Fiquei a semana toda pensando nas palavras de Jonas “como amigos”, ele só me via como amiga. Senti o coração pequeno e apertado. Ele parecia interessado mesmo em reconstruir a amizade mas eu não sabia se conseguiria me manter perto dele como amiga, quando estava desejando e amando tanto.
O final de semana chegou e Jonas foi me buscar como havíamos combinado. Em alguns momentos eu percebia que ele se sentia inseguro sobre a minha paralisia. Nunca tivemos um momento assim antes. Todo o tempo que nos conhecemos nunca houve contato, só no último dia. Então seria a primeira vez que ele teria a noção de verdade de como era a minha vida.
- Oi Rapunzel
- A gente já tá velho pra isso Jonas
- Você vai ser sempre a minha princesa até a gente ficar velhinho…Ele sussurrou algo que não entendi
- O quê?
- Lu, eu queria te pedir uma coisaEle desconversou e eu deixei pra lá
- Mas já? Não tenho dinheiro e não faço mais seus trabalhos da escola.
- Não é isso kkk… é que se eu fizer alguma coisa errada, me ensina o jeito certo? Eu nunca vou fazer nada para magoar você de propósito.
- Não precisa se preocupar, eu sou bastante independente, mas sei pedir ajuda quando preciso. Só seja você mesmo e não me trata diferente que vai ficar tudo bem. Vamos?
- Precisa de ajuda para entrar no carro?
- Não. Se você tivesse um carro alto eu não conseguiria sozinha. Mas nessa altura eu consigo me transpor sozinha.Jonas pegou a minha cadeira, as minhas coisas e guardou tudo no banco de trás, antes de pegar a estrada.
- Para onde estamos indo?
- É uma surpresa
- Posso colocar uma música?
- Claro, a gente sempre gostou das mesmas músicas.A viagem seguiu em silêncio, mas eu percebi que Jonas queria falar alguma coisa. Ele olhava para mim e voltava a olhar para o trânsito, abria e fechava a boca, apertava o volante com força, estava inquieto.
- Fala Jonas
- O que?
- Tá na cara que você quer falar alguma coisa. O que foi?Ele respirou fundo e se rendeu. Parecia preocupado em falar.
- Seu namorado não se importa de você sair comigo?
- Mas nós somos amigos. Qual o problema?
- Nenhum, tá certo.De repente a viagem passou para um silêncio constrangedor, que só era quebrado pela música do rádio. Eu sentia que devia ter dito que não tinha mais namorado, mas não consegui. Ele parecia chateado. Trinta minutos depois, chegamos em uma praia. Havia uma caminho preparado, onde a cadeira poderia se locomover até um piquenique na areia. Tive que sorrir, fazia anos que não ia à praia. Jonas pegou a cadeira, colocou ao meu lado e ficou olhando, à espera de um pedido de ajuda. Mas eu consegui sozinha. Logo estávamos lado a lado até a toalha forrada com várias almofadas e guloseimas na cestinha. Tudo arrumado com muito carinho, eu percebi o cuidado em cada detalhe. Ao fim do caminho, Jonas perguntou
- Posso te pegar no colo?
Não conseguiria me transpor para o chão, então concordei
- Tudo bem.
Jonas me pegou com a delicadeza de uma flor. olhou nos meus olhos. Meu coração batia tão forte, era tão difícil estar tão próxima e não tocar nele.
- Você é tão linda
Fiz um carinho no rosto dele que fechou os olhos sentindo meus dedos passearem. Ele me colocou na toalha quebrando nosso contato visual.
- Está confortável? Tem várias almofadas mas se precisar pode encostar em mim - ele me deu uma piscadinha.
Uma piscadinha?? Eu não ia resistir assim
- Jonas, como você conseguiu fazer tudo isso, tá incrível! Isso está parecendo um encontro…
Me arrependi assim que falei. Não queria forçar nada.
- Na verdade Luiza eu queria te levar para um encontro, queria ter com você todos os tipos de encontro que os casais tem. Que nunca tivemos. Mas como você já tem namorado, eu imaginei que já fez todas essas coisas com ele e por isso te trouxe no único lugar que eu consegui pensar que ele não poderia ter levado você.
- Na praia?
- Na minha casa kkkkk
- Na sua casa? Como assim?
- Eu moro ali - Ele apontou para uma casa logo atrás dele onde a mãe de Jonas acenava. Acenei de volta
- Ah então foi ela quem preparou tudo isso?
- Claro, minha mãe me ajudou, foi minha cúmplice. Ela sabe o quanto eu gosto de você. Desculpa, eu não quero forçar as coisas, quero que a gente tenha um dia legal e divertido. Se eu estiver além dos limites me avisa. Eu sei que disse que queria ser seu amigo e que você tem namorado mas está sendo mais difícil do que eu imaginei. Todas as nossas lembranças… Estar perto de você assim e não desejar que seu namorado fosse eu, não desejar que isso fosse um encontro, não desejar poder ficar mais perto de você…
- Jonas!
- Desculpa.
- Eu não tenho namorado
- O que?
- Não tenho mais. Terminei pouco depois daquele dia. Na verdade era uma tentativa mais por insistência dele, eu não o amava. Ele é um amigo querido, mas não tenho sentimentos românticos por ele. E nunca tivemos encontros como outros casais, no máximo um cinema como amigos. Esse momento está muito mais para um encontro do que eu jamais tive na vida.
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Amor Além das Aparências
RomantizmLuiza e Jonas são dois jovens que começam uma amizade de um jeito diferente. Com conflitos de adolescentes somados a problemas de adultos, eles tentam lidar com tudo da melhor maneira que conseguem. Será que o sentimento que nasceu dessa amizade, é...