capítulo 20

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Nove meses haviam se passado

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Nove meses haviam se passado. A mansão Zen’in estava envolta em um silêncio quase sagrado naquelas noites de primavera. As folhas das árvores balançavam suavemente com a brisa, enquanto o brilho prateado da lua cheia iluminava os corredores, fazendo com que os antigos retratos na parede parecessem ganhar vida. Kisa estava sentada à mesa, observando a luz da lua entrar pela janela ampla, seu coração batendo com uma mistura de ansiedade e expectativa. Após nove meses de uma gravidez que se desenrolara em silêncio, como se o próprio tempo tivesse concordado em manter o segredo, Kisa finalmente estava prestes a enfrentar uma nova realidade.

Ela conversava com uma das empregadas, Suki, que trazia seu jantar. A familiaridade entre elas havia crescido nas últimas semanas, e Kisa apreciava a companhia da jovem que a ajudava nas luas cheias, fazendo-o sentir um pouco menos sozinha. Kisa estava tentando se distrair, perguntando sobre as histórias da mansão e da família Zen’in, quando de repente, uma dor aguda irrompeu em seu abdômen. O que a princípio poderia parecer uma cólica se transformou rapidamente em uma onda de dor intensa e incontrolável.

Suki percebeu imediatamente a mudança no semblante de Kisa, e seus olhos se alargaram em preocupação. — Kisa, você está bem?—  A jovem se aproximou rapidamente, colocando uma mão no ombro da amiga enquanto a outra se amenizava a dor. Kisa tentou responder, mas a dor apenas aumentava, trazendo um nó em sua garganta. Em um instante, Suki correu para buscar ajuda, chamando os outros empregados e os anciãos da mansão.

O tumulto se instalou na grande casa. A equipe rapidamente se organizou, alguns indo em direção à biblioteca em busca do médico da família Zen’in. Outros correram em busca de cobertores e água, como se pudessem preparar tudo para o que estava por vir. A ansiedade era palpável, e a atmosfera que antes era calma agora estava carregada de urgência.

Quando o médico chegou, Kisa estava deitada em um dos sofás da sala principal, com Suki segurando sua mão, tentando confortá-la. O médico, um homem maduro com uma expressão concentrada, analisou Kisa rapidamente. — Ela está em trabalho de parto —  ele declarou. As palavras caíram como uma bomba na sala, e os olhares de espanto e preocupação se multiplicaram. O que deveria ter sido uma gravidez silenciosa se transformara em um momento de intensa revelação.

A dor e as contrações se tornaram mais frequentes, e Kisa se agarrou a Suki em busca de suporte, buscando um pouco de consolo na amizade que elas haviam construído. O médico começou a dar ordens, movimento-se com precisão e urgência. — Precisamos levá-la para um lugar mais adequado. Preparem o quarto! —  Kisa ainda estava em dúvida, questionando se realmente estava pronta para isso, mas a dor a forçava a encarar a realidade daquela noite.

Luz branda foi acesa no quarto principal, onde o ambiente tinha uma calma quase mística. Almofadas foram dispostas para que Kisa pudesse se sentir mais confortável, enquanto Suki se mantinha ao seu lado, assegurando-lhe que tudo ficaria bem. E assim, a primeira lua cheia da primavera avançava lentamente, testemunhando a jornada de Kisa.

Com cada contração, Kisa se sentia mais conectada ao seu corpo e ao que estava por vir. O sentimento indescritível de trazer uma vida à luz preenchia o ar à sua volta enquanto os anciãos e os empregados da casa aguardavam do lado de fora, preparando-se para o que estava prestes a acontecer. O tempo parecia estender-se, e Kisa se viu envolvida em um estado quase de transe, alternando entre a dor e a expectativa, entre a ansiedade e a esperança.

Finalmente, após uma longa e extenuante jornada, quando o relógio da mansão anunciou a meia-noite, Kisa deu à luz a uma menina. O choro da criança ecoou pela sala, um som que cortou o ar pesado e trouxe alívio a todos. O médico quase imediatamente entregou a pequena à mãe, e o olhar de Kisa se iluminou com a visão da nova vida que segurava em seus braços. Os olhos da menina eram grandes e brilhantes, refletindo a luz da lua que ainda iluminava o mundo exterior.

