Jonas

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A resposta dela fez eu me sentir um completo idiota. Ela devia estar doente e sem nada para fazer, por isso, olhava o novo vizinho com curiosidade mas minha mente perturbada pensou que ela estava em cativeiro. “Aí Jonas como você é idiota, só porque tem uma vida de merda, não quer dizer quer todo mundo também está em perigo”. Então, respondi para não ficar mais sem graça.

Antes de dormir, fiquei pensando nela, qual seria o seu nome? Qual seria sua história? Queria saber tantas coisas sobre ela.

Estava quase saindo para o colégio quando dei uma olhada pela janela e vi o recado, sorri e fui para a escola me sentindo feliz. Estava em cima da hora e não tinha como responder, mas decidi que quando chegasse, iria responder e tentar saber mais sobre ela. Era um jeito estranho de conversar, era melhor a gente se conhecer pessoalmente. Estava animado com essa possibilidade, já fazia muito tempo que eu não me sentia animado assim.

Cheguei da escola com a expectativa de falar com a menina da janela logo após o almoço, mas meus planos mudaram quando minha mãe ligou do pronto socorro. Havia sofrido um corte na mão durante o trabalho no mercado, nada grave, mas precisaria da minha ajuda para voltar para casa. Com esse contratempo, só consegui mesmo voltar a pensar quando já havia anoitecido. Sentei na cadeira do quarto e olhei pela janela, mas o quarto estava escuro. Estranho, desde que me  mudei que ela sempre me observava, ela estava sempre lá, então a luz estava sempre acesa. Mas agora estava tudo escuro. Será que ela já foi dormir? Será que saiu? Será que não quer mais falar comigo porque eu não respondi? Se comunicar assim era muito difícil. Precisava pedir o telefone dela para fazer todas as perguntas e quem sabe marcar um encontro. Ou se ela não estivesse interessada, poderia ter uma amiga. Comecei a escrever e quando dei por mim, preenchi toda a janela. Esperava que ela visse no dia seguinte.

BOM DIA RAPUNZEL!
VAMOS CONVERSAR ASSIM?
ME DÁ SEU TELEFONE?
EU SOU O JONAS

Será que ela conseguiria ler? Eu escrevi e depois olhei sem acreditar, um cara de quase dezoito anos estava mesmo escrevendo bilhetes na janela para que a vizinha pudesse ler? Porque simplesmente não batia à sua porta? Que maluquice eu estava fazendo? Mas tinha algo dentro de mim que estava explodindo de felicidade com essa coisa estranha. Será que ela iria sorrir ao ler, será que iria responder, será que me daria o seu telefone? E pensando em todas as possibilidades acabei dormindo. Na escola, cheguei ansioso, já estava enturmado como fazia em todos os lugares por onde passava. Os garotos me convidaram para as festas mas ainda não tinha ido em nenhuma. Nesse dia, haviam me convidado para uma que ocorreria no próximo final de semana e pensei que se talvez a “Rapunzel” fosse, seria legal para a gente se conhecer melhor. Ela parece alguém divertida, já que embarcou nessa loucura de bilhete na janela. Confirmei presença. Não era do tipo que ficava com várias meninas e evitava ficar com elas logo que chegava em alguma cidade. Eu precisava ser cauteloso e conhecer as pessoas melhor primeiro. Jamais namorei com ninguém, afinal, eu não era o cara certo pra ninguém porque tinha o tempo contado até ir embora novamente. Estranhamente a menina da janela me deixou tão ansioso em conhecer ela que até esqueci da vida que eu tinha. Passei o dia olhando para o relógio, queria chegar logo em casa e ver se teria uma resposta.

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