Capítulo 10

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Dante se aproximou, sentou-se no sofá, e eu continuei ali, de pé, observando. Minha mente rodava com a recente revelação: meu pai sabia do meu caso com seu amigo — o amigo que também era meu professor. Dante levou as mãos ao rosto, e sua expressão era quase impossível de decifrar. Quando ele finalmente me olhou, eu entendi na mesma hora.

— Você estava certa... — ele começou, sua voz baixa. — Não devíamos ter feito isso.

Ele pegou o celular, levantou-se e veio na minha direção, mas seu olhar já estava distante, como se tivesse decidido algo maior do que eu podia alcançar naquele momento.

— Não vou mais te procurar — disse, abrindo a porta e saindo antes que eu pudesse responder. Ele simplesmente foi embora.

Parte de mim se sentiu aliviada, como se finalmente pudesse respirar sem a sombra de nossas complicações. Mas outra parte... essa parte implorava por mais. Por mais daqueles momentos, dos prazeres que Dante havia me proporcionado. Me joguei no sofá, tentando organizar o turbilhão de pensamentos. Em poucos minutos, tudo mudou. Peguei o celular e mandei uma mensagem para Liam, avisando que eu ia para a balada com ele e Nathan. Talvez fosse a distração que eu precisava.

Conforme as horas passavam, a vontade de sair era praticamente nula. Mas ficar em casa, sozinha, afundada em lembranças, também não parecia uma boa opção. Levantei da cama, segui até o banheiro e tomei um banho quente, na esperança de que o ânimo aparecesse. Enquanto secava o cabelo, tentava decidir o que vestir.

Parada em frente ao espelho, avaliei minha escolha: uma camisa de cetim branca, folgada, de mangas compridas, combinada com uma bota de cano alto que passava dos meus joelhos. Acrescentei um colar simples para finalizar. Peguei minha bolsa e, antes de sair, olhei o celular. Havia uma mensagem de Liam: ele já estava me esperando lá embaixo.

Tranquei a porta e desci as escadas do prédio com cuidado. Liam estava no carro, e Nathan já estava do lado de fora, me esperando com um sorriso debochado.

— Bela dama, permita-me abrir a porta para você — ele disse, com uma reverência exagerada assim que me aproximei. De fato, ele abriu a porta, e eu entrei.

— Liam, aprende com ele — provoquei, rindo.

— O dia que eu abrir a porta pra você será a do carro funerário — ele respondeu, sem perder o tom seco.

— Vai tomar no cu, Liam — soltei, arrancando uma gargalhada de Nathan no processo.

Eu sabia que sair com eles seria a distração que eu precisava, mesmo que, por dentro, parte de mim ainda estivesse tentando processar tudo o que tinha acontecido com Dante.

Sentada no banco de trás do carro de Liam, eu sentia o vento bater no meu rosto enquanto a cidade passava como um borrão de luzes e movimento. Lisboa sempre tinha algo para oferecer à noite — e, naquela sexta-feira, a boate onde íamos prometia ser agitada. Liam dirigia com sua usual confiança despreocupada, enquanto Nathan, no banco da frente, trocava piadas sarcásticas com ele, criando uma atmosfera leve que eu precisava.

Chegamos à boate e o som vibrante da música podia ser ouvido do lado de fora, mesmo antes de entrarmos. A fila estava grande, mas Liam, com seus contatos e seu charme, conseguiu nos colocar pra dentro rapidamente. Logo estávamos cercados por luzes coloridas, corpos se movendo ao ritmo da música e a energia elétrica que só uma noite como essa traz.

— Vamos pegar uns drinks? — Nathan sugeriu, me puxando pelo braço enquanto nos dirigíamos ao bar.

Concordei, ainda tentando me desligar dos pensamentos sobre a tarde conturbada. Já havia decidido que aquela noite seria minha fuga. Um tempo para esquecer Dante, a tensão familiar, as responsabilidades. Peguei o primeiro drink que Nathan me ofereceu e o virei de uma só vez.

