Jonas

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Chegamos em uma nova cidade, nova casa e mais uma vez, como todas as outras, eu já conhecia a rotina de cor. Não esperava ficar ali por mais de um ano e por isso, não iria desencaixotar o que não fosse importante. Tinham coisas que eu nem me importava em desembalar e as caixas estavam lacradas há três anos. Eu não era o tipo de adolescente que gosta de colocar pôster e prateleiras no quarto, não tinha tempo e nem ânimo para isso pois quando pensava em arrumar já tinha que desarrumar então deixei de fazer questão. Já fiz isso tantas vezes que a tarefa passou a ser tão rápida que nem parecia uma mudança. Ajudei minha mãe com o restante da casa e em três dias ninguém dizia que tínhamos acabado de nos mudar. Outra habilidade que adquiri ao longo dos anos foi de não ser um acumulador porque isso facilitava muito a minha vida. Não guardava livros, por exemplo, preferia ler online e se fosse necessário, depois de ler eu doava para a biblioteca da escola. Tênis, eu só tinha dois pares, um bom casaco, não tinha um guarda roupa vasto. Afinal, menos coisas significava menos trabalho na próxima vez. Amava música e fone era a única coisa que eu tinha mais do que precisava. Eu não gostava de correr o risco de ficar sem fone, então sempre tinha um reserva. Eu tinha só dezessete anos mas tinha um corpo atlético já que gostava de praticar esporte. Fazia bem pra mente e como diz o ditado corpo são, mente sã. Me exercitar espantava os pensamentos negativos de nunca ter um lugar para permanecer. Nos colégios eu gostava de me enturmar e participar de tudo ligado aos esportes, então acabei aprendendo um pouquinho de cada. Corrida, basquete, futebol, o que a escola oferecesse eu me inscrevia. Era meu escape me exercitar e suar até ficar tão cansado que não precisava ficar preocupado com mais nada além de descansar. Procurava não me destacar, pois sabia que em breve iria me mudar, então ficava na linha mediana, bom o suficiente para ser chamado,aq pois sendo um cara mediano ninguém sentiria falta quando precisasse partir. Mesmo sendo inclinado ao esporte não vacilava com as minhas notas, gostava de estudar, pois sentia que era o caminho da minha liberdade. Por isso, mesmo com tantas mudanças e apesar de já ter passado por inúmeros colégios, estava terminando o ensino médio na idade regular e com boas notas. Eu sonhava com um futuro diferente. Não tinha redes sociais, era algo perigoso para mim e minha mãe, então sempre dizia para as pessoas que não gostava. Apesar disso, procurava ser o mais normal possível justamente para não chamar atenção. Conheci e fiz muitos amigos, mas nenhum deles eu pude manter na minha vida. Ninguém para abraçar ou compartilhar meus problemas. Nenhum amigo de infância, nenhum amigo que fosse para a vida toda, nenhum que pudesse saber como me sentia de verdade. A maioria só conhecia o Jonas “legal” do colégio. Fiquei com algumas meninas mas não namorei nenhuma. Não poderia conhecer os pais, tomar sorvete, assistir um filme em casa e me apaixonar, porque não podia me apegar. Seria muito pior se houvesse sentimentos para deixar para trás. Sentia falta de ter um amigo e uma namorada, mas não podia reclamar. A vida era como tinha que ser. Não achava justo reclamar com a minha mãe e jogar mais esse peso sobre ela, então eu tentava não pensar muito no futuro. Vivia um dia de cada vez. Era melhor pensar que me mudava muito porque éramos aventureiros. Melhor do que fugitivos sem dúvidas.

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