Cap: 3 - Primeiros Passos

17 5 0
                                    

O sol nascente lançava sombras longas e douradas sobre a caverna quando Eldric acordou. A tempestade que rugira na noite anterior havia se dissipado, deixando o ar limpo e úmido. O cheiro da terra molhada invadia o lugar, e ao longe, o canto dos pássaros ecoava nas árvores.

Eldric piscou algumas vezes, tentando afastar o sono. O corpo ainda estava pesado de cansaço, mas sua mente já estava em alerta. As palavras de Amara da noite anterior ainda ecoavam em seus pensamentos: "Amanhã, começaremos seu treinamento."

Ele se levantou devagar, ainda tentando processar tudo o que tinha acontecido desde que a misteriosa mulher aparecera na vila. Ele, o último descendente de uma linhagem antiga, destinado a controlar os elementos? Ainda parecia algo distante e irreal. Contudo, Eldric sabia que o dia de hoje era importante. Ele precisava se preparar.

Amara estava sentada do lado de fora da caverna, de costas para Eldric, observando o horizonte. A luz suave da manhã banhava seu rosto, realçando as feições delicadas, mas resolutas. Havia algo de inabalável nela, como uma força que Eldric não conseguia descrever. Ao sentir os passos dele se aproximando, ela virou a cabeça levemente, um sorriso discreto nos lábios.

- Dormiu bem? - Ela perguntou com uma voz tranquila.

Eldric assentiu, embora ainda sentisse o peso do cansaço em seus músculos.

- Tanto quanto podia depois de tudo o que aconteceu - respondeu ele, um toque de hesitação em sua voz. - Ainda parece... surreal.

Amara se levantou com graça e deu alguns passos em direção a Eldric, com os olhos fixos nele.

- Isso é normal. Ninguém está totalmente preparado quando descobre que sua vida está ligada ao destino de um reino inteiro - ela disse, seus olhos brilhando com uma confiança silenciosa. - Mas o importante é que você dê o primeiro passo. Tudo o mais virá com o tempo.

Eldric suspirou, tentando esconder sua insegurança. - E qual é esse primeiro passo? Como eu... começo a entender ou controlar esse poder?

Amara sorriu, como se esperasse essa pergunta. Ela gesticulou para a floresta densa à frente deles.

- Os elementos estão ao nosso redor, Eldric. O vento, a terra, a água e o fogo. Eles não são apenas forças da natureza, mas partes do mundo que podem ser influenciadas e moldadas. O primeiro passo para despertá-los é senti-los. Vamos começar com algo simples. Quero que você se concentre no vento.

Eldric franziu o cenho, confuso. - Sentir o vento?

- Sim - disse ela, assentindo. - O vento é imprevisível, mas também está sempre presente. Ele pode ser uma brisa suave ou uma tempestade furiosa. Quero que você se concentre nele, sinta como ele flui através de você e ao seu redor. Não tente controlá-lo ainda. Apenas... conecte-se a ele.

Ele respirou fundo, ainda um pouco cético, mas tentou fazer o que Amara sugeriu. Fechou os olhos e tentou bloquear todas as distrações ao seu redor. Sentiu o vento suave em seu rosto, os fios de cabelo bagunçados pela brisa. Ouviu as árvores farfalhando ao longe e o ar deslizando pelas folhas.

Por um momento, pareceu estar em completa sintonia com o mundo ao redor. O vento parecia mais do que apenas um fenômeno natural. Havia um ritmo, um movimento, algo quase... vivo. Eldric abriu os olhos, surpreso com a intensidade do que sentiu, mas antes que pudesse dizer algo, Amara falou suavemente.

- Está começando a entender, não está?

Ele hesitou, mas assentiu. - Sim... é como se o vento fosse mais do que eu imaginava. Como se houvesse algo nele que eu nunca percebi antes.

Amara sorriu, satisfeita. - Exatamente. O vento, assim como os outros elementos, tem uma energia própria. E essa energia responde àqueles que podem senti-la. O próximo passo é aprender a se harmonizar com essa energia.

Eldric olhou para ela com um toque de confusão e curiosidade. - Harmonizar? Como faço isso?

Ela se abaixou, pegando uma pequena folha caída no chão. Segurou-a na palma da mão e estendeu para Eldric.

- Quero que você tente mover esta folha usando o vento - disse ela calmamente. - Mas lembre-se, não se trata de força ou controle. Você precisa se harmonizar com o vento, permitir que ele o guie e, ao mesmo tempo, guiá-lo.

