25 Após o Diluvio

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Violet Claire

Separo meu rosto de seu corpo mas ainda sinto o calor. Ele leva as mãos nas minhas bochechas e aproxima os lábios dos meus.

—Que tal descermos? - diz depois de dar um selinho rápido. Meu coração volta a bater rápido só de cogitar a possibilidade de voltarmos para dentro.

Todos aqueles olhos para mim. Minha atenção se volta para os olhos de avelã.

— Ei.. estaremos juntos... vamos, hm, resolver essa situação. - se força a dar um sorrisinho.

Daremos um jeito.
Vai ficar tudo bem.

Travo no primeiro degrau, travando Bruno também que segura a minha mão. Respiro fundo e desço. Seu braço passa pela minhas costas, envolvendo minha cintura e puxando para cima. Talvez assim eu me sinta menos péssima. Porra, me odeio por estar fazendo isso, por ter corrido como uma criança desesperada.

Quando pisamos na sala onde descobri a notícia, estranhamente ninguém olha para mim, todos parecem ocupados fazendo alguma coisa no telefone. Olívia está em ligação e mal nossa presença, quem nos vê primeiro é Dylan e corre a nossa distância. Sua aparência parece preocupada, diferente da que eu tinha visto antes de tudo acontecer.

— Oi, hm, a Olívia está falando com umas pessoas da equipe para entrarem em contato com a página que publicou a foto, estamos resolvendo tudo e- ele é cortado pela mulher baixa se aproximando.

Olívia desliga o celular e o coloca no bolsa, percebo que estar nervosa por estar alisando seu próprio braço sem parar.

— Bom, vão entrar e contato e pedir para apagarem. Depois a gente pode se pronunciar e negar. - diz.

— Ninguém vai acreditar... está bem claro que somos nós na foto. - digo, sem nenhuma esperança dessa desculpa convencer alguém.

— Não está tão nítido. - Bruno pigarreia. Está, está bem nítido.

— Bom, m-mas não significa quase nada. Celebridade andam juntas o tempo inteiro seja por trabalho, amizade ou... - Dylan não termina, apenas faz uma sinal com a mão para que entendêssemos.

Ele está certo, celebridades são flagradas juntas várias vezes, o problema é que comigo sempre é diferente. Vão perguntar, vão questionar, vão investigar. Nunca nada passa em branco, se eu der um tropeço... sairá na mídia que eu quebrei o pé, e isso não é porque sou uma super estrela, nada disso, e sim por conta da minha má fama criada por aquele.

Quando tudo aconteceu, as pessoas criaram páginas de fofocas apenas sobre mim. Os haters inventavam todos os dias algo novo. Conseguimos reverter a situação, derrubar uma por uma, mas agora... até as que não são completamente direcionadas para mim, querem me destruir. 

—Fiquem calmos, ok? Estamos resolvendo, só... só fiquem longe dos celulares. - diz Olívia, pegando novamente o celular do bolso, que agora vibra sem parar. Ela agarra o braço de Dylan e ambos se afastam para atender as ligações.

Me desprendo de Bruno para agarrar sua mão. Caminho até o sofá mais afastado das pessoas e me jogo, aperto os olhos e deixo meu corpo deslizar um pouco. Controlo a vontade de chorar, sei que Olívia percebeu que me desfiz em lágrimas, minha cara deve estar péssima. Agora sem meu celular nem posso responder minha mãe que com certeza está desesperada, ela começou a olhar sempre as redes sociais quando comecei no mundo da música.

Antes ela não entendia muito bem mas com o tempo ficou uma super tecnológica, quando cai na depressão, minha mãe ficou sabendo e logo caçou o desgraçado nas redes sociais, ela exigiu que abrissem um processo contra ele. Nada adianto. Com certeza meu celular deve estar cheio de mensagens.

Tiro as mãos do rosto e nem preciso olhar para Bruno para saber que ele está completamente perdido em outro mundo. Seu olhar caiu para algum ponto no chão e sua respiração é bem pesada.

— Ninguém vai acreditar. - jogo a realidade para o ar.

Ninguém vai mesmo. Eu vou sair de aproveitadora novamente para todo mundo. Merda.

— É como Dylan disse... as pessoas são flagradas andando juntas o tempo inteiro e- não, não quando o pessoa já tem uma fama péssima.

— Quando sou eu que estou junto, é bem diferente. Vou sair de aproveitadora de novo. - puxo o ar, que parece denso e ruim de aspirar.

Sem saber mais o que dizer Peter só se cala. Não há mais o que dizer. Não há mais o que fazer. Ficamos calados por um bom tempo, puxo a manga da jaqueta para dentro. Está frio.

Está frio.
Sempre frio.

Percebo que começo a ficar ofegante e puxo um pouco a gola alta da blusa que uso. Pigarreio baixo para não chamar atenção. É um mix de frio com calor, tudo junto. Minhas mãos parecem formigar e sem aguentar mais ficar nesse lugar apertado me levanto rápido para ir embora.

— Vi? - ouço baixinho.

— Eu só preciso ir no banheiro. - digo sem me virar e vou em direção a cabine.

Antes que eu possa dar uma  mais um passo uma mão se enrosca no meu pulso e me arrasta para fora. Merda. Tento me desvencilhar de Peter mas ele aperta um pouco mais o meu braço. Chegamos no térreo e vejo nossos seguranças conversando distraídos. Não podemos sair sem avisar, muito menos agora.

Tento dizer mas ele não parece ouvir. Puta merda, não vai ser nada legal sermos vistos de novo.

— Bruno não podemos ser vis- sou cortada quando vejo que estou sendo levada para um dos carros dele.

Ele abre a porta para mim e finalmente solta meu braço.

— Cacete... para onde estamos indo? - tento falar baixo para não chamar atenção dos homens conversando.

Um risinho abafado como resposta.

— Você vai ver. - diz e faz um sinal para que eu entre no carro.

— Não podemos sair assim do nada. - insisto e vejo Peter observando os seguranças, novamente fazendo o sinal com a mão para que eu entre.

— Claro que podemos. - fala como não fosse nada demais. Agora faz várias vezes o sinal para que eu entre, quase me empurrando para dentro.

Entro e ele bate minha porta. Espero o mesmo aparecer do meu lado para perguntar novamente. Olívia vai surtar. Enquanto ela está tentando de tudo para limpar a bagunça nós estamos aqui fazendo mais ainda.

O mesmo liga o carro e saímos da garagem. Incrivelmente ninguém percebeu que não era o motorista dirigindo, se bem que mesmo que percebessem acho que não deixariam de abrir o portão. 

— Bruno? Para onde- tento e novamente sou interrompida.

— Para longe daqui. - disse e tento não entrar em desespero.

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