Capítulo 2 - Encontros Inesperados - Sky Springfield

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Enquanto nos dirigimos ao cemitério, olho de soslaio para Renata. Eu a conheço há anos, mas nesses momentos, sinto como se nunca pudesse realmente alcançar toda a profundidade da dor dela. Renata é forte, sempre foi, mas hoje, no aniversário da morte dos pais, eu vejo uma vulnerabilidade que ela raramente deixa transparecer.

Ela tenta esconder, segurar tudo dentro de si, mas eu a conheço o suficiente para notar os sinais - o jeito como seus dedos apertam levemente as palmas das mãos, como seu olhar parece distante, perdido em lembranças que ninguém mais pode tocar. Renata sempre foi do tipo que carrega o mundo nas costas sem reclamar, mas às vezes, até mesmo os mais fortes precisam de alguém para segurar sua mão.

Enquanto caminhamos lado a lado, sinto uma mistura de admiração e tristeza. Admiração por como ela consegue manter a compostura, mesmo quando tudo por dentro parece desmoronar, e tristeza por saber que nada do que eu faça pode realmente curar a dor dela. O que posso fazer é estar aqui, ao lado dela, em silêncio, oferecendo meu apoio da melhor maneira que sei.

Renata é mais forte do que ela acredita. Eu só espero que, com o tempo, ela veja o que eu vejo - uma mulher capaz de enfrentar qualquer coisa, mesmo quando a tristeza ameaça sufocá-la.

Assim que chegamos ao túmulo dos pais dela, sinto o peso do momento cair sobre nós. Abraço Renata com força, envolvendo-a em meu calor, e por alguns instantes nos aconchegamos ali, em frente às lápides, sem precisar de palavras. O silêncio entre nós é profundo, carregado de emoções que não precisam ser ditas. Quando Renata se deita sobre a lápide da mãe, fecho os olhos por um segundo, respeitando seu momento de conexão com o que já foi e o que ainda a aflige.

Decido deixá-la sozinha, para que possa ter seu momento particular com as memórias e os sentimentos que guarda tão profundamente. Dou alguns passos para trás e, em silêncio, me afasto, caminhando pelo cemitério. O ar é frio, e o ambiente parece suspenso no tempo. Enquanto caminho entre as lápides antigas e desgastadas, sinto uma quietude tomar conta de mim. Tudo ao redor está sereno, quase intocado, como se o próprio lugar entendesse a importância daquele momento para Renata.

Eu continuo caminhando devagar, em total silêncio, respeitando o luto dela, mas permanecendo perto o suficiente para que, se ela precisar de mim, eu esteja ali.


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Depois de algumas horas andando pelo cemitério, sinto meus pensamentos se acalmarem. Desvio o olhar para Renata, que ainda está deitada sobre a lápide da mãe, imóvel, mergulhada em sua dor. Decido não interrompê-la, mas ao me virar para continuar minha caminhada, inesperadamente esbarro em algo - ou melhor, alguém.

Dou um pequeno salto de susto e olho para cima, vendo um homem parado ereto diante de mim. Ele está tão imóvel quanto uma estátua, demora um pouco para que ele se vire lentamente em minha direção. Imediatamente, começo a me desculpar, o coração ainda acelerado pela situação.

- Desculpe! Eu... não vi você aí... - digo, as palavras saindo apressadamente. Tento me recompor, sentindo o desconforto do momento, enquanto a figura à minha frente permanece inabalável. O cemitério parece ainda mais quieto ao redor de nós, como se o tempo tivesse parado por um instante.

Quando ele se vira para mim, o semblante sério e quase intimidador muda completamente. Ele abre um sorriso cordial, e o clima pesado que havia se formado entre nós começa a se dissipar. Sua voz é tranquila quando ele diz:

- Está tudo bem, não se preocupe, você está bem?

Minha primeira impressão sobre o homem à minha frente é de que ele tem uma presença marcante. Alto e de porte atlético, ele parece ter uma confiança natural, algo que fica ainda mais evidente quando ele sorri de forma cordial, dissipando o momento estranho. Seus cabelos são escuros, bem cortados, e seus olhos carregam um brilho que, de alguma forma, parece tanto carismático quanto um pouco perigoso.

