito.

antes que eu pudesse responder, ele usa a mão livre pra me puxar pela cintura, me deixando mais perto e me beijando. eu sorri com o ato, era gostoso demais estar com ele, não sei explicar, eu gostava do beijo mas gostava mais ainda da presença. o jeito misterioso e quieto como ele lidava com as coisas me intrigava, mas não de uma maneira ruim. eu só tinha vontade de conhecer mais e mais sobre a pessoa dele, saber dos seus segredos, do que ele realmente gostava, e tudo que ele guardava pra si de forma minuciosamente secreta e bem feita.

— a gente ter ficado não estraga as coisas – diz depois de me dar um selinho pra finalizar o beijo — só melhora, na real.
— isso significa que vamos continuar ficando?
— não sei – da de ombros — você quer?
— quero.
— então sim ué – me sela novamente e eu sorri largamente — nada muda, maria julia.
— maria julia? – ri — como você sabe meu nome?
— eu sei de tudo.
— e eu não sei o seu – falo e a porta do elevador se abre — pode me dizer ou é segredo de 'trapper?
— é nada – ri andando na frente — é gustavo.
— faz sentido.
— mas posso te pedir um bagulho? – pergunta e eu assinto, me preparando pra abrir a porta do apê — me chama assim não, eu não curto muito.
— pode deixar.

sorri sem mostrar os dentes e ele pisca pra mim, entrando dentro de casa e eu em seguida. eu achei que o pessoal estaria sentado na mesa na maior gritaria, mas não, estavam na cozinha, cada um fazendo uma coisa. eu não contive a risada quando vi a iara sentada no balcão de mármore, enquanto veigh varria, g.a lavava as louças, koda secava e shandin limpava o fogão.

— e é pra limpar direito – iara ordenava — se fizer com preguiça é pior.
— o que 'tá acontecendo nessa casa? – digo, não contendo a risada.
— ainda bem que você chegou, maju – g.a diz — sua amiga 'tá escravizando 'nois, viado.
— papo reto, eu vou embora – shandin diz — não se faz isso com ninguém.
— não comeram até as panelas aí? – iara disse, ainda de cima do balcão — pois agora limpem!
— meu deus, iara – falo ainda rindo — você não existe mano.
— 'carai mano – ghard ri — se fuderam legal.
— e eu, amor? – thiago fez bico.
— você 'tá liberado!
— isso não é justo – koda reclama — assim é mole.
— chega, gente – digo rindo — deixa que eu termino isso depois.
— graças a deus! – shandin é o primeiro a sair dali — não deixa 'nóis sozinho com ela mais não, maju.
— vou me lembrar disso, shand.

sentamos na mesa novamente pra comer a sobremesa dessa vez. nem preciso dizer que me acabei nesse pudim, 'tava surreal de bom, e mesmo se tivesse ruim, eu comeria do mesmo jeito. é de longe minha sobremesa favorita. ainda me deixou boba demais o ghard ter se preocupado em trazer, e mesmo que na sorte, ele acertou o que eu gostava. parecia destino, sei lá, mas tudo que ele fazia me deixava balançada de alguma forma. e por mais bobo que isso seja, eu sei que o kevin, por exemplo, jamais se atentaria a fazer isso por mim, sabe? esse tipo de coisa que me deixa mais interessada ainda no gustavo.

depois de um tempo o pessoal foi embora e eu voltei novamente pra solidão da jovem adulta que mora sozinha e conversa com as paredes pra se sentir menos pior. mas é isso, né? foi gostoso demais ter eles comigo esse 'tempinho. a iara disse que se eu resolvesse viajar também, viria dormir comigo pra irmos juntas encontrar os meninos no dia da viagem. e no começo, eu realmente não 'tava afim de ir. não que eu não quisesse, na verdade, mas só de pensar na burocracia que seria rever as aulas e ter que estudar o dobro quando eu voltasse, me desanimava real. mas o gabriel insistiu muito, iara ficou super empolgada, e de quebra o gustavo ainda disse que seria uma boa eu ir, então não custa nada, né?

𝐋𝐈𝐁𝐄𝐑𝐓𝐈𝐍𝐀, 𝗀𝗁𝖺𝗋𝖽.Onde histórias criam vida. Descubra agora