boys don't cry

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oie, como vocês estão?
sei que ninguém perguntou, mas, sei lá, tá tudo meio esquisito — tô sentindo um puta desânimo esses dias e eu ia colocar a história em hiatus, mas pensei que seria muita sacanagem porque eu já tenho ela quase inteira escrita
enfim, vamos para o que interessa: a partir desse ponto é que o bicho começa a pegar. esse capítulo e em especial o próximo são meio pesados, então fica aí o aviso
se cuidem, viu?
muito obrigada por tudo
deixem uns comentários pra me animar, por favor
boa leitura!





Passaram a noite em um hotel de beira de estrada. Hyunjin era apaixonado pela estética retrô daquelas pousadinhas simpáticas, mas naquele dia em questão acabaram dando um certo azar. O casal hospedado no quarto ao lado estava bastante empolgado, e a parede que dividia os cômodos era de um gesso deveras fino. Desse modo, nem Sam nem Jack foram capazes de pegar no sono cedo.

— Isso é... desconfortável.

— Nem me fala. Não tô nem um pouco interessado em ficar ouvindo a transa dos outros.

Jeongin riu, e virou-se na sua cama para conseguir enxergar Hyunjin direito.

— Bom, acho que nós vamos ter que conversar pra passar o tempo, né?

— É, acho que sim. E aí?

— E aí?

— Você bebe, Yang?

— Não muito, bebida não é a minha praia.

— Nossa, eu adoro uma cervejinha gelada num dia quente de verão.

— Eu não gosto nem da cerveja e nem do verão.

Sam riu.

— Tudo bem, então. Do que você gosta?

— Como assim, do que eu gosto? Eu gosto de várias coisas.

— Do que você gosta que não te faz "certinho", hein?

— Você ficou encucado com isso, né, Sammy?

— Pra caramba. Você me mata de curiosidade sendo assim tão enigmático, Yang.

Jack parou e pensou a respeito.

Mentia? Mandava a real? Não queria assustar ainda mais Hyunjin — aquela história do canivete talvez tivesse sido demais. Morria de medo de falar de si, mas Sam era duro na queda; parecia disposto a conversar apenas em termos de igualdade. E Jeongin não podia negar que o mistério de Hyunjin o intrigava, afinal de contas ele também era curioso.

Mas era muito mais complexo do que aquilo, e Jack não sabia se estava pronto para aquelas perguntas tão pessoais. Não sabia se estava pronto para reviver o passado.

No escuro, entretanto, tudo fica mais fácil.

— Cocaína.

— Perdão?

— Cocaína, Sammy. É uma das coisas que fazem com que eu não seja um bom garoto.

— Você cheira?

— Cheirava. Não faço isso há uns três anos.

— Ah. Caralho, Yang, que pesado.

— É.

Silêncio.

— Ei, desculpa. Eu te incomodei, né? Foi mal, eu não devia ter perguntado aquilo.

— Não incomodou, não é culpa sua. É só que, bom, é um assunto difícil pra mim, sabe? É doloroso, porque faz parte de mim e do meu passado, e de uma época muito conturbada da minha vida. Eu fazia isso pra sair da realidade e pra aguentar a vida, e foram muitos anos sendo um viciado, tanto que as vezes eu nem consigo acreditar que tô limpo, entende? Nem consigo acreditar que tô vivo. Aí é só... complexo. Complexo de aceitar isso, não sei explicar melhor.

Sam sentou-se na própria cama, olhando diretamente para Jeongin.

— Você quer conversar a respeito? Não vou te julgar, é só que eu acho que você tá muito apegado ao passado. Tá preso num trauma e não consegue sair dele.

Jack ficou em silêncio, o coração acelerado.

— Deixa eu te ajudar, Yang.

Jeongin sentia a garganta fechar; sabia que era só um sintoma fictício, mas era inevitável. Por baixo do lençol, suas mãos tremiam, e graças ao quarto escuro Hyunjin não era capaz de enxergar as pequenas lágrimas se acumulando nos cantos dos olhos alheios.

A questão é que, apesar da imensa vontade de aliviar o peso nas costas, Jack não sabia se conseguia falar. Não porque não confiava em Sam, claro que não. Ele, inclusive, havia conquistado a confiança de Jeongin facilmente naqueles poucos dias, e sabia que Hyunjin não era do tipo que mentia e julgava. Sabia que ele tinha boas intenções. Mas mesmo assim...

Era coisa demais. Coisa demais para alguém de vinte e um anos guardar dentro de si, e era estupidamente difícil colocar aquilo tudo para fora.

E de repente estava chorando, sentindo-se fraco. Detestava esse sentimento de não ser forte o suficiente, de não aguentar. No entanto, para sua surpresa, Sam Hwang levantou-se da própria cama e foi parar ao seu lado.

— Você se importa se eu te abraçar? Minha vó me dizia que abraços resolvem todos os problemas. Eu sei que é mentira, mas eu sempre achei que dava uma aliviada.

Surpreendendo a si mesmo, Jack aceitou o abraço. Então respirou fundo, e após uma ponderação longa, decidiu começar a falar.

let's hit the fucking road and never look back Onde histórias criam vida. Descubra agora