capítulo 2

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Kisa, com seus vinte anos recém-completados, era um estudo em contraste

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Kisa, com seus vinte anos recém-completados, era um estudo em contraste. Seus cabelos loiros claríssimos, quase brancos, pareciam brilhar sob a luz do sol que entrava pela janela, realçando ainda mais a beleza quase etérea de seu rosto. Seus olhos, um tom único de castanho-esverdeado, estavam fixos no espelho redondo que ela segurava nas mãos, enquanto ela caminhava lentamente pelo corredor, a passos hesitantes e delicados.

Itadori, com a energia vibrante de um jovem de vinte anos recém-ingressado na universidade, gesticulava com entusiasmo enquanto falava sobre as aulas, os amigos que tinha feito e os planos para o futuro. Megumi, por outro lado, ouvia com a mesma expressão impassível de sempre, parecendo mais um observador do que um participante da conversa. Suas mãos estavam escondidas nos bolsos do casaco, e seus olhos escuros observavam Itadori com uma mistura de tolerância e desinteresse.

O movimento constante de Kisa, sempre atenta à sua própria imagem no espelho, criava um ritmo peculiar em meio à conversa animada de Itadori. Enquanto ele falava de sua primeira prova de matemática, Kisa alisava uma mecha de cabelo que caía sobre seu rosto, ajustando uma mecha solta com cuidado, em um movimento suave e elegante. As palavras de Itadori pareciam se perder no ar enquanto Kisa se concentrava em manter a perfeição de sua aparência.

Megumi, imune ao charme de Kisa, mantinha seu olhar fixo em Itadori, seus olhos um tanto ávidos enquanto observava a animação do amigo. No entanto, o olhar de Kisa, cheio de um brilho que se refletia no espelho, parecia não ser dirigido a ninguém, apenas a si mesma, uma demonstração de auto-observação quase obsessiva.

A cena era um retrato da juventude, com suas alegrias e inseguranças, suas aspirações e vaidades. Itadori, com seu otimismo contagiante, representava a energia vital da vida; Megumi, com sua frieza calculada, encarnava a introspecção e a maturidade precoce.  Kisa, porém, parecia pairar em um mundo próprio, preocupada apenas com sua própria imagem, buscando a aprovação de um reflexo que nunca poderia lhe dar o que ela buscava. 

O riso de Itadori, que ecoava pelo corredor, foi interrompido abruptamente por um silêncio pesado. Megumi, sempre perspicaz, havia notado a mudança no ambiente antes mesmo de Itadori perceber. Seus olhos, que antes estavam fixos em Itadori, agora se voltavam para o final do corredor, onde uma figura imponente se aproximava.

Era Toji Zen’in, o líder do clã Zen’in, com sua estrutura alta e presença ameaçadora. A aura de poder que emanava de Toji era tão forte que era quase palpável.  Ele andava com passos firmes e decididos, sua expressão implacável, um tanto distante e fria. Era uma visão intimidante para qualquer um, mas para Kisa, foi um choque de terror que a congelou.

A visão de Toji fez com que o pânico se apoderasse de Kisa, como um ataque repentino.  A imagem do homem alto e imponente, com seus olhos escuros e penetrantes, evocou memórias dolorosas de um passado que ela tentava desesperadamente esquecer.  Um pai agressivo e abusivo, um pesadelo que a assombrava até hoje. 

Kisa se paralisou, seu corpo travado, como um coelho assustado preso em um farol. O espelho que ela segurava caiu de suas mãos, fazendo um barulho metálico que ecoou pelo corredor, a única interrupção no silêncio que se instalou.  Seus olhos, que antes brilhavam com vaidade e confiança, agora estavam cheios de terror e desespero. Ela se sentia presa, incapaz de se mover, de falar, de respirar. 

A imagem de Toji, tão familiar e ao mesmo tempo tão aterrorizante, a  levou de volta ao passado,  a um lugar que ela havia jurado nunca mais visitar.  As lembranças de agressões, insultos e humilhações, como espinhos, perfuravam sua mente, trazendo de volta as dores e os medos que ela havia tentado enterrar.

Megumi, que havia testemunhado a reação de Kisa, compreendeu o que estava acontecendo. Ele reconhecia a fragilidade que se escondia por trás da fachada de  Kisa. Ele tentou falar, para dizer algo para confortá-la, mas as palavras ficaram presas em sua garganta. Ele, que tanto se esforçava para manter o controle em todas as situações, se viu  desprovido de qualquer ação eficiente para ajudar a garota que parecia se  afogar no mar de suas próprias lembranças.

A cena era um retrato da fragilidade humana. Itadori, o otimista,  desorientado,  completamente alheio ao drama que se desenrolava.  Megumi,  o  controle  personificado,  desarmado  diante  da dor  alheia.  E Kisa,  a  vaidosa,  desfeita,  de  volta a um passado que  parecia  determinado  a  assombrá-la para sempre.

Toji, ao se aproximar dos jovens, imediatamente notou a tensão no ar, especialmente em relação à jovem Kisa. Sua expressão se contorceu em uma careta de irritação ao vê-la congelada, seu olhar fixo nele com medo quase paralizante.

Ele parou alguns passos à frente dela e cruzou os braços, olhando-a de cima a baixo com julgamento implacável. A cena era um contraste gritante, Toji, imponente e severo, diante de Kisa, pequena e vulnerável.

Kisa parecia ainda mais aterrorizada, suas mãos tremiam, sua respiração estava congelada ela mau respirava. Megumi encarou seu pai com um olhar gélido e afiado, se colocando lentamente a frente de Kisa.

Toji olhou para Megumi, seus olhos esquadrinhando o jovem de cima a baixo com uma análise rápida. Uma sombra de irritação passou por sua expressão, não apreciando a interrupção.

Ele arqueou uma sobrancelha e olhou novamente para Kisa, sua voz grave e severa.

— Quem é ela? — perguntou ele, seu olhar fixo na garota amedrontada atrás de Megumi.

— Kisa Nagiryu — Megumi disse o olhando — uma amiga e também minha veterana na universidade.

Toji franziu as sobrancelhas e olhou novamente para Kisa. Ele podia literalmente sentir a tensão e o medo dela, sua aura quase palpável. Era irritante, para dizer o mínimo.

Ele deu um passo à frente, o corpo grande e ameaçador impondo sua presença. O olhar de Toji era frio e calculista enquanto observava a jovem.

— Por que ela está tremendo como uma folha?

— Isso não é da sua conta — Megumi disse.

Entretanto Kisa parecia prestes a entrar em uma crise de pânico, assim que Toji percebeu que ela estava começando a hiperventilar

Toji olhou novamente para Kisa, notando os sinais de pânico na jovem. Seus olhos escureceram de irritação e ele franziu a testa. Era irritante lidar com alguém tão frágil.

Ele deu mais um passo à frente, encurralando-a contra a parede. Toji era uma figura imponente, seu corpo grande e musculoso quase cobrindo a jovem. Ele se inclinou um pouco, e baixou a voz para um tom perigosamente baixo.

— Está tendo um colapso nervoso só porque me viu?

— P-por favor...— ela sussurrou baixinho, uma nota melodiosa e delicada uma voz que parecia um encantamento de tão doce e meiga — N-não...me machuque...por favor...não me bata...— ela balbuciou em desespero olhando-o com seus olhos castanhos-esverdeados, grandes e arredondados como de um coelho.

Perene - Toji Fushiguro Onde histórias criam vida. Descubra agora