Eldric olhou para a folha em suas mãos, um tanto desconfiado. Como ele poderia fazer algo assim? Ainda assim, ele confiava em Amara. Respirou fundo, fechou os olhos novamente e se concentrou. Ele podia sentir o vento em torno dele, sua brisa constante e tranquila. Tentou se conectar a essa sensação, como Amara havia dito, e então, com cuidado, tentou direcionar o fluxo para a folha.

No início, nada aconteceu. O vento continuava soprando suavemente ao redor deles, mas a folha permaneceu imóvel na palma de sua mão. Eldric franziu a testa, sentindo uma pontada de frustração. Mas então ele lembrou-se das palavras de Amara. Não era uma questão de forçar ou tentar controlar, mas sim de se harmonizar. Ele respirou fundo novamente, permitindo que sua mente se acalmasse.

Desta vez, ele se concentrou apenas em sentir o vento. Deixou que sua mente fluísse junto com ele, como se estivesse seguindo o ritmo de uma música invisível. Aos poucos, ele começou a sentir algo diferente. O vento parecia mais intenso ao seu redor, e então, de repente, a folha na mão de Amara balançou levemente, como se tivesse sido tocada por uma brisa mais forte.

Eldric abriu os olhos, surpreso com o que acabara de acontecer. Era uma mudança sutil, quase imperceptível, mas ele sabia que havia causado aquilo.

Amara assentiu, satisfeita. - Muito bem. Este é apenas o começo, mas você está no caminho certo.

Eldric sorriu, uma mistura de alívio e excitação. Sentiu uma pequena faísca de esperança se acender dentro dele. Talvez houvesse realmente algo dentro de si, algo que ele pudesse aprender a dominar.

No entanto, antes que pudessem continuar, o som de galhos quebrando e passos apressados ecoou pela floresta. Eldric virou-se rapidamente, seus sentidos em alerta. Amara também se levantou, seu rosto se tornando sério.

- Alguém está vindo - disse ela, os olhos estreitando-se em direção às árvores.

Eldric sentiu seu coração acelerar. Quem poderia ser? Os Sombrios, aqueles que Amara mencionara na noite anterior? Ou algum outro perigo que os aguardava nesta jornada?

De repente, duas figuras surgiram de entre as árvores. Um homem alto, de armadura de couro desgastada, com uma espada presa ao cinto, e uma mulher de cabelos curtos e escuros, segurando um arco com firmeza.

- Quem são vocês? - Perguntou o homem, a voz grave e desconfiada. - E o que estão fazendo tão longe das trilhas principais?

Amara deu um passo à frente, seus olhos fixos nos dois estranhos. - Poderíamos perguntar o mesmo a vocês.

A mulher ergueu o arco ligeiramente, em um movimento cauteloso. - Não estamos aqui para lutar. Só queremos saber por que estão aqui. Estas florestas não são seguras para viajantes solitários.

Eldric olhou para Amara, esperando por uma resposta, mas antes que ela pudesse falar, o homem franziu o cenho e inclinou a cabeça, como se estivesse reconhecendo algo.

- Espere... - disse ele lentamente, seus olhos fixos em Eldric. - Você... você é o rapaz de Seridum, não é? O descendente dos antigos reis?

Eldric sentiu um arrepio subir por sua espinha. Como esse homem sabia sobre ele? Seria amigo ou inimigo?

Amara colocou a mão no braço de Eldric, como um sinal de calma, mas seus olhos estavam atentos.

- Quem são vocês? - Perguntou ela novamente, desta vez com um tom mais sério.

O homem relaxou ligeiramente, mas sua postura ainda era de cautela.

- Meu nome é Cael - disse ele, apontando para a mulher ao seu lado. - E esta é Freya. Fazemos parte da Resistência. Se você é realmente quem penso que é, estamos do mesmo lado.

Eldric olhou para Amara, ainda desconfiado. Resistência? O que isso significava?

- Resistência contra quem? - Perguntou ele, a voz tensa.

Cael assentiu, como se esperasse essa pergunta.

- Contra Os Sombrios - respondeu ele, com os olhos firmes. - E se você realmente é o herdeiro da tempestade, talvez tenhamos encontrado o aliado que estamos procurando.

O Herdeiro da TempestadeOnde histórias criam vida. Descubra agora