capítulo 27

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O som das sirenes cortava o ar da madrugada, anunciando a chegada da polícia. A tensão que pairava no ar parecia se dissipar aos poucos, mas a sensação de vulnerabilidade ainda permanecia. Nathan, mais pálido e exausto, se manteve em silêncio, observando enquanto os policiais desciam dos carros e se aproximavam.

— Eles não vão voltar, certo? — perguntou ele, sua voz fraca e carregada de medo, como se precisasse de confirmação para se sentir seguro novamente.

Dante passou a mão pelos cabelos, seu olhar ainda atento às movimentações na rua.

— Não, Nathan. A polícia vai cuidar disso agora. — Ele tentou tranquilizar Nathan, mas sua própria expressão era de preocupação contida.

Os policiais começaram a fazer perguntas, tentando entender o que havia acontecido. Dante, sempre calmo e direto, explicou a situação brevemente, sem deixar transparecer qualquer sinal de medo ou hesitação. Eu observei a interação, ainda tentando processar tudo o que tinha acontecido. Uma parte de mim queria esquecer aquela noite, mas outra sabia que aquilo ficaria marcado em nossa memória.

Nathan, agora mais calmo, foi levado para dentro para prestar um depoimento. Eu e Dante ficamos do lado de fora, o silêncio entre nós quase palpável. Ele me olhou por um momento, como se quisesse dizer algo, mas hesitou.

— Dante, por que você arriscou tanto? — perguntei, finalmente quebrando o silêncio. Eu precisava entender o que o impulsionou a enfrentar aquelas pessoas, mesmo sabendo dos perigos.

Ele me olhou nos olhos, sua expressão firme e, ao mesmo tempo, vulnerável.

— Porque não podia ficar parado vendo algo tão errado acontecer, Scarllete. — Sua voz era baixa, quase um sussurro, mas carregada de uma convicção profunda. — O que fizeram com Nathan não é só violência física. É uma violência contra quem ele é. E isso... — ele balançou a cabeça, parecendo escolher as palavras com cuidado — ...isso eu não posso tolerar.

Senti um nó na garganta se formar enquanto o escutava. O peso das palavras dele, a sinceridade com que ele encarava o mundo e as injustiças ao seu redor me afetaram profundamente.

— Eu sei que foi arriscado. — Ele continuou, olhando para a rua agora deserta. — Mas algumas coisas valem o risco.

Dante não era apenas um homem forte e corajoso. Ele tinha uma compreensão do mundo e das pessoas ao seu redor que, muitas vezes, me surpreendia. Ele se importava, verdadeiramente, e isso me fazia admirá-lo ainda mais.

Me aproximei dele, tocando suavemente sua mão.

— Obrigada — murmurei. — Por tudo.

Ele apertou minha mão em resposta, um gesto silencioso que dizia mais do que qualquer palavra.

Os policiais terminaram de conversar com Nathan e nos informaram que estavam investigando o caso. Disseram que fariam rondas pela área e que tomariam as devidas providências para garantir nossa segurança. Eu sabia que ainda levaria um tempo para que Nathan se sentisse completamente seguro novamente, mas pelo menos agora ele sabia que não estava sozinho.

Depois que os policiais se foram, o apartamento ficou estranhamente quieto. O silêncio da noite finalmente parecia nos envolver, e o peso de tudo o que havia acontecido começou a cair sobre mim. Dante foi até a cozinha, pegou um copo d'água e voltou para o sofá, onde me sentei, ainda tentando me recompor.

— Ele vai ficar bem — disse Dante, sentando-se ao meu lado. — Você fez a coisa certa, Scarllete. Estar aqui para ele, para nós... isso faz toda a diferença.

Olhei para ele, sentindo uma mistura de gratidão e alívio.

— E você também, Dante. Não sei o que teria feito sem você aqui hoje.

Ele me lançou um sorriso suave, mas cansado.

— Sempre estarei aqui por você, Scarllete. Sempre.

As palavras dele ficaram no ar, carregadas de promessas silenciosas que não precisavam ser ditas em voz alta.

A madrugada parecia mais longa do que o normal, e o cansaço finalmente começou a pesar sobre mim. Depois de tudo o que aconteceu, o alívio de saber que Dante estava ao meu lado, que Nathan estava seguro e que a polícia já estava envolvida me dava uma sensação de paz, mesmo que temporária.

— Acho que precisamos descansar — disse Dante, interrompendo meus pensamentos. — Amanhã será um dia longo.

Assenti, mas minha mente ainda estava agitada, revivendo os acontecimentos da noite. Olhei para a porta do quarto onde Nathan estava, e uma onda de preocupação me invadiu. Eu sabia que ele precisava de mais do que apenas uma noite tranquila para superar tudo aquilo. Mas também sabia que ele era forte, e com o tempo e o apoio certo, conseguiria se reerguer.

— Você acha que ele vai conseguir lidar com isso? — perguntei, ainda olhando para a porta fechada.

Dante suspirou, passando a mão pelo cabelo.

— Não vai ser fácil, Scarllete. Essas coisas deixam marcas, e ele vai carregar isso por um tempo. Mas com ajuda... sim, acho que ele vai conseguir superar.

Havia algo reconfortante no tom da voz dele, como se ele realmente acreditasse no que estava dizendo. E, por algum motivo, isso também me fez acreditar.

— E você? — perguntei de repente, virando-me para ele. — Como você está depois de tudo isso?

Dante me olhou, surpreso pela pergunta. Ele parecia sempre tão controlado, tão focado em proteger os outros, que às vezes me esquecia de que ele também precisava de apoio.

— Estou bem — disse ele, com um pequeno sorriso. — Um pouco cansado, mas nada que uma boa noite de sono não resolva.

Sabia que havia mais do que isso, mas não insisti. Dante não era o tipo de pessoa que se abria facilmente sobre seus sentimentos, e eu respeitava isso. Mas, ao mesmo tempo, queria que ele soubesse que, se precisasse, eu estaria ali para ele, assim como ele sempre estava para mim.

— Vamos dormir, então — sugeri, levantando-me do sofá. — Amanhã a gente pensa em como ajudar o Nathan a passar por isso.

Dante concordou, levantando-se também. Enquanto apagava as luzes e trancava a porta, uma sensação de segurança tomou conta de mim. Apesar de tudo, estávamos juntos, e isso me dava força para enfrentar o que quer que viesse a seguir.

Deitei-me na cama, e Dante logo se juntou a mim. O quarto estava silencioso, apenas o som suave de nossas respirações preenchendo o espaço. Ele se virou de lado, me puxando para perto dele, e, por um momento, todo o caos da noite parecia distante.

— Eu amo você, sabia? — sussurrei, minha voz quase apagada pelo cansaço.

Dante beijou o topo da minha cabeça, suas mãos deslizando suavemente pelas minhas costas.

— Eu também amo você, Scarllete — ele respondeu, sua voz baixa e reconfortante. — E nada vai mudar isso.

Fechei os olhos, sentindo o calor do corpo dele ao meu lado. Por mais complicado que o mundo lá fora fosse, dentro daquele quarto, eu me sentia segura. E, finalmente, o sono começou a me vencer.

O som da noite quieta nos envolveu, e, pela primeira vez em horas, deixei minha mente descansar, sabendo que, pelo menos por enquanto, estávamos bem.

O Fruto ProibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora