Cap: 26 - Sacrifício de Eldric

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O grupo de Eldric estava se preparando para mais uma ronda de treinamento quando os primeiros sinais de perigo surgiram. Uma estranha névoa negra começou a se espalhar lentamente pelos arredores da vila, obscurecendo a visão e fazendo os corações dos aldeões pulsarem de ansiedade. Freya foi a primeira a notar algo incomum no ar, levantando a mão para sinalizar silêncio aos outros.

- Está sentindo isso? - perguntou ela a Cael, os olhos inquietos enquanto vasculhava a paisagem em busca de alguma ameaça.

- Sim - respondeu Cael, com o arco já em mãos. - Isso não é bom.

De repente, a névoa se condensou, e figuras sombrias começaram a surgir do meio da fumaça. Os Sombrios tinham chegado, e desta vez, em número muito maior. Eram muitos, mas havia algo de estranho neles. Pareciam mais agressivos, mas ao mesmo tempo mais frágeis, como se estivessem sendo pressionados a agir rapidamente.

- Eles estão aqui... - sussurrou Amara, com a mão no punho de sua espada.

Eldric deu um passo à frente, respirando fundo para se concentrar.

- Vamos acabar com isso de uma vez por todas.

O grupo se armou e se posicionou, prontos para a batalha que sabiam que estava por vir. Os Sombrios avançaram, atacando com uma força inicial que parecia avassaladora, mas o grupo de Eldric estava preparado. Cada movimento deles era sincronizado, e as técnicas que haviam praticado por dias foram postas à prova.

Cael atirava flechas com precisão, enquanto Freya usava sua magia para desestabilizar os inimigos. Amara lutava com agilidade ao lado de Eldric, seus golpes sendo distribuídos de forma rápida e eficaz. No entanto, apesar de a batalha parecer favorável, Eldric sentia que algo estava errado. Havia uma tensão no ar, uma sensação de que aquilo era apenas uma distração.

- Eles não estão com força total - murmurou Maya, enquanto acertava um inimigo com seu arco. - Isso está fácil demais.

Eldric assentiu, o olhar fixo na escuridão que ainda envolvia parte do campo de batalha. E então, a verdade foi revelada.

Uma figura imponente emergiu da escuridão, mais alta e ameaçadora que os outros Sombrios. Sua presença fez o ar ao redor se tornar mais denso, e os gritos dos aldeões que observavam de longe cessaram em um silêncio mortal. O Mestre dos Sombrios tinha aparecido, e com ele, trazia dois reféns.

Os olhos de Eldric se arregalaram ao reconhecer Hector e Margareth, seus pais, amarrados e desacordados, sendo arrastados pela sombra viva que cercava o Mestre.

- Não... - sussurrou Eldric, dando um passo à frente. - O que você fez?

O Mestre dos Sombrios sorriu com crueldade, sua voz profunda e ecoante.

- Nós sabíamos que atacar diretamente não seria o suficiente para vencer vocês. Então, decidimos recorrer ao coração de Eldric - disse ele, puxando Hector e Margareth para mais perto. - Aqui estão seus pais, garoto. Se quiser que eles saiam daqui vivos, temos uma proposta para você.

Eldric olhou ao redor, seus olhos encontrando os de Maya, que estava em choque e sem entender nada. A batalha estava suspensa, os Sombrios aguardando as ordens de seu Mestre, enquanto o grupo de Eldric esperava ansiosamente para ver o que ele faria.

- Proposta? - Eldric rosnou, tentando manter o controle. - O que você quer?

O Mestre dos Sombrios aproximou Hector e Margareth ainda mais, apertando os punhos ao redor deles.

- Simples. Você e seu grupo se entregam. Vocês serão prisioneiros dos Sombrios, e em troca, seus pais serão libertados. Se recusarem... bem, vamos apenas dizer que eles não sairão daqui com vida.

Eldric sentiu o peso das palavras do inimigo, o dilema apertando seu coração. Ele olhou para seus amigos, que aguardavam sua decisão em silêncio. Freya e Cael estavam tensos, prontos para lutar, mas Eldric sabia que, naquele momento, a força não resolveria o problema.

