Duas semana depois.Bom, depois da balada nada mudou. Foi um pensamento passageiro achar que Dante havia flertado comigo — qualquer um poderia ter pensado o mesmo. A vida voltou ao normal, com as rotinas acadêmicas e os professores começando a falar sobre provas, o que era esperado. Mas algo estava me incomodando profundamente, e não era sobre a faculdade, amigos ou o professor bonitão. Era a visita iminente dos meus pais. Sim, o temido senhor e senhora Lee Blanc, o casal que assombra não só o tribunal, mas o mundo acadêmico.
Meu pai, um juiz renomado, e minha mãe, uma advogada imbatível, eram o tipo de pessoas que sempre deixavam sua marca onde quer que fossem. Com eles prestes a chegar, eu estava prestes a enfrentar a pressão de manter o meu nome, e a expectativa era alta. Sim, eu estava nervosa. A minha mãe conhecia ou havia estudado com metade dos professores da minha faculdade, e meu pai tinha contatos no tribunal que poderiam facilmente cruzar com os da universidade.
Enquanto me vestia com uma calça de moletom marrom e uma blusa da mesma cor que destacava um detalhe no seio, percebi que minha escolha de roupas refletia meu estado mental. Peguei um casaco do armário e, ao olhar para o espelho, percebi que estava vestida toda em marrom — talvez um reflexo do meu estado de espírito. Pego minha mochila e saio de casa.
O trajeto para a faculdade foi um caos. Quase fui atropelada por um ônibus, mas uma garota me puxou para trás no último segundo. Naquele momento, eu teria aceitado qualquer coisa para não enfrentar meus pais.
A garota, que estava estudando artes na mesma faculdade que eu, se tornou uma companhia momentânea, mas eu esqueci de perguntar seu nome. Com a pressa, para não ser barrada na porta da sala de aula.
Ao virar o corredor, avistei Dante, o "diabo" em pessoa, andando calmamente em direção à sala. Acelerei o passo e passei por ele como um vulto, entrando na sala e indo direto para o meu lugar. Liam estava me observando, segurando um riso.
— Quase, Senhorita Lee Blanc — Dante comentou, fechando a porta com um sorriso malicioso. Respiro fundo, me segurando para não mandar um gesto obsceno. Mas a vida não é fácil, e logo ouvi batidas na porta. Dante caminhou até a entrada e a abriu, mas Caio tentou passar correndo. Dante o segurou com firmeza.
— Não, senhor Thompson, não vai entrar na minha sala.
— Você deixou Scarlatte entrar da última vez — Caio protestou, e o tom de Dante se tornou mais firme.
— Ela entrou sem eu perceber. — Dante respondeu, com um olhar que misturava rigidez e uma pitada de ironia. — E bom, ela é dama. Você é uma dama, senhor Thompson?
— Então você dá privilégios para mulheres? — Caio questionou, e eu senti a tensão no ar aumentar. — Ou está querendo comer as alunas?
— Saia da minha sala! — Dante ordenou, com uma intensidade que fez todos na sala prenderem a respiração. Caio, ainda firme, não se moveu.
— Eu não vou sair. O senhor não pode me negar o direito ao estudo — Caio insistiu, desafiador.
— Eu estudei por 5 anos, sou advogado há 10 anos. Se você pretende levar isso a um nível mais alto, sugiro que se retire agora. Caso contrário, esteja preparado para enfrentar um processo por calúnia. — A sala ficou em silêncio absoluto. — Então, senhor Thompson, prefere enfrentar um tribunal? Se não sair agora, eu serei obrigado a processá-lo.
Caio baixou a cabeça e saiu, fechando a porta com força. Dante respirou fundo e se voltou para a turma.
— Espero que tenham aprendido algo. Nunca acusem sem provas. Acusações falsas podem resultar em um ótimo processo. — Ele sorriu, voltando-se para sua mesa. Antes de sentar, se virou para a turma e acrescentou — Quero estabelecer uma regra com vocês: teremos 10 minutos de tolerância, como em qualquer outro lugar. Se chegarem depois disso, não entrarão. Todos de acordo?
Todos concordaram com a nova regra, e o breve conflito entre professor e aluno rapidamente se espalhou pela universidade como um vírus. Caio cabou por ser expulso, a universidade não tolera desacato aos professores, especialmente os de direito.
Voltava do estágio exausta, com as pernas doendo e a cabeça latejando. A dor de cabeça era insuportável. Assim que cheguei em casa, deitei-me na cama sem me importar com a necessidade de um banho. Apesar do cansaço, levantei-me e tomei um banho gelado, o choque térmico me ajudou a esquecer a dor. Envolvi-me na toalha e, ao conferir a barra de notificações, vi uma mensagem da minha mãe: "Chegamos. Vamos te levar à faculdade amanhã. Seu pai quer ver um amigo." Bloqueei o celular e tentei dormir.
Acordei com a luz do sol brilhando no meu rosto. Ao me sentar na cama, observei meu reflexo no espelho: minha pele nua iluminada pela luz do sol tinha uma qualidade quase etérea. Após um banho quente, comecei a procurar uma roupa adequada, algo formal, mas não excessivamente formal para evitar críticas dos meus pais. Vesti um short de alfaiataria branco, uma blusa de alça da mesma cor, com um cinto marrom fino, e finalizei com um salto.
Enquanto passava gloss nos lábios, ouvi batidas na porta. Meus pais chegaram. Respirei fundo, conferi minha aparência uma última vez e saí do quarto para encontrá-los na sala.
— Bom dia — falei, abrindo a porta e vendo a expressão séria dos meus pais. Dei-lhes passagem e fechei a porta atrás deles.
— Achei que não iria abrir a porta. Afinal nem se deu ao trabalho de responder minhas mensagens — minha mãe reclamou, com seu tom habitual de crítica. — E Scarlatte, essa roupa é apropriada para a faculdade?
— Rafaela, vamos parar com isso — meu pai interveio, seu tom suave contrastando com a rigidez de minha mãe. Ele se aproximou e me deu um abraço. — Estava com saudades, filha. Não troque sua roupa pelos comentários de sua mãe; você está bonita.
— Eu não iria trocar. — Respondi, com uma simplicidade que refletia um alívio inesperado ao receber o apoio do meu pai. — Eu estava com saudade de vocês, mas vamos pular a parte melodramática. Não quero me atrasar.
— Ela tem razão — meu pai concordou, dirigindo-se para a porta. — Vamos, querida.
O caminho até a faculdade foi rápido, mas encontrar uma vaga demorou um pouco. Quando finalmente chegamos ao portão, uma voz chamou meu pai.
— Thomas? — Ao me virar, meu espanto foi evidente.
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O Fruto Proibido
RomanceScarlatte vive uma vida dupla entre os corredores de uma prestigiada faculdade de Direito e seu estágio em um renomado escritório de advocacia. Inteligente e determinada, ela sonha com uma carreira de sucesso, mas seus planos começam a desmoronar qu...