A maneira como ele se move, mesmo parado ali no meio do cemitério, revela algo de inquieto, como se ele estivesse sempre buscando por alguma ação ou emoção intensa. Há algo misterioso nele, algo que não consigo ler completamente, mas que me faz ficar alerta, mesmo com o sorriso tranquilo que ele oferece.

Assim que ele me pergunta se estou bem, dou um pequeno sorriso, tentando me recompor após o encontro inesperado.

- Sim, estou bem - respondo, minha voz saindo mais firme do que eu esperava.

Sem hesitar, estico a mão em um gesto amigável e contínuo.

- Sou Sky...Sky Springfield. - meu sorriso permanece, tentando aliviar qualquer resquício de desconforto.

Enquanto aguardo sua reação, noto que ele me observa com um olhar atento, mas sem pressa, antes de aceitar meu aperto de mão. Há algo intrigante naquele breve contato.

Ele segura minha mão com firmeza, mas o aperto é leve, quase cuidadoso. Seu sorriso permanece, agora com um toque de charme.

- Sou Christian Ferraci - ele diz, a voz baixa e segura.

Há algo no jeito dele que me faz sentir uma curiosidade imediata, como se houvesse muito mais sob a superfície desse homem. Por um instante, o nome dele ecoa em minha mente, como se eu devesse conhecê-lo ou, pelo menos, ter ouvido falar dele antes. Mas por agora, deixo isso de lado, apenas retribuindo o sorriso.

Ele me observa por um instante, e vejo seu semblante mudar. O sorriso desaparece gradualmente, dando lugar a uma expressão mais séria e respeitosa. Seus olhos encontraram os meus com uma profundidade inesperada, e então ele diz, em um tom mais grave.

- Meus pêsames...

As palavras pairam no ar, carregadas de uma sinceridade que me surpreende. Por um momento, sinto o peso do luto voltar, mas sua empatia me alcança de uma maneira inesperada. O silêncio entre nós é quase palpável, como se ele realmente entendesse a gravidade da situação.

Olho para ele, e um leve sorriso triste aparece no meu rosto. Sacudo a cabeça em negação, tentando aliviar o peso da situação, antes de desviar o olhar para Renata. Agora, ela está ajoelhada entre os dois túmulos, perdida em seus próprios pensamentos e emoções.

Respiro fundo e, ainda observando Renata, digo suavemente.

- Obrigada, mas eu só estou acompanhando minha amiga Renata. - as palavras saem quase como um sussurro, enquanto a cena à nossa frente reforça o motivo pelo qual estamos ali.

Mesmo sem ser diretamente o meu luto, a dor de Renata me atinge, e ao dizer isso, sinto que estou honrando a presença dela nesse momento tão difícil.

Assim que Christian se despede de mim, dou-lhe um aceno educado antes de voltar minha atenção completamente para Renata. Observo-a por alguns segundos, ainda ajoelhada entre os túmulos, sua postura carregada de tristeza e cansaço. Sinto uma onda de compaixão me invadir; sei que este dia é insuportavelmente doloroso para ela.

Caminho até ela em silêncio, a cada passo cuidadoso. Quando me aproximo, coloco uma mão gentilmente em seu ombro. Ela não se move de imediato, mas eu fico ali, oferecendo minha presença silenciosa. Após alguns segundos, murmuro suavemente.

- Renata, acho que está na hora de irmos para casa... Você precisa descansar.

Ela finalmente levanta os olhos para mim, sua expressão exausta e carregada de dor. Com um aceno quase imperceptível, ela concorda. Eu a ajudo a se levantar com cuidado, suas pernas ainda um pouco trêmulas, e juntas, começamos a nos afastar dos túmulos. A dor dela é palpável, mas agora estamos indo para um lugar onde, com sorte, o peso do dia será um pouco mais fácil de carregar.

Shadowns Of The Heart - Lights And Secrets A Série - Livro 1 +18 | Dark Romance Onde histórias criam vida. Descubra agora