A semana entre o natal e o ano novo parecia se arrastar lentamente, como um caramujo.
Na manhã seguinte do baile, Gina estava cautelosa ao me perguntar sobre a noite quando disse que pularia o café da manhã.
Óbvio que ela tinha me visto com Malfoy e ficado bem surpresa. E depois quando foi me procurar para voltarmos para a torre da Grifinória, Briar estava aos prantos com Blásio e falando qualquer coisa sobre mim.
Então precisei contar, mesmo que por cima, a recente briga.
Aparentemente não foi uma surpresa assim, já que Gina disse que ela e Fred tinham apostado quanto tempo eu aguentaria antes de explodir com minha amiga.
- Às vezes acho que vocês não entendem o conceito de limites. - Resmunguei, me enfiando debaixo das cobertas de novo.
- Feliz natal, maninha. Depois subo com seus presentes.
E assim ela o fez. Tive mais uma hora para cochilar antes de ser acordada com um cutucão na perna.
- Me deixe em paz! - Disse debaixo do travesseiro, ainda com sono.
- Rony está querendo falar com você. Na verdade, ele parece que vai explodir, isso sim.
- Estou dormindo.
- E ele está quase se esgoelando lá embaixo.
Fiquei em alerta assim que ela disse, quase conseguindo visualizar meu irmão berrando na porta que dava para os dormitórios das meninas. Se eu prestasse bem atenção, até conseguiria ouvi-lo me chamar.
- Eu acho que mato alguém hoje...
- Estou contando com isso. - Gina brincou, me dando espaço para levantar e ver o que o idiota do meu irmão tanto queria.
O assunto, obviamente, era o baile. Mais precisamente, Draco Malfoy.
- Onde você estava com a cabeça ao dançar com Malfoy? Sério Elizabeth? Você nem deveria estar naquele baile, ainda mais com aquelas pessoas. Mas dançar com Draco Malfoy? Logo ele de todas as pessoas! Está ficando senil?
- JÁ CHEGA! - Berrei, interrompendo aquela descarga verbal. - O que eu faço ou deixo de fazer não é da sua conta, Ronald Weasley.
- Você é minha irmã mais nova, claro que é da minha conta.
- As únicas pessoas para quem devo satisfação são meus pais e nem isso daria direito a eles de ditar com quem eu ando ou não. E vocês, não tem coisa melhor para fazer não? - Perguntei a todos os outros alunos que tinham parado para acompanhar a confusão.
Como se tivessem tomado um choque, a mini multidão começou a se mexer de novo e aproveitei para voltar à minha cama.
O dia já não tinha começado nada bem.
Pelo menos tiveram os presentes para dar uma animada. O suéter que mamãe fez, com a letra L, os docinhos enviados por Gui e o livro de Carlinhos, sobre as plantas típicas da índia e seus usos medicinais.
Eu e Gina tínhamos a tradição de nos presentear com algo feito por nós mesmas.
Desde quando descobri que gostava muito de herbologia e tinha uma facilidade com poções, Gina me pedia para fazer perfumes para ela, enquanto ela inventava uma nova receita para mim. E foi uma torta com mirtilos e raspinhas de limão a sobremesa do natal.
Pode não ter sido nada saudável, mas aquela torta foi meu almoço e por ser natal, ninguém brigou comigo por ter devorado ela toda na frente da lareira, ainda triste pela briga com Briar.
Um dos motivos de não querer sair da minha sala comunal era para evitar encontrá-la. Não sabia qual seria sua reação e tinha medo de ver sua indiferença em relação à nossa amizade.
Caramba, como eu queria conversar com Penélope!
Mas o que podia fazer era comer minha torta e ajudar os gêmeos com alguma experiência nova.
Não pude fugir do jantar, entretanto. Se eu não descesse por bem, Gina tinha ameaçado me levar por mal e não quis arriscar sua fúria.
Aquela era a primeira vez que ficava na escola durante o natal e não pude deixar de me surpreender com o tamanho e fartura da ceia de jantar.
Tudo o que experimentei estava tão bom que quase me esqueci que Briar estava na mesa logo atrás da minha. Foi esforço não me virar para cumprimentá-la, ou sorrir, ou até desejar um feliz natal.
E foi quando me lembrei que já tinha mandado seu presente há algumas noites atrás.
Assim como Gina, ela e Penélope me pediam alguma coisa relacionada a cheirinhos e aromatizadores.
Perceber que eu não tinha recebido nada dela, foi como um chute na bunda. Mas eu esperava que fosse diferente? Nem sabia o que responder em relação àquilo.
- Essa é a terceira vez que você bufa. - Jorge riu, jogando um pãozinho na minha cara.
- Não sei o que fazer em relação a Briar. - Comentei baixinho, não querendo que ninguém mais escutasse.
- Talvez não tenha muito o que fazer. Só dê um tempo e logo ela vai perceber a cagada que tem feito.
- Desde quando você é tão sensato assim? - Perguntei surpresa, segurando um risinho ao ver a careta do meu irmão.
- Eu sou quase um conselheiro das vidas alheias, maninha.
- Coitadas dessas pessoas.
Um pigarrear atrás de mim nos interrompeu.
- Posso falar com você? - Briar perguntou, sem desviar os olhos dos meus. Ela parecia estar mais calma do que a noite anterior, e um tanto arrependida, mas ela nunca foi uma pessoa fácil de ler.
- Claro.
A segui até o pátio externo. Por conta da neve fina que caía, tudo estava coberto de branco e fazia tanto frio... Foi só sair para sentir falta do calor das lareiras da escola.
Fomos nos sentar em um banquinho congelado.
Ela parecia desconfortável, pela forma como se remexia no assento duro e frio.
- Sabe, eu fiquei com muita raiva de você ontem... Principalmente por não ter dito nada daquilo antes. - Quase me levantei para sair dali, se não fosse sua mão me segurando. - Mas quando eu parei para pensar em que momentos você poderia ter conversado comigo, eu não consegui lembrar da última vez que a gente teve um momento nosso.
- Expresso Hogwarts. Primeiro dia de aula.
- Sério? - Ela pareceu genuinamente surpresa. E até chateada. - Bom, até Téo disse o quanto eu estava presa no meu próprio mundinho e para ele perceber algo assim, é porque a coisa foi séria.
- Eu sei que Blásio é importante pra você...
- E vocês também são. Sinto muito por não perceber que quem estava se afastando era eu. Feliz natal, Lizzie.
Ela me estendeu um embrulho pequeno, enrolado em papel vermelho com reninhas de nariz azul e bengalas de natal. Eu gostava de brincos e anéis e colares, e aquele era um presente que Briar gostava de me dar. Mas daquela vez, a pulseirinha tinha três pingentes.
- A vassoura para mim, os raminhos para você e o caderno representando Penélope. - Apontou ela, mostrando que ela usava uma igual no próprio pulso.
Aquilo não reparava tudo, mas a conversa havia sido um começo e o bracelete lembrava a importância da nossa amizade.
Eu tinha esperança que aquele gesto fosse o suficiente para trazer as coisas de volta ao normal.
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Light in the Darkest of Times || Malfoy Weasley
FanfictionElizabeth Margo Weasley, a segunda garota dentre oito irmãos. E crescer cercada de irmãos mais velhos bem sucedidos e ainda com uma gêmea muito parecida consigo mesma fez com que a pequena Liza procurasse o que tanto a diferenciava dos demais. Mes...