capítulo 15: pelos olhos de Dante 3

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Na manhã seguinte, acordei com a mente ainda tomada pelo que havia acontecido na noite anterior. O gosto de seus lábios, o calor de seu corpo junto ao meu, tudo estava gravado em minha pele, como se cada instante ainda estivesse se desenrolando. Porém, logo que me dei conta de onde estava indo — a faculdade, onde eu a veria novamente como minha aluna —, um misto de ansiedade e nervosismo tomou conta de mim.

Vesti-me com a costumeira camisa social e calça preta, mas hoje, a gravata parecia um pouco mais apertada. Estava acostumado a manter um ar de profissionalismo impecável, mas agora, com o que havia acontecido entre nós, seria difícil disfarçar o que eu sentia.

Ao chegar à universidade, o ambiente familiar dos corredores não fez nada para acalmar meus pensamentos. Fui direto à sala de aula, tentando manter o foco nos casos que discutiria com os alunos, mas uma parte de mim não conseguia parar de pensar em Scarlatte. Sabia que ela estaria lá, e a tensão entre nós seria inegável.

Quando entrei na sala, a conversa entre os alunos diminuiu, e todos começaram a se acomodar em seus lugares. Meu olhar percorreu a sala até encontrá-la. Scarlatte estava sentada no meio, com seus livros e cadernos organizados sobre a mesa, tentando parecer indiferente, mas seus olhos vacilaram ao encontrar os meus. Havia uma mistura de desejo e nervosismo em sua expressão, algo que provavelmente refletia a minha própria confusão.

— Bom dia, turma — comecei, minha voz soando mais firme do que eu esperava. — Hoje vamos discutir a aplicação do direito empresarial em fusões e aquisições, algo que vimos de perto na nossa última aula.

Enquanto falava, tentava me concentrar no conteúdo, mas não conseguia evitar roubar olhares na direção de Scarlatte. Ela estava atenta, participando das discussões, mas percebia o desconforto em seus gestos, como se estivesse tentando controlar a mesma confusão que me consumia. Cada vez que nossos olhares se cruzavam, era como se um ímã invisível nos atraísse, a tensão aumentando a cada segundo.

Ao final da aula, os alunos começaram a recolher seus pertences e sair da sala. Scarlatte permaneceu em seu lugar, demorando um pouco mais para organizar suas coisas. O ambiente esvaziou-se aos poucos, e quando percebi, estávamos praticamente sozinhos.

Ela se levantou devagar, e me aproximei antes que ela pudesse sair.

— Scarlatte, podemos conversar por um minuto? — minha voz saiu mais baixa, quase em um tom cúmplice.

Ela hesitou, olhando para os lados como se tentasse avaliar se aquilo era seguro, mas acabou assentindo.

— Claro, Dante — disse, sua voz mais calma do que eu esperava, mas ainda com uma leve tremulação.

Fui até a porta e a fechei, garantindo que ninguém entraria sem bater.

— Sobre ontem... — comecei, sentindo o peso daquilo em cada palavra. — Eu não consegui parar de pensar no que aconteceu. No que fizemos.

Ela suspirou, cruzando os braços, defensiva, como se estivesse lutando contra a mesma onda de emoções.

— Eu também, Dante. — Seus olhos se fixaram nos meus, sem hesitação desta vez. — Mas você sabe que isso não pode continuar. Não desse jeito.

— Eu sei — concordei, embora meu corpo gritasse o contrário. — Mas é difícil quando estamos tão próximos o tempo todo.

Ela assentiu, sem conseguir esconder o conflito interno. Sabíamos que estávamos jogando com fogo, e a linha entre o que era certo e o que queríamos parecia se dissolver a cada segundo.

— E agora? — Ela perguntou, finalmente quebrando o silêncio que pairava sobre nós. — Como seguimos daqui?

Eu não tinha uma resposta imediata. O lado racional me dizia que precisávamos nos afastar, colocar limites claros. Mas o outro lado, aquele dominado pelo desejo, gritava para que continuássemos, para que nos entregássemos ao que sentíamos.

Dei um passo em sua direção, mas desta vez, ela ergueu a mão, criando uma barreira invisível entre nós.

— Dante... não aqui. Não assim.

