Minha cabeça latejava como se alguém estivesse martelando o interior do meu crânio. Senti os olhos arderem ao tentar abri-los, piscando várias vezes enquanto o mundo ao meu redor começava a ganhar forma. Tudo estava embaçado, turvo. A náusea subiu pela minha garganta quase imediatamente. Um cheiro forte e rançoso me atingiu de repente, fazendo meu estômago se contorcer. O que era aquele cheiro? O lugar onde eu estava tinha um odor de sujeira, como se não tivesse sido limpo há dias, semanas, talvez mais. Pisquei de novo, tentando clarear minha visão e me ajustar à pouca luz que penetrava pelas frestas nas tábuas das janelas. Os poucos raios de sol que conseguiam passar mal iluminavam o lugar.
Eu estava deitada em uma cama. Mas essa cama... Algo estava errado. As cobertas estavam endurecidas, sujas, como se ninguém as tivesse trocado em muito tempo. As paredes ao meu redor estavam cobertas de manchas escuras, e eu percebi que havia grades nas janelas. Algo dentro de mim começou a gritar de pânico. O coração disparou, martelando contra o peito, enquanto uma sensação de desespero crescia em mim. Não era um sonho. Não era um pesadelo. Era real.
Eu me mexi instintivamente, tentando me erguer, mas um choque de dor ardente percorreu meus pulsos. Foi então que percebi. Minhas mãos estavam presas, algemadas à cabeceira de grades enferrujadas da cama. Olhei para os pulsos com horror, vendo as algemas apertadas contra minha pele, o metal já começando a deixar marcas vermelhas e doloridas. A visão disso só intensificou meu desespero.
— Não... não... não...— O murmúrio saiu involuntariamente dos meus lábios. Comecei a me debater, o som das correntes ecoando pelo lugar, ressoando pelo silêncio sombrio. Meu corpo estava fraco, mas a adrenalina alimentava meus movimentos. Eu puxava as algemas, gemendo com a dor, tentando me soltar a todo custo. Meu coração disparava com o medo crescente. O que aconteceu na noite anterior? Por que eu não conseguia me lembrar? E Renata...? Onde ela estava? O pensamento dela me atingiu como uma avalanche. Onde estava Renata? Eu precisava saber se ela estava bem.
Minha mente estava em caos completo quando, de repente, ouvi um ruído. Parei por um instante, o som nítido de passos ecoando acima de mim. Meu corpo congelou. O som dos passos era pesado, o ranger das tábuas indicando que alguém estava se movendo no andar de cima. Eu prendi a respiração. Ouvi a porta se abrir com um ranger prolongado, e os passos começaram a descer as escadas. A cada passo, meu coração parecia querer saltar do peito. Quem quer que fosse, estava vindo na minha direção.
A voz veio logo em seguida, estridente e carregada de um tom embriagado. Cada palavra ecoava nas paredes como uma ameaça.
— Vejo que a ratinha... acordou. — A voz soava divertida, perversa.
Meu corpo inteiro se enrijeceu. Eu não sabia quem era, mas o tom daquela voz me deixou em pânico e me remeteu a uma pessoa somente. Fiquei imóvel, meu corpo tremendo de medo e impotência.
❦ ❦ ❦
9 Anos atrás...
O vento suave soprava pelos cabelos da minha mãe enquanto ela corria ao meu lado no parque. Eu adorava sentir a grama sob meus pés descalços, a liberdade de poder correr sem preocupações, o riso solto no ar. Minha mãe me acompanhava com seu olhar cuidadoso, sempre pronta para me chamar de volta caso eu fosse longe demais.
— Sky, não corra tanto! — ela pediu, sua voz calorosa, mas firme. — Você pode cair e se machucar.
De início, obedeci. Diminuí o ritmo e caminhei ao lado dela por alguns minutos, absorvendo a beleza do parque, o canto dos pássaros e o brilho do sol entre as árvores. Mas não consegui resistir por muito tempo. Aquela sensação de liberdade era irresistível. Eu me impulsionei novamente, disparando com pequenas risadas, meus pés mal tocando o chão enquanto corria. Foi tudo muito rápido. Meus pés se enroscaram um no outro, e antes que eu pudesse reagir, estava caindo. O impacto foi forte, e eu senti a dor aguda raspar meu joelho no chão. O tempo pareceu desacelerar enquanto eu me encolhia, observando as gotículas de sangue começarem a se formar no arranhão. Eu não queria chorar, mas as lágrimas já estavam acumuladas, prontas para cair. Então, ouvi os passos apressados dela. Minha mãe estava ao meu lado em segundos, sua expressão é uma mistura de preocupação e ternura. Quando ela me viu começar a chorar, sua mão suave acariciou minha bochecha.
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Shadowns Of The Heart - Lights And Secrets A Série - Livro 1 +18 | Dark Romance
FanfictionEm Lights and Secrets, vidas cruzam-se em uma Paris envolta em mistérios e sombras do passado. Renata Lopes, uma mulher marcada por eventos traumáticos, é jogada em uma espiral de tensão e segredos perigosos enquanto tenta recomeçar. Sky, assombrad...