— Alguém está animada hoje — Liam comentou com um sorriso de canto, levantando uma sobrancelha.

— Preciso mesmo. — Dei de ombros, devolvendo o copo vazio ao balcão. — Vamos dançar.

Nathan não precisou de mais nada para me puxar para a pista. A batida da música envolveu meu corpo, e eu deixei as preocupações se dissiparem. Me movia sem pensar, deixando a música me guiar. Cada passo, cada batida, era um afastamento das lembranças pesadas do dia. Nathan, sempre um excelente dançarino, me acompanhava com uma energia contagiante, e logo estávamos completamente imersos naquele mar de pessoas.

Liam, como de costume, preferia observar mais do que se jogar na pista, mas estava por perto, conversando com algumas pessoas e rindo do nosso entusiasmo. De vez em quando, ele nos lançava olhares divertidos, mas eu sabia que ele estava se divertindo à sua maneira.

Enquanto dançávamos, senti uma presença familiar se aproximar. Virei-me para encontrar Sofia, uma das minhas amigas que sempre aparecia nas festas mais badaladas. Ela estava deslumbrante, como sempre, e ao me ver, abriu um sorriso radiante.

— Não acredito que te encontrei aqui! — Ela gritou por cima da música, me puxando para um abraço apertado.

— Nem eu! — respondi. — Achei que você estava viajando.

— Acabei de voltar. Precisei ver o caos da cidade de novo — ela brincou, piscando. — Vamos beber alguma coisa!

Fomos juntas até o bar, e enquanto esperávamos pelos nossos drinks, Sofia começou a contar sobre sua viagem a Amsterdã, cheia de histórias engraçadas sobre os lugares que visitou e as pessoas que conheceu. Sua energia era revigorante, e logo me vi completamente envolvida na conversa, rindo e esquecendo qualquer traço de tensão.

Depois de mais alguns drinks e muita conversa, ela me puxou de volta para a pista de dança, onde encontramos Liam e Nathan novamente. A noite estava apenas começando, e eu me sentia cada vez mais livre. Cada sorriso, cada risada, e cada movimento me trazia mais para o presente.

Lá pelas tantas, eu estava suada e sem fôlego, mas o alívio de estar ali, cercada por amigos, era indescritível. Enquanto a música mudava para algo mais lento, decidi que era hora de uma pausa.

— Vou pegar um ar. Já volto — avisei para os outros, que ainda estavam dançando.

Saí para a área externa, onde o ar noturno de Lisboa era mais fresco. A brisa era um alívio bem-vindo, e por um momento, apenas me apoiei na grade, olhando as luzes da cidade brilhando à distância. Por alguns minutos, tudo pareceu estar em equilíbrio. Ali, naquele espaço de tempo, eu podia respirar sem peso.

Sofia logo apareceu, me acompanhando, com um cigarro entre os dedos.

— Preciso te contar uma coisa. — Ela falou, olhando ao redor para se certificar de que ninguém estava ouvindo.

— O que foi? — perguntei, curiosa, me virando para ela.

Ela deu uma tragada antes de responder, um brilho malicioso nos olhos.

— Tem um cara novo na cidade, amigo de uma amiga minha... parece que ele é tudo de bom. E o melhor: ele vai aparecer por aqui hoje.

Sorri, meio cética, mas intrigada.

— Ah é? E como ele é?

— Do tipo que você gosta. — Ela riu. — Alto, moreno, bonito e aparentemente misterioso. Só ouço coisas boas sobre ele.

— Ok, agora estou curiosa. — Dei uma risadinha, me sentindo mais leve do que há horas.

A noite ainda reservava algumas surpresas, ao que parecia. E talvez, dessa vez, eu pudesse realmente me desligar do passado e curtir algo novo.

O Fruto ProibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora