Jonas

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No dia seguinte, só havia a nova mensagem da vizinha e o papel misterioso em branco. Eu disse que iria tentar e tentei bastante, pensei em várias possibilidades e nem percebi que o fim de semana chegou. No dia marcado da festa eu fui, quem sabe, esbarrava com a vizinha por lá. Algumas meninas vieram falar comigo, mas eu não estava interessado. Talvez seja melhor eu cortar o que estiver começando com a vizinha, não podia iludir ninguém, em breve iria partir e não queria deixar ninguém magoado para trás. Mas meu lado egoísta sentia falta de alguém próximo e as coisas aconteceram de um jeito tão inusitado. Nunca tinha conhecido ninguém dessa forma e estava mexendo comigo de um jeito especial.

- Ei cara, veio para uma festa para ficar parado aí pensando? Bora se divertir! Tomar umas, dançar e pegar umas gatas…
- Você tem razão cara!

Respondi ao meu colega da escola. Ele tinha razão, uma festa não era lugar de ficar pensando, então eu fui embora. Realmente não iria “pegar umas gatas”, nem beber nada alcoólico, tampouco estava com vontade de dançar, por isso percebi que não tinha o que estar fazendo ali e voltei para casa. Já era tarde, mas fiquei sentado na grama do meu quintal, olhando para a casa da frente e vendo a janela de luz apagada. “Rapunzel eu vou descobrir o último número porque eu preciso saber mais sobre você”

Na segunda, quando estávamos saindo de casa, eu para escola e minha mãe para o trabalho, ela me avisou que chegaria mais tarde naquele dia.

- Hoje tem remessa do banco filho, sabe como é, por mais que a gente confira a nota quando recebe, o dono confere tudo de novo antes do malote que vai para o banco.
- Confere a nota? - Perguntei mais para mim mesmo tendo um insite
- É ué filho, você sabe que nota de alto valor é conferida
- Com caneta de luz negra, né?
- Sim
- Mãe, você é um gênio!!! - Deu vários beijos na mãe.
- Sou um gênio porque confiro notas? Tá doido Jonas?
- Isso desvendou o meu mistério e é hoje que eu vou conseguir algo muito importante.
- Aí vocês jovens… Só não se mete em confusão e nem chama atenção para a gente
- Eu sei, pode deixar mãe, eu conheço bem as regras
- Vamos que estamos atrasados.

Quando sai da escola, fui até uma loja comprar uma lanterna de luz negra e fui ansioso pra casa, torcendo para ter conseguido desvendar a charada. Quando cheguei, mal conseguia controlar a alegria em ver que o número que faltava estava aparecendo finalmente. Anotei e salvei no telefone, agora poderia enfim conversar melhor com ela. Não perdi mais tempo e mandei uma mensagem:

“Oi Rapunzel, parece que descobri seu enigma!”

Não demorou para ter minha resposta:

“Jonas!! Você conseguiu, parabéns!”

“Algumas coisas na vida valem o nosso esforço, concorda? E então, posso saber seu nome?”

“É Luiza”

Repeti várias vezes seu nome doce que fazia jus ao sorriso que ela tinha… Luiza. Senti meu coração acelerado, era um sentimento novo e incrível.

“Podemos conversar pessoalmente?”

“Não posso”

Achei estranho e não sabia o que responder. Fiquei sem graça. Ela mandou outra mensagem.

“Desculpa”

E mandou outra em seguida antes que eu pudesse pensar em algo.

“Eu tenho que ir Jonas”

E ficou offline. Eu fiquei totalmente perdido, esperei tanto por esse momento e desejava muito conhecer ela. Pensei muito sobre tudo e a maneira como ela se esquivou de nos conhecermos. Obviamente ela não tinha problemas em conversar mas em aparecer. Não sabia o motivo, mas uma coisa eu tinha certeza por experiência própria, ela estava fugindo de alguma coisa. Não ia à escola, não ia às festas, nunca tinha visto ela na rua apesar de sermos vizinhos, nunca a vi em outro lugar que não fosse pela janela. Se não poderia encontrar com ela pessoalmente, será que valia a pena insistir naquela menina? Tinha tantas meninas na escola interessadas, com possibilidade de contato real, porque Luiza mexia tanto comigo?
Me fiz todas essas perguntas e decidi não mandar mais mensagens para ela até que tivesse resposta para elas.
Passaram alguns dias, procurei sair com alguns colegas da escola, joguei bola para distrair, e fiz tudo que pudesse desviar o meu foco para que eu pudesse pensar com clareza. Até aceitei sair à noite com um grupo e algumas meninas, não queria que pensassem que era um encontro e fiz questão de deixar bem claro que estávamos em um grupo de amigos. Estava entre tantas pessoas, tantas meninas mas não conseguia me sentir conectado com nenhuma delas. Meu pensamento se perdia e constantemente parava em uma certa menina da janela. Luiza... Em casa, a minha cortina continuava fechada, às vezes eu tinha muita vontade de olhar para ela, mas estava com medo de me jogar em algo que eu sabia que não podia. De um jeito ou de outro, sairia magoado, não tinha nenhuma dúvida. As perguntas em minha cabeça começaram a mudar: e se fosse ao contrário? Se ela soubesse que eu tinha aquela vida tumultuada e que não vou poder ficar, será que ela iria querer começar algo? Talvez, assim como eu, ela também esteja triste com esses dias que não estávamos conversando. Eu sentia que precisava ter mais, muito mais daquela menina. Não importa tudo que a razão insiste em me avisar, o coração estava ganhando. Comecei a pensar que se a Luiza tinha algum problema ou quisesse esconder algo, ela devia ter seus motivos, assim como eu. Talvez se conquistasse a confiança dela eu poderia quebrar essa barreira. A única coisa que eu tinha certeza é que eu queria aquela garota esperta e divertida na minha vida. Eu precisava me aproximar e mostrar que respeitaria seus limites. Se ela não pudesse estar pessoalmente, seríamos criativos, como fomos até agora.

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