Capítulo 17 - Largo Grimmauld

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Papai encostou a varinha na porta preta desbotada que surgiu no predinho trouxa, fazendo a maçaneta prata com forma de serpente enroscada se abrir para um hall escuro.

- Vamos. Fiquem perto. - Mandou mamãe, entrando com coragem na casa.

Assim que atravessei a soleira, fui invadida pelo cheiro de poeira e umidade. Era como se aquele lugar tivesse ficado fechado por muitos anos. E talvez fosse bem isso o que tinha acontecido mesmo.

As paredes estavam descascadas, os tapetes puídos, cortinas comidas por traças, o lustre e castiçais cheios com teias de aranhas. Os quartos tortos e escurecidos pelo tempo, além de um porta-guarda-chuvas que parecia ter sido feito com perna de trasgo.

Que lugar era aquele?

- Sirius? - Papai chamou e logo o famoso fugitivo de Azkaban apareceu na nossa frente, com um enorme sorriso no rosto.

Olhei assustada para meus pais, que estavam estranhamente calmos e familiarizados até. Meus irmãos também... Só eu e Gina que pareciamos ter sido deixadas de lado da informação que nossa família era amiga do notório assassino Sirius Black.

- Sejam bem-vindos à minha casa. Dumbledore se juntará a nós durante o jantar e, enquanto isso, se acomodem e sintam-se à vontade.

- Obrigado, obrigado. - Papai o cumprimentou com um aperto de mão e fomos guiados para um breve tour pela residência de Black.

Como na Toca, eu e Gina acabamos dividindo um quarto, os gêmeos em outro e Rony e Gui também se acomodaram juntos.

- Você sabia? - Gina me perguntou, assim que fomos deixadas sozinhas no nosso novo aposento.

- Não fazia a menor ideia.

- Aquilo tudo então, era mentira?

- Duvido que estaríamos aqui caso Black fosse culpado por assassinar os pais de Potter. - Respirei pesado, tentando imaginar como seriam minhas férias a partir de então.

Não estava preparada para aquela nova organização.

A partir do jantar com Dumbledore, o que já me era estranho o suficiente aquela intimidade toda com o diretor, soubemos que durante as próximas semanas, haveria um movimento intenso na casa. Membros da Ordem vinham e debatiam sobre informações do mundo externo ou possíveis movimentações dos seguidores e aliados de Voldemort.

Eles se fechavam na cozinha para reuniões demoradas e privativas e depois iam embora, para missões ou qualquer outra coisa.

Nem os gêmeos, nem Rony ou nós duas tínhamos permissão para participar desses momentos.

"São jovens demais" mamãe dizia, irredutível.

Em um dia, nosso antigo professor de Defesa Contra as Artes da Guerra, Remo Lupin, chegou acompanhado de uma jovem mulher e da amiga de Rony, Hermione Granger.

- Mione! - Rony correu para abraçá-la e aproveitou para atualizar todos os acontecimentos.

- Alvo pediu para trazê-la para cá também. - Lupin informou à mamãe, que já puxava a garota para tomar um grande prato de sopa.

Mais uma cama foi colocada em nosso quarto, mesmo que ela passasse a maior parte do tempo com Rony.

O lado bom de ter todo aquele tempo livre durante as reuniões, era que Fred e Jorge podiam se dedicar às suas invenções. Eles se fechavam em seu quarto durante horas e não ouvia nadinha do lado de fora, sabendo ser por conta dos tais feitiços de proteção que eles mencionaram colocar.

Vez ou outra, com bastante frequência até, eles me chamavam para ajudá-los com alguma poção ou efeito colateral de algum docinho que inventavam.

Pelo menos aquilo me ajudava a aguentar aquelas férias trancada dentro de uma casa abarrotada demais.

Estava subindo para alimentar o hipogrifo de Sirius quando dois pares de mãos me puxaram para dentro do quartinho bagunçado dos gêmeos.

- Maninha, olha o que acabamos de inventar! - Fred exclamou, mostrando algo como um longo fio claro molenga.

- E o que seria isso?

- Ainda pensando no nome, mas agora podemos tentar ouvir o que eles tanto falam naquelas reuniões! - Disse Jorge.

- É só a gente enfiar essa ponta no ouvido e a outra deixar no lugar que queremos ouvir e pronto!

- Como uma orelha extensível? - Perguntei e a expressão dos dois se iluminou.

- ISSO! - Gritou Fred, batendo na minha mão. - Vamos testar.

Descemos para a cozinha, nos deparando com a porta fechada que indicava o andamento de uma reunião. Sutilmente, Jorge empurrou a outra extremidade do fiozinho molenga por baixo da porta e comemorou silencioso ao ouvir as vozes do outro lado.

Impaciente, Fred puxou para si e se concentrou no que eles estavam dizendo.

- Quero ouvir também! - Sussurrei, cutucando meu irmão na barriga que, relutante, me deu o fio.

Não me parecia muito higiênico, mas a curiosidade era maior, então coloquei o fiozinho no meu ouvido e então as vozes ficaram mais altas. Ainda um pouco abafadas, como se estivesse ouvido através de um telefone, mas ainda assim, dava para entender o que eles falavam.

- ... Figg está de olho em Harry dia e noite, Sirius. - Identifiquei sendo a voz do professor Lupin. Ele parecia cansado e me lembrei que as noites de lua cheia haviam sido a pouco tempo.

- Arabella não faz uso de magia, Remo. Ela não seria de muita ajuda durante um ataque. - Sirius estava aflito, algo como afobado e sua voz aumentava e diminuía com frequência. Parecia estar andando de um lado para outro.

- Dumbledore nos garantiu que a casa dos tios é um dos lugares mais seguros agora para Harry. - Mamãe soava da mesma forma acalentadora de quando não estava brigando ou dando bronca em nós.

- Temos companhia. - Alertou Alastor Moody, nosso outro ex-professor.

- Moody nos descobriu! - Avisei, tirando o fio do ouvido e corri com os gêmeos o mais longe possível antes que mamãe abrisse a porta, furiosa.

- EU JÁ FALEI QUE ESSA REUNIÃO NÃO É LUGAR PARA CRIANÇAS!

- Corre, corre, corre. - Jorge me puxou mais rápido.

Eles até tinham a oportunidade de aparatar, mas por lealdade, eles não me deixaram ali sozinha. Subimos as escadas rapidinho, de volta para o quarto dos gêmeos, abafando nossas risadinhas.

Haviam caldeirões esfumaçantes, livros arregaçados, rabiscos e anotações por todo o lado, além de exemplares e protótipos das mais novas invenções dos dois.

- Estamos pensando em alguns docinhos para ajudar a matar aula. - Disse Jorge.

- Ano passado, perto dos nossos N.O.M.s, muita gente precisou recorrer a ajudas externas para lidar com o nervosismo ou estudos. - Explicou Fred.

- Então, porque não? - Concluiu Jorge. - Até agora, pensamos neste doce que faz você desmaiar. Esse outro, causa náuseas e vômitos...

- E como passar mal ajudaria nos estudos? - Perguntei, dando uma olhadinha nas anotações garranchadas.

- Fácil, você tem uma desculpa para sair da sala de aula e ir estudar, ou descansar, ou até relaxar um pouquinho. - Fred deu de ombros, orgulhoso de si mesmo.

Estando naquele refúgio por um tempinho, eles aproveitaram para mostrar alguns de seus planos e ajudei com um detalhe aqui, outro acolá em algumas das poções e antídotos que eles testavam.

Light in the Darkest of Times || Malfoy WeasleyOnde histórias criam vida. Descubra agora