ꜰʀᴀɢᴍᴇɴᴛᴏꜱ ᴅᴇ ᴜᴍᴀ ɴᴏɪᴛᴇ | Rebeca Andrade

019

Rebeca estava deitada na cama, ouvindo o som constante do chuveiro enquanto Tyler tomava banho. Ela estava relaxada, mexendo distraidamente no celular, quando uma notificação inesperada apareceu na tela: uma mensagem de um número desconhecido. O conteúdo? Um vídeo.

Curiosa, ela clicou para abrir. O vídeo começou com uma imagem de um quarto de hotel que imediatamente pareceu familiar. Era o mesmo quarto em que Tyler havia ficado durante as Olimpíadas, há quase um ano. O coração de Rebeca acelerou, e, então, a câmera revelou algo que a fez congelar. Tyler estava no vídeo, gemendo, envolvido de forma íntima com outro homem.

Rebeca não conseguia desviar o olhar. Ela reconheceu a voz de Tyler, os gemidos que confirmavam o que seus olhos já estavam vendo. Uma onda de raiva e confusão tomou conta dela. Por que ele nunca me contou? Não era o fato de ele ter estado com outra pessoa que a atingia mais forte, e sim o segredo. A mentira.

O som do chuveiro parou, e ela rapidamente travou o celular. Seu corpo tremia com a intensidade de suas emoções. O vapor da água quente foi substituído pelo som de Tyler saindo do banheiro, envolto em uma toalha.

— Ei, amor, o que tá fazendo? — Tyler perguntou, secando o cabelo, ainda alheio à tensão no ar.

Rebeca o observou por um momento, o olhar duro e frio. Ela não respondeu de imediato, o silêncio denso preenchendo o quarto. Finalmente, ela falou, com uma calma que não combinava com a fúria que sentia.

— Você tem algo para me contar, Tyler?

Ele parou de secar o cabelo e franziu a testa, confuso. — O que você quer dizer? O que tá acontecendo?

Rebeca se sentou na cama, respirando fundo para conter o ímpeto de gritar. Ela desbloqueou o celular e, sem dizer mais nada, mostrou o vídeo para ele. Tyler ficou imóvel por alguns segundos, encarando a tela, a cor lentamente deixando seu rosto.

— Eu... — Ele começou, mas as palavras falharam. Ele olhava de Rebeca para o vídeo, desesperado, sem saber o que dizer.

— Você... o quê? — A voz de Rebeca saiu afiada, cortando o ar. — Vai dizer que não é você? Vai negar o que eu tô vendo com os meus próprios olhos?

— Rebeca, por favor... — Ele começou, a voz trêmula, tentando se aproximar dela, mas ela levantou a mão, afastando-o.

— Nem se atreva a me tocar agora. — Ela disse com firmeza. — Você transou com outro homem, Tyler. E nunca me contou. Por quê?

Tyler esfregou o rosto com as mãos, claramente tentando encontrar uma maneira de se explicar. — Isso... Isso foi antes da gente se reencontrar, Rebeca. Foi dois dias antes de eu te ver na abertura das Olimpíadas. Eu tava... perdido.

— Perdido? — Ela repetiu, a incredulidade clara em sua voz. — Perdido ao ponto de me esconder isso por quase um ano? Você teve várias chances de me contar, mas nunca disse nada! O problema não é você ter ficado com outra pessoa, Tyler. O problema é você ter mentido pra mim!

Ele respirou fundo, as lágrimas começando a se acumular nos olhos. — Eu não menti... Eu só... Eu não sabia como te contar. Eu tava com medo...

— Medo de quê? — Ela perguntou, quase desafiando-o a falar.

Tyler engoliu em seco, lutando para conter o choro. — Eu... Eu tinha medo de que você achasse que eu era gay. Que você me deixasse por isso. Mas eu não sou gay, Rebeca, eu juro. Foi uma confusão. Eu tava me sentindo tão sozinho, sem saber se a gente ainda tinha uma chance, e acabei fazendo algo que nem eu consigo explicar. Mas eu amo você. Só você.

Rebeca o encarou, a raiva ainda fervendo sob sua pele, mas agora misturada com a dor. — Então você decidiu esconder isso de mim? Achou que era melhor eu nunca saber?

— Eu achei que, se te contasse, você nunca ia me perdoar. Que ia acabar com a gente. — Ele finalmente deixou escapar, as lágrimas escorrendo pelo seu rosto. — Eu tava com tanto medo de te perder...

Ela balançou a cabeça, incrédula. — Você não entende, não é? Eu não tô brava porque você ficou com outro homem. Eu tô brava porque você escondeu isso de mim. Porque você mentiu, me fez acreditar que não tinha segredos entre a gente. Eu confiei em você, Tyler. E você quebrou isso.

Tyler se ajoelhou diante dela, a voz falhando enquanto tentava desesperadamente reparar a situação. — Rebeca, por favor, me escuta. Eu te amo. Eu não sou gay, eu só... eu tava confuso. Eu nunca quis te machucar, nunca quis que isso te afetasse. Eu não sei o que aconteceu naquela noite. Foi um erro, mas isso não define o que eu sinto por você.

Rebeca o olhou, as lágrimas finalmente escapando de seus próprios olhos. A dor que ela sentia era profunda, e cada palavra de Tyler parecia um golpe em sua confiança.

— Você teve um ano inteiro pra me contar, Tyler. Um ano. E só agora eu descubro, através de um vídeo de um número desconhecido. Como você acha que eu posso confiar em você depois disso?

Ele abaixou a cabeça, sem palavras, visivelmente derrotado. Sabia que, por mais que tentasse explicar, a verdade era que tinha quebrado algo que talvez nunca pudesse ser reparado.

— Eu não posso mais te olhar agora. — A voz dela estava baixa, mas firme. — Sai da minha casa.

Tyler levantou a cabeça, os olhos arregalados. — Rebeca, por favor, não faz isso. A gente tem uma filha, a gente pode resolver isso...

— Eu não quero te ver agora. — Ela interrompeu, determinada. — Vai embora, Tyler. Eu preciso de espaço. E você precisa sair.

Ele hesitou por um momento, ainda tentando encontrar uma forma de reverter o que havia acontecido, mas, ao ver o olhar determinado de Rebeca, percebeu que não havia mais nada que pudesse dizer naquele momento. Tyler, derrotado, se levantou e vestiu as roupas com as mãos trêmulas.

— Eu vou embora, mas... — Ele começou, mas sua voz falhou. — Eu vou te provar que isso não significa nada. Eu vou consertar isso.

Rebeca não respondeu. Ela permaneceu imóvel, olhando para o chão enquanto Tyler pegava suas coisas e, com o coração pesado, deixava a casa. Quando a porta se fechou atrás dele, Rebeca permitiu que as lágrimas caíssem livremente, sentindo o peso da traição que agora pairava sobre ela.

Tyler estava fora. E agora, só restava o silêncio.