- Não podemos nos entregar a eles - sussurrou Amara ao seu lado, seu olhar fixo no Mestre. - Isso é o que eles querem. Se nos entregarmos, estaremos caindo direto na armadilha deles.

- Mas se não fizermos nada, meus pais morrem - respondeu Eldric, em um tom baixo e grave.

Maya, ainda abalada, deu um passo à frente.

- Há outra maneira, Eldric. Não precisa ser assim.

Eldric, no entanto, já havia tomado sua decisão. Ele se virou lentamente para o Mestre dos Sombrios, com uma expressão sombria no rosto.

- Eu aceito sua proposta - disse Eldric, para a surpresa de todos. - Mas com uma condição.

O Mestre dos Sombrios ergueu uma sobrancelha, intrigado.

- Continue.

- Eu me entrego sozinho. Vocês podem me levar, mas meus amigos ficam fora disso. Afinal, sou eu que vocês querem. - Eldric deu um passo à frente, a voz firme. - Me levem, e libertem meus pais.

O silêncio caiu sobre o campo de batalha. Freya deu um passo à frente, a voz embargada.

- Eldric, não! Não pode fazer isso!

Cael também tentou intervir.

- Há outras maneiras de resolver isso! Não precisamos sacrificar você!

Eldric se virou para seus amigos, com um olhar de determinação.

- É a única maneira. Eles estão atrás de mim, e se ficarmos aqui discutindo, meus pais morrerão. Não posso permitir isso.

O Mestre dos Sombrios sorriu, satisfeito com a oferta.

- Um sacrifício nobre, garoto. Muito bem. Concordo com seus termos. Se entregue, e seus amigos ficarão a salvo... por enquanto.

Sem outra escolha, Eldric deu mais um passo em direção ao Mestre, enquanto seus pais eram libertados das amarras. O grupo de Eldric assistia em silêncio, impotente diante da situação. Hector e Margareth caíram no chão, livres, mas ainda inconscientes. Maya deu um passo à frente, os olhos marejados.

- Eldric, por favor, não faça isso...

Eldric a encarou por um momento, os olhos cheios de dor, mas também de aceitação.

- Cuide deles, Maya. Cuide de todos.

O Mestre dos Sombrios levantou a mão, e uma fumaça escura começou a se espalhar rapidamente pelo campo de batalha. Em um piscar de olhos, Eldric foi envolvido pela escuridão, e quando a fumaça se dissipou, ele e os Sombrios haviam desaparecido, deixando apenas o grupo de amigos e seus pais para trás.

A sensação de vazio e desespero tomou conta do grupo. Maya caiu de joelhos, sem acreditar no que havia acabado de acontecer. Freya tentou manter a compostura, mas as lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto. Cael ficou em silêncio, os punhos cerrados de frustração.

Amara olhou para onde Eldric estava segundos antes, a dor no coração sendo substituída por uma determinação feroz.

- Ele fez isso por nós. Mas não vamos deixá-lo nas mãos deles. Vamos trazê-lo de volta.

Freya secou as lágrimas rapidamente e assentiu.

- Precisamos de um plano. Agora.

O grupo, abalado pela perda de Eldric, começou a se reorganizar. Sabiam que o tempo era curto e que precisariam de toda a ajuda possível para resgatar seu líder. E embora o sacrifício de Eldric ainda estivesse fresco em suas mentes, a chama da esperança começou a arder novamente.

A batalha não estava perdida. Não ainda.

Em uma parte isolada do santuário, onde as paredes carregavam marcas ancestrais e símbolos de poder antigo, uma luz fraca começou a brilhar. O brilho suave emanava das inscrições nas pedras, uma resposta sutil ao sacrifício de Eldric. As palavras nas paredes falavam de honra, coragem e sacrifícios dignos. E, enquanto a luz pulsava lentamente, algo estava se movendo, algo adormecido por séculos começava a despertar.

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