A semana passou num piscar de olhos. Desde que voltei de viagem, minha vida se resumiu a caixas, documentos e listas intermináveis de coisas para resolver antes da faculdade. Entre a correria de organizar minha mudança e a ansiedade do que estava por vir, mal tive tempo para pensar em qualquer outra coisa. Nem em Noah.
Claro, morar no mesmo prédio deveria facilitar as coisas. Mas, curiosamente, não nos vimos nem uma vez. Talvez porque eu estivesse focada demais em arrumar tudo ou porque ele tivesse voltado a se enterrar nos compromissos da gangue. E, sinceramente, parte de mim achou até melhor. A confusão com ele sempre deixava as coisas mais difíceis.
Só que hoje, sábado, seria diferente. A famosa festa "Apocalipse" finalmente tinha chegado, e eu sabia que não dava mais para evitar o encontro. Era um evento enorme, uma espécie de confronto simbólico entre as gangues que dominavam nossa cidade. Noah liderava os *The Americans*, e eu... bem, eu teria que estar com os *The Killers*. Meu pai, sendo o líder, esperava isso de mim, e como ele não iria à festa, a responsabilidade caía sobre mim. Por mais que eu quisesse evitar, não tinha como escapar desse papel. Noah já tinha deixado claro que odiava a ideia de eu ir, e nem precisou falar muito para eu entender o quanto ele estava irritado com isso.
Peguei o celular e, enquanto organizava os últimos detalhes, a notificação de uma mensagem dele apareceu na tela.
Noah: "Você não vai nessa festa. Já te falei."
Revirei os olhos ao ler a mensagem, sentindo aquela familiar mistura de frustração e expectativa. Ele sempre tinha que mandar do jeito mais mandão possível.
Sofya: Eu já te falei que eu vou. Não vou faltar.
A resposta não demorou.
Noah: Você vai se meter no meio dessa confusão e ainda como uma Killer? Tá pedindo problema, Sofya.
Suspirei, sabendo que essa discussão não ia levar a lugar nenhum. Ele odiava a ideia de eu me envolver nas brigas da gangue, mas a Apocalipse era praticamente tradição. E, por mais que ele tentasse me afastar disso, essa parte da minha vida não era algo que eu podia simplesmente ignorar.
Sofya: Relaxa. Eu sei me cuidar.
Pelo menos era o que eu dizia para mim mesma.
Eu estava finalmente disposta a ir a sede dos Killers, ja que teria que ser sua lider essa noite, então não enrolei muito e a tarde peguei meu carro e fui ao local.
Chegar à sede dos Killers sempre me trazia um misto de sentimentos. Antes, fazer parte da gangue era algo que eu odiava. Eu só estava ali porque meu pai era o líder, e fugir disso não era uma opção. Mas, com o tempo, acabei me acostumando, e agora, depois de tanto tempo, sentia uma certa tranquilidade ao voltar.
Assim que entrei, todos os olhares se voltaram para mim. Um silêncio breve tomou conta do galpão, mas logo os rostos dos garotos se iluminaram, me recebendo com sorrisos e cumprimentos.
— Olha quem resolveu aparecer! — Guilherme, um dos mais antigos da gangue, se aproximou com um sorriso. — Achei que tinha esquecido de nós, princesinha dos Killers.
Revirei os olhos com o apelido, mas não pude deixar de sorrir. Era estranho, mas estava começando a me sentir mais confortável aqui.
— Só estava ocupada demais com a faculdade e a mudança — respondi, cruzando os braços enquanto ele me puxava para um abraço.
— A gente sabe, faculdade e tal... Mas, sério, faz falta por aqui — João, outro membro da gangue, comentou. — A última atiradora dos Killers, quem diria que estaríamos te elogiando agora, hein?