-Capítulo 121. Pensamentos Esperançosos

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Cerdina ficou sem palavras. Seus olhos tremiam, abatidos por estar acordada por dias, e ela teve que forçar os cantos da boca a se levantarem. Seus olhos injetados de sangue faziam seu sorriso parecer estranho. Seus dedos estavam manchados e pegajosos com aparas de grama enquanto ela acariciava o rosto de Blain lentamente. Mas as palavras que saíam de seus lábios trêmulos eram astutas.

“Impossível, Blain. O amor não é tão escuro quanto a emoção que você sente.”

“……”

“Você não está apaixonado. Você só quer possuí-la.”

Blain olhou para sua mãe em silêncio. Cerdina havia dito a mesma coisa, na primeira vez que ele lhe disse que amava Leah.

“Eu te disse. Quando você se tornar Rei, e depois Imperador, você terá o continente sob seus pés. Haverá muitas mulheres assim…”

"Mãe."

Os lábios secos de Blain se moveram lentamente.

“Se eu não fizer o que você quer, você vai lançar um feitiço em mim também?”

“Blaine!”

O grito ecoou pelo quarto e Cerdina olhou para seu pulso enfaixado, ofegante de agitação. Em vez de gritar de novo, ela se inclinou para abraçá-lo.

“Não seja tão cruel com sua mãe. Estou fazendo tudo por você.”

Seus dedos finos acariciaram seus cabelos prateados.

“Estamos quase terminando, certo? Só falta um pouquinho. Se você quiser, eu vou deixar você ter o coração dela também. Mas aí você vai entender. Isso não é grande coisa…”

Sua voz sussurrante estava cheia de afeição desmedida. Não importava que coisa tola Blain quisesse, ela sempre aceitava. Era sempre a mesma coisa. Ela queria que seu filho tivesse o melhor de tudo.

Blain sorriu superficialmente. Parecia-lhe que ele não agia diferente de ninguém, mesmo que não estivesse sob nenhum feitiço.

“Então eu saberei quando o tiver,” ele disse a Cerdina, que o observou sem piscar. “Por favor, me dê o coração de Leah. Enquanto eu puder tê-lo... Eu farei o que você quiser, mãe.”

***

Como esperado, ela desmaiou novamente. Bem, não desmaiou, mas adormeceu.

Ou assim acreditava Leah.

Quando ela abriu os olhos, ela se viu deitada na cama no Palácio da Princesa com uma luz fraca filtrando pela janela. Era madrugada.

Ela olhou ao redor e viu que a roupa de cama que tinha sido quase rasgada durante o intenso ato sexual tinha sido arrumada e o quarto inteiro arrumado, como se o que tinha acontecido na noite anterior tivesse sido uma ilusão.

Um vazio inexplicável encheu seu coração. Leah mordeu o lábio inferior, mas quando se virou, encontrou um pequeno bilhete na mesa de cabeceira ao lado da cama, escrito em letras ásperas em um pedaço de papel rasgado.

[Você vem comigo para o deserto?]

Ishkan ainda tinha uma caligrafia ruim, mas parecia um pouco melhor do que antes. Ele estava praticando? Ela não conseguiu evitar rir quando imaginou Ishkan com uma pena em suas mãos grandes, escrevendo naquele pequeno pedaço de papel.

Leah abraçou o bilhete e se jogou de volta na cama. Não era um comportamento apropriado para uma princesa, mas ninguém estava olhando.

“……”

Ela leu o bilhete mais algumas vezes e então o colocou de volta no peito.

Estranhamente, isso a fez pensar na dor de cabeça intensa que teve na noite anterior. Ela tinha dores de cabeça com frequência, mas a noite passada foi a primeira vez que sentiu tanta dor. Aparentemente, ela havia atingido seu limite, mas estranhamente sua cabeça ficou mais clara depois.

E geralmente seu corpo parecia pesado quando ela acordava de manhã. Ela sofria de enxaquecas crônicas e vivia em nuvens escuras e depressivas que pareciam permear até o fundo de seu coração.

Mas agora tudo estava tão claro quanto um dia ensolarado. Ela pensou que poderia fazer qualquer coisa, e pela primeira vez pensamentos esperançosos estavam brotando incontrolavelmente. Sua mente estava tão clara quanto água de nascente.

Não seria bom ir para o deserto com Ishakan?

De qualquer forma, tudo estava arruinado. As negociações e reformas tributárias não aconteceriam. Era melhor olhar para o futuro do que desistir de sua vida. Talvez esse fosse o caminho que ela deveria seguir pelo bem de Estia. Mesmo que tivesse que desistir de sua reputação para proteger seu país, ela ainda estaria cumprindo seus deveres como princesa.

Tantos pensamentos estavam surgindo que ela não poderia ter contemplado antes. Se ela realmente se tornasse a Rainha de Kurkan, ela poderia persuadi-los a não invadir Estia. Ela poderia retomar as negociações, ou tentar fazer algum comércio entre os dois países.

E...ela poderia estar com Ishakan.

Imediatamente, seu coração começou a palpitar como se fosse explodir. Seu corpo tremia com a intensidade das emoções. Ela não conseguia controlar. Ela andava de um lado para o outro na sala, incapaz de ficar parada enquanto sua imaginação corria.

No deserto, ela seria livre. Ela poderia ser Leah, não a Princesa de Estia. Ela poderia comer o que quisesse, ela não teria que ver o rosto do seu meio-irmão, ela não teria que suportar a vigilância da sua madrasta.

Leah teve que se deitar no chão. Imaginar uma vida sem todos esses laços e restrições a deixava tão animada que ela se sentia quente demais. Deitada com a pele nua contra o frio chão de mármore, ela respirou fundo, se acalmando.

Ainda havia tempo. Ela tinha que pensar cuidadosamente sobre essa decisão.

Mas Leah sabia que seu coração estava inclinado para um lado.

Predatory marriage novel (PT BR🇧🇷) Onde histórias criam vida. Descubra agora