Entre ecos e confusão.

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Isabella Parker.

Gustavo molhava um pano e o colocava suavemente sobre minha testa. A sensação fria era um alívio temporário para a dor que latejava em minha cabeça.

- O que está acontecendo? - A pergunta ecoou em minha mente, o som reverberando como um trovão. Cada eco trazia flashes desconexos da noite anterior.

As risadas exageradas, as luzes vibrantes, as paredes que pareciam respirar. Tudo se transformava em uma névoa densa e opressiva, até que, finalmente, veio o vazio. O som do mundo ao meu redor era abafado, distante, como se eu estivesse submersa, presa em um abismo de água pesada.

Por mais que eu tentasse, só conseguia lembrar de fragmentos sem sentido. Pequenos pontos desconexos que, quanto mais eu tentava juntar, mais difusos e irreais pareciam. A dor de cabeça se intensificava a cada esforço para montar o quebra-cabeça.

Algo escapava lentamente da minha mente, como areia entre os dedos. Eu sentia como se estivesse sendo despida da minha própria essência, restando apenas uma casca vazia, um eco do que eu costumava ser.

Minhas pálpebras pesavam, e as gotas do pano escorriam lentamente pelo meu rosto, como se o frio quisesse me manter ali, presa naquela confusão. De repente, num impulso irracional, eu me levantei de uma vez, mas Gustavo rapidamente estendeu a mão para me impedir, e eu acabei batendo a testa contra ele, caindo novamente na cama, sem forças para protestar.

Olhei para ele, e ele me encarou de volta. Durante alguns segundos, ficamos assim, imóveis, como se nossos olhares fossem os únicos capazes de comunicar o que, com palavras, jamais conseguiríamos. Havia perguntas silenciosas entre nós. Dúvidas, mágoas, e uma sensação de desconforto que não podia ser ignorada.

Foi então que, como um soco no estômago, os flashbacks começaram a voltar. E quanto mais eu o olhava, mais tudo fazia sentido. O beijo.

O beijo dele... com a garota loira.

"Não é o que você está pensando", ele tinha dito na noite anterior, mas aquelas palavras soavam vazias agora, quase patéticas.

Levantei-me novamente, desta vez desviando de sua mão, e me arrastei até o banheiro. O espelho estava ali, refletindo uma versão de mim que eu não reconhecia. Cabelo desgrenhado, pele pálida, olhos vermelhos e inchados, maquiagem borrada. Eu parecia uma estranha, e não conseguia evitar o pensamento: "O que eu fiz ontem?"

A manhã estava sufocante, e o banheiro, pequeno, parecia encolher a cada segundo. O peso de mil martelos martelava em minha cabeça, o gosto amargo na boca sendo o único lembrete constante de tudo o que eu queria esquecer. Pisquei algumas vezes, tentando focar no teto, mas o quarto girava ao meu redor. Tudo parecia prestes a desmoronar.

O suor frio que escorria pelo meu corpo fazia com que minha roupa grudasse, desconfortável, apertada. O nó na garganta era tão grande que eu sentia que jamais seria capaz de respirar normalmente de novo.

O espelho devolvia meu olhar vazio, sem vida. Eu não estava ali. Estava em algum outro lugar, perdida, desconectada. Quem era aquela pessoa que me observava com tanto desespero?

A culpa pesava sobre mim, esmagando meus ombros. Por que tudo isso aconteceu? Por que parece que, a cada passo que dou, tudo desmorona mais um pouco? Será que o próximo passo seria o fim?

As perguntas giravam sem parar, misturando-se com risadas involuntárias e lágrimas silenciosas que escapavam sem aviso. Meu corpo estava tomado por uma dor intensa, cada músculo clamando por alívio, mas nada parecia capaz de me libertar daquela sensação esmagadora.

De repente, ouvi batidas suaves na porta do banheiro. Pareciam inofensivas, mas, na minha mente, eram estrondos. O som ecoava como se a porta estivesse prestes a ser arrombada, e aquilo me fez chorar ainda mais.

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