Luiza

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- Oi

Eu disse com aparente confiança que na verdade não sentia. Por dentro estava nervosa com medo de ser escorraçada e humilhada.

Eu tinha medo que ele dissesse que perdeu seu tempo com uma menina deficiente e que eu deveria ter contado desde o começo. Ele não estaria errado, mas eu não me arrependia de ter escondido. Inclusive se não fossem as circunstâncias, não saberia dizer quando teria coragem de me encontrar cara a cara com ele e ver a cara de pena e raiva que Jonas faria. Mas aparentemente eu estava enganada porque Jonas deu o maior sorriso que eu já vi. Se aproximou de mim, olhou em meus olhos, colocou uma mecha de cabelo atrás da minha orelha acariciando o meu rosto no caminho. Ele se aproximou mais, se abaixou e pegou em minha mão.

- Você é ainda mais linda pessoalmente
- Eu sinto muito por não ter contado, eu deveria ter te contado.
- Está tudo bem. Você veio me ver, mesmo sem estar pronta para me contar
- Você disse que estava indo embora
- Eu sinto muito, eu não queria ir, mas eu preciso - Ele abaixou a cabeça e perdeu o sorriso que tinha.
- Você não está com raiva de mim?
- Raiva? Não, eu tenho muitos sentimentos agora, mas raiva com certeza não é um deles Lu.

Muitos sentimentos? O meu lado sabotador logo entrou em ação. Que outros sentimentos ele teria? Pena, Indiferença, Nojo… era cada um pior que o outro eu nem podia imaginar. Decidi encerrar a conversa.

- Então adeus Jonas, foi maravilhoso conhecer você
- Espera! - Ele falou apressado - Passa a noite comigo?
- Como?
- Quero dizer, para conversarmos, eu gostaria muito de passar esses últimos momentos com você. Eu quero te abraçar e levar comigo a lembrança do seu cheiro, por favor Lu.

Nós estávamos juntos havia meses, estávamos conectados, tínhamos cumplicidade apesar dos segredos que escondíamos, o sentimento nos unia. Eu também queria ficar perto dele o máximo que pudesse e por isso, falei que tudo bem. Mas teria que pedir aos meus pais. Por isso, quando voltei pra casa devagarinho, comecei uma conversa que nunca pensei que teria.

- Pai, mãe, vocês sabem que eu nunca tive um namorado e pela minha situação vai ser muito difícil encontrar quem me aceite de verdade. O Jonas e eu estamos juntos há alguns meses e apesar dele não saber que eu sou PCD, nós tínhamos um envolvimento sem nenhum contato físico e agora ele está indo embora. Eu gosto muito dele, não sei quando e se terei um namorado de novo. Queria muito ter a sensação de ser abraçada, beijada… eu nem sei bem se isso vai acontecer, mas o Jonas quer passar a noite comigo, as últimas horas antes dele partir, para estarmos juntos. E eu estou sendo honesta em me abrir com vocês.
- Mas que sujeito cara de pau, veio aqui em casa hoje e já quer passar a noite? Eu não me sinto confortável com isso.
- Carlos, a Luiza cresceu. É uma adolescente terminando o colegial. Ano que vem já pode ir para faculdade se ela quiser, já será adulta. A gente não sabe o que a vida reserva. Se aprendemos alguma coisa nessa vida, é que não dá pra proteger de tudo e que não sabemos o dia de amanhã. Como vamos privar nossa filha de ter experiências que vão deixar ela feliz hoje e depois ver ela infeliz por ter perdido uma oportunidade? Eu posso estar exagerando, mas nossa filha já perdeu as festas, o baile, os encontros, já perdeu experiências demais para perder uma noite com o primeiro amor só porque somos protetores. Eu quero que ela seja feliz e se para isso, o namorado tenha que dormir aqui em casa, que assim seja. -  minha mãe estava muito emocionada.
-Ahm, hum, bom, tudo bem então. Mas Luiza você é responsável e sabe que mesmo sendo PCD não pode deixar de se prevenir e se esse rapaz não tiver proteção, você não pode…
- Nós não vamos transar pai, pelo amor de Deus. Nunca nem nos beijamos. Só queremos uns momentos a sós, mas não chegará nesse ponto fica tranquilo.
- Espero que não. - Meu pai estava nervoso, era uma conversa que ele certamente não esperava ter quando acordou naquele dia.

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