O silêncio entre nós ainda pairava, como um espectro do que tínhamos acabado de discutir, mas algo dentro de mim já sabia que manter distância seria uma missão impossível. Eu podia dizer as palavras corretas, insistir que era o melhor para nós dois, mas meu corpo gritava outra coisa. E, ao que parecia, o dela também.

Enquanto Scarlatte se preparava para sair da sala, algo me puxou para ela novamente. Não era algo que eu pudesse controlar, era como se um imã invisível estivesse nos empurrando de volta um para o outro. Antes que ela pudesse cruzar a porta, dei um passo à frente e toquei seu braço de leve, o suficiente para fazê-la parar.

Ela se virou devagar, o rosto ainda tenso, mas seus olhos me disseram tudo. Havia desejo ali, misturado com toda a confusão que estávamos vivendo. Nenhum de nós queria admitir, mas era como se estivéssemos lutando uma batalha perdida desde o início.

— Scarlatte... — murmurei, minha voz mais rouca do que eu pretendia.

Ela abriu a boca para responder, mas nenhuma palavra saiu. Em vez disso, olhou diretamente para mim, e eu vi a faísca que ela estava tentando esconder.

Num movimento quase automático, dei mais um passo à frente, aproximando-me dela. Meu corpo reagia antes da minha mente, ignorando a razão, as consequências, tudo. Eu sabia que aquilo era errado, sabia que estávamos ultrapassando limites perigosos, mas não consegui parar.

Scarlatte não recuou. Pelo contrário, ela me encarou, o peito subindo e descendo em uma respiração rápida, como se estivesse presa na mesma espiral de desejo e indecisão.

Então, sem pensar, eu a puxei para perto de mim. Nossos corpos colidiram de forma suave, e antes que eu pudesse hesitar, nossos lábios se encontraram novamente. O beijo foi tão intenso quanto o da noite anterior, como se estivéssemos compensando cada segundo de distância que havíamos tentado impor.

Ela correspondeu com a mesma urgência, suas mãos subindo pelo meu peito até se prenderem na minha nuca. O toque dela incendiava cada parte de mim, e eu soube, naquele momento, que não havia mais volta. Qualquer resolução que eu pudesse ter tomado antes havia desaparecido completamente.

Empurrei-a levemente contra a porta da sala, enquanto o beijo se aprofundava, nossas respirações misturadas, o calor dos nossos corpos inundando o pequeno espaço. Cada segundo ao lado dela parecia quebrar mais uma barreira, nos empurrando cada vez mais para o abismo que sabíamos que não deveríamos atravessar.

— Dante... — Ela sussurrou entre beijos, os olhos fechados, o corpo inteiro entregue ao momento.

— Eu sei... — Respondi, mas minha boca já estava nos seus lábios novamente, incapaz de se afastar.

Eu podia sentir sua pele queimando contra a minha, o cheiro do perfume dela enchendo o ar, e tudo ao nosso redor desapareceu. A sala de aula, as responsabilidades, a posição que eu deveria manter — nada disso importava. Tudo o que existia naquele momento era ela.

Ela deslizou as mãos para os meus ombros, e eu as prendi em sua cintura, apertando-a contra mim. O mundo parecia desmoronar ao nosso redor, mas nós continuamos, ignorando todas as vozes racionais que nos diziam para parar.

— Dante... — Ela murmurou de novo, com a voz carregada de uma mistura de urgência e dúvida, mas ainda assim não recuou. O jeito que seus dedos se apertavam contra minha nuca revelava que ela estava tão entregue quanto eu.

Finalmente, nos separamos, mas foi apenas o suficiente para que nossos olhares se encontrassem. Ficamos assim, ofegantes, ainda segurando um ao outro, sem conseguir dizer nada.

Eu sabia que precisávamos parar. Precisávamos colocar um fim nisso, pelo menos por agora. Mas a verdade era que, no fundo, nenhum de nós queria. Sabíamos o quanto isso complicava nossas vidas, mas estávamos presos em algo maior do que nós mesmos.

— Não deveria acontecer de novo... — Ela disse, mas suas mãos ainda estavam em mim, sua respiração ainda quente contra meu rosto.

— Não deveria — repeti, mas em vez de me afastar, puxei-a para mais perto, sentindo o calor do seu corpo.

Ela mordeu o lábio, como se estivesse tentando decidir entre o que queria e o que devia fazer, mas antes que qualquer uma das duas escolhas pudesse ser feita, nossas bocas se encontraram de novo, e tudo o mais desapareceu.

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