capítulo 17 - Corações em tensões

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Um mês e meio depois

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Um mês e meio depois.

O sol mal se erguia sobre a cidade, lançando uma luz pálida através da vitrine da loja de decoração onde Yumiella trabalhava. Entretanto, o calor da manhã não conseguia aquecer o ambiente pesado que se formara nos últimos dias. A tensão entre ela e Sanzu estava no auge desde que Haruchiyo decidira dedicar ainda mais horas à Bonten, por conta da pressão da polícia. O coração de Yumiella estava agitado, uma mistura de preocupações e ressentimentos sufocantes.

Ela organizava vasos e árvores artificiais, cada movimento automático, enquanto sua mente vagava. O contraste entre o colorido da loja e o cinza que sentia por dentro era insuportável. Sanzu havia se distanciado, com a preocupação gravada em seu rosto sempre que falavam sobre as atividades da Bonten. Para ele, os riscos eram cada vez maiores, e isso afetava não só a sua segurança, mas a dela também.

A briga daquela manhã ainda ressoava em seu coração. Sanzu, com a frustração à flor da pele, insistiu que ela não deveria se envolver mais na vida dele, enquanto ela apenas desejava que ele confiasse nela.

— Se você continuar se colocando em perigo, não poderei proteger ninguém — dissera, a voz carregada de emoção.

Yumiella não soube como responder. As palavras que saíram de sua boca foram impulsivas, ferindo ambos mais do que ajudando. O clima entre eles estava tenso, e a última coisa que ela queria era perder o contato que tinham construído.

Ela estava tão absorta em seus pensamentos que não percebeu a porta se abrir. Naoto Tachibana, o detetive que havia estado atrás de rastrear os membros da Bonten, entrou na loja. Suas feições eram conhecidas por Yumiella, mas não como uma visão desejada.

— Yumiella Muto? — perguntou, com uma frieza que fez seu coração acelerar.

— Sim? O que você quer? — respondeu ela, com um nó na garganta.

Naoto se aproximou, e a expressão nos olhos dele indicava determinação.

— Você está sob prisão. Venha comigo.

O choque percorreu cada fibra do ser de Yumiella. Antes que pudesse protestar ou pedir explicações, ele a agarrou pelo braço, levando-a em direção à saída. Outros clientes a observaram, alguns com olhares de preocupação, mas nenhum teve coragem de intervir. A realidade de sua nova vida despedaçava qualquer ilusão de normalidade.

— O que está acontecendo? — ela perguntou, sua voz agora entrecortada pela verdadeira preocupação.

— Você está sendo acusada de estar envolvida nas atividades da Bonten, e temos motivos para acreditá-la — ele respondeu, sem um pingo de compaixão.

Enquanto caminhavam pelas ruas, cada passo dela parecia se arrastar, o terror crescendo dentro dela. Yumiella não poderia ficar calada; precisava apagar qualquer suspeita. Era uma inocente que havia se deixado envolver na vida de Sanzu, sem nem ao menos entender a profundidade do abismo.

Mas as palavras não saíram. O medo lhe congelou a voz, assim como a percepção de que a investigação da polícia estava cada vez mais próxima, e ela poderia ser apenas uma peça na engrenagem.

Quando chegaram à delegacia, o ambiente tornara-se opressivo. Naoto a conduziu a uma sala de interrogatório. As paredes eram nuas, as cadeiras desconfortáveis e a luz fluorescente criava um clima ainda mais insuportável. Ela sentou-se, o coração batendo descontroladamente.

Naoto, agora acompanhado por outros oficiais, começou o interrogatório. As perguntas eram incisivas, cada uma delas um golpe em sua frágil estabilidade.

— O que sabe sobre a Bonten e suas operações? — questionou um dos agentes, a voz direta e sem rodeios.

Yumiella tentou se manter firme.

— Eu não sei de nada! Eu sou só uma funcionária de uma loja — disse, sentindo a sinceridade em suas palavras, mas no fundo, uma pontada de dúvida começou a surgir. Eles não iriam acreditar nela.

Um dos homens se aproximou, olhando diretamente em seus olhos, como se estivesse escaneando sua alma.

— Sabemos que Sanzu Haruchiyo está envolvido. Você não pode se esconder dentro da vida comum. É hora de você falar.

O medo tomou conta dela, fazendo-a vacilar. Yumiella sentiu uma fraqueza a invadir, mas também um fogo de determinação.

— Eu não vou falar! Eu não tenho nada a dizer! — retorquiu, sua voz falhando, mas com um brilho de resistência.

Os oficiais trocaram olhares. O clima se tornara mais denso enquanto eles percebiam que a adolescente à sua frente não cederia fácil. A tática era clara: ela seria pressionada até quebrar. Mas o que sabiam? A questão é que as torturas à alma poderiam ser mais cruéis do que qualquer tortura física.

E foi nesse momento que a verdade mais aterrorizante a alcançou: talvez a sombra da Bonten estivesse prestes a engoli-la, mas mesmo assim, Yumiella se recusava a deixar que a escuridão a derrotasse. Ela pensou em Sanzu, no que ele poderia pensar dela agora, em como eles haviam discutido.

E naquele pequeno espaço, enquanto a dúvida e o medo ameaçavam consumi-la, Yumiella decidiu que, independente do que acontecesse, ela lutaria para proteger quem amava. Mesmo que tivesse que desafiar as correntes que a prendiam naquela sala. Ela não era uma vítima fácil e, naquele momento, decidia ser a autora de sua própria narrativa.

O oficial que estava com Naoto se irritou, e em seguida levantou a mão dando um tapa estalado no rosto de Yumiella, ao ponto do seu rosto virar para o lado oposto em completo choque.

— Escuta aqui, vadia da Bonten. O prefeito pagou uma nota pra jogar você dentro de uma cela cheia de presos, pra ser o brinquedinho deles. Então acho melhor você falar.

— Eu não estou mentindo — Yumiella rosnou, olhando para o oficial com ódio em seu olhar — Eu não sei nada da Bonten, eu nunca nem vi eles.

Naoto continuava observando com um olhar frio, afrouxando o nó da gravata, ele mantinha seu olhar em Yumiella,  tentando ver algo, captar algo. Qualquer coisa que a fizesse ir para Bonten.

— Detetive. — Uma moça adentrou a sala de interrogatório com alguns papéis em mãos — o senhor precisa ver isso.

Naoto franziu a sobrancelhas, e então pegou a pasta da mão dela, observando todas as informações que tinham de Yumiella até o momento, incluindo algo extremamente inusitado, porém delicado.

— Interessante…— Naoto murmurou, e então virou-se para olhar Yumiella, descendo seu olhar para seu corpo parando em uma região específica. — Isso vai ser interessante…

CERBERUS - Sanzu Haruchiyo Onde histórias criam vida. Descubra agora