dance, dance

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Hyunjin amava a estrada mais do que qualquer outra coisa. Dirigir sem rumo era sua paixão, e ele amava ver as diversas paisagens. Mesmo quando era entediante, mesmo quando ele estava cansado; era detrás do volante que ele se sentia mais à vontade. Com o vento soprando seus cabelos para longe e um cigarro entre seus dedos tatuados, Sam estava em casa. O CD rolando com suas mesmas músicas de sempre e o barulho do pneu na estrada era tudo que ele precisava.

Ainda assim, havia um leve aperto no seu coração. Uma sensação de que algo faltava, de que tinha mais uma coisa que ele queria. Ele percebia isso quando olhava para o banco do passageiro e não tinha ninguém. Quando encarava seus maços de cigarro e eles eram de uma marca diferente. Quando pegava suas fotos da polaroid e sentia uma vontade insana de chorar.

Porque três anos tinham se passaram e em momento algum ele tinha visto Jack Yang.

Não que ele não tivesse pensado sobre aquilo; voltar para sua pequena cidade rural estava sempre no fundo da sua cabeça, mas ele sentia que, se fizesse isso, se arrependeria. Hyunjin não podia voltar, não podia ficar estagnado em um lugar. Ele precisava do movimento constante, da mudança de ares, das novas paisagens. Sam tinha ido da fronteira com o Canadá até a fronteira com o México, tinha dirigido de leste a oeste e de oeste a leste, e mesmo assim, mesmo assim não parou naquela pequena cidade que lhe era tão familiar.

Ele sempre foi alguém impulsivo; decidia para onde ia de último minuto, pegava qualquer trabalho que o oferecessem sem pensar muito e zanzava pelo país como se nada importasse. E por isso, no impulso gerado única e exclusivamente por uma saudades capaz de matar um homem, Sam se viu pegando a estrada na única direção que ele tinha jurado nunca pegar.

Hyunjin ligava para Jeongin de tempos em tempos, quando a dor em seu peito era tanta que ele não conseguia aguentar mais um segundo sem ouvir a voz de Jack, sem poder escutá-lo o chamar de Sammy com aquele sarcasmo maldito, sem poder sorrir toda vez que falava Yang. Mas já faziam mais de seis meses desde a última ligação e Sam nem mesmo conseguia entender por que tinha feito o que fez. Às vezes tudo era confuso demais e ele não conseguia raciocinar direito.

A noite estava caindo quando ele adentrou a cidade. As luzes dos postes não eram o suficiente para iluminar a rua, mas Hyunjin não precisava delas para saber para onde ir. Ele tinha memorizado o caminho até a casa do amigo de Jack como se fosse a palma da sua mão.

Ele estacionou na frente da casa e olhou para suas mãos sobre o volante. Elas tremia. Ele estava com medo. Medo de Jeongin não o querer mais, medo de ele ter seguido com sua vida, achado alguém novo.

Sam buscou o maço de cigarros e colocou um entre os lábios, acendendo-o ainda com dedos trêmulos. Ele tragou profundamente e assoprou a fumaça para fora da janela. Era agora ou nunca.

Hyunjin saiu da caminhonete e jogou a bituca do cigarro no chão, pisoteando-a em seguida. Caminhou até a porta e bateu três vezes, esperando pacientemente, sem nem saber o que diria, o que faria.

Para sua felicidade, quem abriu a porta não foi Jack, então ele teve tempo de se preparar.

— Quem é?

— Sam. Sam Hwang. Eu sou amigo do Jeo- do Jack Yang. Ele tá?

— Ele foi jantar no Nick's.

— Beleza, obrigado.

Sam caminhou até o Nick's, sentindo seu estômago pesar. A caminhada lhe dava mais tempo para pensar em como prosseguir com a conversa, mas seu cérebro parecia feito de algodão; ele era pura estática, um vazio enorme no qual o nome Jack Yang ecoava.

Ele entrou na lanchonete e procurou Jeongin com o olhar. O encontrou sentado sozinho, tomando um milkshake de morango. Hyunjin se aproximou, devagar, sem querer assustá-lo.

— Yang.

Jack ergueu os olhos rapidamente, se demorando na figura de Sam. Ele tinha mudado naqueles últimos anos; mais tatuagens e piercings adornavam seu corpo, e seus cabelos tinham sido tingidos de um vermelho cor de sangue.

— Sammy.

Por um minuto, eles apenas se encararam em completo silêncio, nenhum capaz de proferir uma palavra sequer. Então, pra a surpresa de Sam, Jack se levantou abruptamente e o abraçou como se ele fosse se desfazer a qualquer minuto.

— Você voltou.

Jeongin sussurrou.

— Voltei. Eu disse que você não ia se livrar de mim, Yang.

— Eu pensei... que você tinha achado alguém melhor.

— Nunca existiria alguém melhor, Yang. Você sabe disso.

— Não sei, você tem o país inteiro na palma da mão, Sammy.

— O país inteiro não é nada comparado a você.

Jack teve a decência de corar.

— Você vai ficar? Ou veio só de passagem?

Hyunjin ficou quieto; ele não sabia qual era a resposta definitiva daquela pergunta.

— Não sei. O que você quer?

— Eu?

— É, você, Yang.

Ele olhou para os próprios sapatos.

— Eu quero ir pra Nova York. Quero começar do zero lá. Quero fazer uma faculdade.

Sam sorriu.

— Então é pra lá que nós vamos.

Jack sorriu também.

— Ótimo.

E na manhã seguinte, com as malas guardadas na caminhonete, Sam e Jack partiram, dessa vez sem olhar para trás.

let's hit the fucking road and never look back Onde histórias criam vida. Descubra agora