Kisa segurou a criança com cuidado, sentindo uma onda avassaladora de amor inundar seu coração. — Ela é tão perfeita — , sussurrou Kisa, enquanto lágrimas de alegria escorriam por seu rosto. Suki, ao lado, também se emocionou, incapaz de conter o sorriso enquanto observava a cena com um olhar terno e acolhedor.

Com o passo do tempo, os outros juntaram-se a elas, membros da família e empregados que compartilhavam sorrisos e palavras de alegria. O momento parecia suspenso em um eterno abraço de celebração. Kisa olhou para a pequena em seus braços e então soube que esse era o início de uma nova era, não apenas para ela, mas para todos na mansão Zen’in. A jornada havia sido silenciosa até agora, mas a vida, aquela coisas trazida ao mundo sob a luz da lua cheia, prometia tudo o que a jovem poderia sonhar e muito mais.

(…)

Após uma ausência de dez meses, Toji finalmente havia retornado à mansão Zen’in. O crepúsculo se estabelecia, envolta em tons dourados e alaranjados, quando o som da porta principal se abriu, revelando a figura familiar e imponente de Toji. A notícia de seu retorno se espalhou rapidamente pela mansão, e logo os anciãos e os empregados se reuniram na entrada com expressões mistas de alívio e curiosidade. O clima era de celebração, mas também de apreensão, pois sua volta trouxe muitas perguntas à tona.

Os anciãos, com suas vestes tradicionais e olhares compridos, foram os primeiros a dar as boas-vindas. — Toji, filho da casa Zen’in, é bom tê-lo de volta : disse um dos mais velhos, sua voz carregada de respeito. Ele se aproximou e fez uma reverência respeitosa, reconhecendo a importância do jovem que havia se afastado para se aventurar em novos caminhos.

Os empregados, que serviam e cuidavam da mansão, também lotaram o saguão, alguns com sorrisos amplos, outros com expressões de nervosismo, como se suas vidas passadas estivessem prestes a ser novamente impactadas pela presença dele. As notícias de sua jornada pelo mundo haviam chegado até eles, e as histórias contadas em sussurros tornaram-se em parte lendas que eles aguardavam para serem desmistificadas diretamente por ele.

No entanto, havia uma ausência notável: Kisa. Toji percebeu rapidamente que a presença dela, normalmente vibrante e sempre ao lado da família, estava ausente. A ideia de encontrá-la o inquietava. Durante o tempo em que esteve fora, seus pensamentos frequentemente vagaram para a jovem com quem compartilhara momentos tão preciosos antes de partir. Havia uma conexão entre eles que nunca se apagara completamente; era como uma linha invisível que os unia, mesmo à distância.

Os anciãos e empregados cumprimentaram Toji com reverência, mas ele estava mais preocupado com a falta de Kisa. Era como se seu retorno ao lar não estivesse completo sem a presença dela. Enquanto respondia aos cumprimentos e perguntas dos outros, seus olhos procuravam entre as faces familiares por aquele semblante que era tão querido para ele.

― Alguém sabe onde está Kisa? — ele perguntou a um dos empregados, sua expressão revelando a ansiedade que sentia por dentro.

— Pai! — Megumi se aproximou com sua expressão de sempre — Algo aconteceu enquanto estava fora...

O tom sério na voz de Megumi chamou a atenção de Toji, instantaneamente fazendo todos ao redor se aquietarem. Ele virou-se para o filho, uma expressão preocupada em seu rosto.

― O que aconteceu? — ele perguntou, enquanto colocava uma mão no ombro de Megumi com um gesto protetor.

— Eu vou te mostrar — Megumi disse com calma e tranquilidade — porém vai me prometer que não vai em hipótese alguma acordar as duas.

As palavras de Megumi deixaram Toji ainda mais inquieto, mas ele percebia a urgência na voz do filho. Ele assentiu com a cabeça, fazendo um gesto para que o jovem o conduzisse a algum lugar específico dentro da mansão.

― Eu prometo — ele disse com seriedade, curioso e inquieto sobre o que encontraria.

Perene - Toji Fushiguro Onde histórias criam vida. Descubra agora