Em casa, Dante e eu desfrutávamos da companhia um do outro, relaxados na cama enquanto assistíamos a um seriado e dividíamos um pacote de salgadinho. O ambiente estava tranquilo e confortável, como se fôssemos apenas dois amigos passando uma tarde qualquer.
— Ele é um burro por deixar a Charlotte — comentou Dante, claramente mais envolvido na trama do que eu.
— Tomara que ela sofra um acidente e ele vá correndo todo arrependido até o hospital para implorar por ela — disse, sem tirar os olhos da TV.
Dante virou o rosto lentamente na minha direção, analisando o absurdo que acabara de sair da minha boca. Levantei uma sobrancelha, esperando algum comentário.
— Que foi? — perguntei, inocente.
— O cara é um idiota, mas precisa passar por um trauma pra aprender? — ele perguntou, balançando a cabeça, como se estivesse refletindo sobre minha moral.
— Sim, pra aprender a dar valor — respondi, como se fosse óbvio, voltando minha atenção ao seriado.
Dante riu e abriu a boca para continuar o debate, mas foi interrompido pelo som do interfone. Ele permaneceu deitado, sem dar sinal de que se mexeria, então me levantei para atender.
— Charles? — atendi, reconhecendo a voz do porteiro.
— Desculpa o incômodo, senhorita Scarllete, mas tem um rapaz todo machucado aqui embaixo, desesperado, pedindo para você deixar ele subir.
Arregalei os olhos, surpresa. Meu coração disparou. Quem poderia ser?
— Quem é? — perguntei, enquanto ouvia Charles perguntar o nome do rapaz. A resposta veio em uma voz fraca, mas inconfundível.
— É o Nathan — disse, um pouco em choque. — Pode deixar subir, Charles. Ele é meu amigo.
— Ok, ele já está subindo.
Desliguei o interfone e voltei para a sala. Minha mente estava a mil, imaginando o que poderia ter acontecido. Dante se levantou da cama, notando minha tensão.
— O que houve? — perguntou, preocupado.
— Nathan... ele está todo machucado. Não sei o que aconteceu. — Antes que pudesse continuar, ouvi as batidas frenéticas na porta. Corri para abrir, e o que vi me fez congelar.
Nathan estava de pé, mas mal se segurava. O rosto coberto de hematomas e cortes, o lábio rachado, e suas roupas estavam sujas de sangue. Meu coração apertou ao vê-lo naquele estado. Ele entrou rapidamente, mancando, e se jogou no sofá, respirando com dificuldade. Fui até ele, sentando-me ao seu lado, ainda tentando processar o que estava vendo.
— Nathan... o que aconteceu? — perguntei com a voz baixa, cheia de preocupação.
Ele respirou fundo antes de responder, com a voz embargada e os olhos cheios de lágrimas.
— Eles me bateram porque me viram beijando um homem. Me seguiram... Quando consegui correr até aqui, reconheci seu prédio e pedi ajuda ao porteiro... — Ele olhou para mim, seu olhar desesperado. — Eu não sou uma aberração, Scarllete.
Senti meu peito apertar. Levei as mãos à boca, tentando conter o choque da revelação. O silêncio na sala era pesado. Meu amigo, tão machucado e vulnerável, estava se abrindo para mim de uma forma que eu jamais imaginaria.
— Nathan... eles fizeram mais alguma coisa além de bater? — perguntei, com a voz trêmula e o coração apertado pelo medo do que ele poderia dizer.
Ele balançou a cabeça, rapidamente.
— Não, não fizeram o que você está pensando. Só... só bateram. — A voz dele falhou, e ele começou a chorar de novo, as lágrimas escorrendo por seu rosto, misturadas ao sangue. Eu não consegui me segurar e o abracei com força. Suas lágrimas e o sangue mancharam minha blusa, mas naquele momento, nada disso importava.
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O Fruto Proibido
RomansaScarlatte vive uma vida dupla entre os corredores de uma prestigiada faculdade de Direito e seu estágio em um renomado escritório de advocacia. Inteligente e determinada, ela sonha com uma carreira de sucesso, mas seus planos começam a desmoronar qu...