Jonas

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Fiquei feliz e sai correndo para tomar banho e me arrumar enquanto ela iria voltar para casa conversar com os pais para que não tivesse problema.
Entrei em casa eufórico mas a minha mãe não estava nada feliz.

- Jonas, o que você está fazendo? Você não pode se envolver com essa menina. Sabe qual é a nossa situação, é arriscado demais. O que deu em você para agir assim dessa vez?
- Eu estou apaixonado mãe, isso nunca aconteceu antes. Mas eu sei a merda de vida que eu tenho eu jamais vou arrastar a Luiza para isso ou arriscar a vida dela. Ela não vai saber de nada, fica tranquila. A única coisa que eu te peço é que por favor me deixe viver as últimas horas de felicidade que eu tenho. Eu sei que quando nós formos embora, talvez eu nunca mais veja ela novamente e por isso eu preciso ficar perto dela o quanto eu puder.
- Tudo bem, esteja aqui de manhã cedo para partirmos. Mas querido, eu já fui jovem, eu sei o peso que o primeiro amor tem. Com o tempo você vai esquecer e seguir a vida.
- Eu respeito a sua opinião, mas a força do que eu sinto só eu posso saber.

Fui me arrumar ansioso e não demorou muito, já estava batendo na porta da casa dela novamente. A mãe foi amorosa, o pai mais rígido com recomendações de que estaria de olho. E logo estávamos no quarto de Luiza. Eu percebi que ela estava um pouco envergonhada e quis deixar o clima mais leve.

- Então, foi nessa janela que tudo começou… que você me stalkeava

Ela me encarava e parecia preocupada, talvez pensando que eu fosse exigir explicações, mas eu não me importava com a situação. Sabia que devia ser difícil pra ela, mas eu tinha pouco tempo e queria passar as últimas horas sentindo a conexão que sempre tivemos

- Jonas eu sei que você deve ter muitas perguntas. Deve se sentir enganado por eu não ter dito que era assim desde o começo e feito você perder seu tempo comigo, mas eu não queria perder o que a gente tinha. Eu juro que não fiz por maldade.

Sentei na beirada da cama para ficar na mesma altura dos olhos dela

- Lu, já nos conhecemos há bastante tempo. Nos vermos fisicamente era um detalhe que faltava, mas eu sei que você não mentiu sobre ser quem você é para mim e eu me apaixonei por você mesmo sem te ver. Eu não perdi o meu tempo com você, na verdade eu acho que nós dois perdemos tempo
- Como assim?
Eu também menti, quer dizer não fui totalmente sincero porque eu sempre soube que eu iria embora mais cedo ou mais tarde. E eu não te contei pelo mesmo motivo pelo qual você não me contou que precisa da cadeira. Tivemos medo de perder um ao outro e só perdemos tempo porque se tivéssemos sido sinceros desde o começo a gente teria aproveitado mais momentos juntos.

Ela sorriu então eu continuei:

- Por tudo que já conversamos eu sei que você não nasceu com essa condição, mas você não frequenta a escola, não sai de casa e não tem amigos, exceto a Nina. - Ela me olhou surpresa - Sim, eu já vi ela entrando e saindo várias vezes, mas nunca perguntei nada pra ela. Tudo isso me diz que você já sofreu muito. Eu não preciso que você me diga nada que te magoe, te relembre momentos ruins e te faça sofrer. Você não precisa me contar nada que não queira ou que te faça mal. Agora eu só quero estar perto de você e as únicas perguntas que eu tenho é se eu posso ajudar em alguma coisa, te deixar mais confortável e se você está bem comigo aqui. Só o que importa é que estamos nós dois aqui, juntos de verdade.
- Tá bem, eu não preciso de ajuda para quase nada, já tem bastante tempo e aprendi a ter autonomia. Eu vou passar para a cama e você pode deitar comigo.

Depois que ela estava na cama, me sentei ao seu lado e fui acariciando os braços dela.

- Fica desconfortável pra você deitar nos meus braços? Deita aqui, eu quero te abraçar.

Eu não conhecia os limites e estava com medo de machucar ela. Luiza deitou em meus braços e aquele abraço foi especial e acolhedor de um jeito que eu nunca esqueceria. Ela foi feita para os meus braços eu estava me sentindo em paz.

- Você é tão cheirosa - Luiza riu e eu fiquei bobo de fazer ela sorrir.
- Eu não estou acreditando que estamos juntos assim
- Meu coração tá disparado. Eu estou vivendo o melhor e o pior dia da minha vida.
- Como assim?
- Eu estou apaixonado por você e te conhecer hoje só me fez ter mais certeza. Eu queria poder passar muito tempo agarradinho com você, curtindo e fazendo tudo que qualquer casal de namorados fazem. Mas ter que ir embora nunca foi tão difícil pra mim, eu tô destruído de ter que ir e te deixar. Não sei se um dia eu vou voltar a te ver, não posso ficar nem com o mesmo telefone Lu. Vamos perder completamente o contato.
- Porque? Porque você precisa ir? Eu não estou entendendo Jonas. Porque você está me deixando? Porque precisa trocar o telefone? Que mistério é esse?

Ela começou a chorar e isso me quebrou ainda mais. Sequei as lágrimas com a ponta dos dedos carinhosamente.

- Não chora amor, por favor. Eu pedi para ficarmos juntos hoje mas não para te fazer sofrer, e sim para termos um último momento nosso. Eu não posso te falar porque pode ser perigoso, confia em mim, se eu pudesse eu te falava. Mas eu jamais vou arriscar a sua segurança contando coisas que você não deve saber. Eu nunca fico mais de um ano em lugar nenhum, já se tornou uma rotina pra mim e para minha mãe. Mas isso nunca foi um problema, até conhecer você que invadiu meu coração. Agora eu tenho que ir, mas metade de mim fica com você.
- Vocês estão foragidos da polícia ou tem algum bandido atrás de vocês? É alguma coisa errada que vocês se envolveram? De repente a gente consegue ajudar.
- Eu sei que você quer me ajudar linda e acredite em mim, eu gostaria que tivesse outro jeito mas não tem. Mas eu não sou envolvido com nada ilegal, eu sou honesto. Tudo que eu mostrei para você nesses meses é o meu verdadeiro eu. Você me conhece, eu fui completamente seu. E se eu não te contei somente essa parte da minha vida foi para te proteger.
- Eu não posso acreditar que estou te perdendo
- Você é incrível e eu sempre vou te amar, mesmo longe eu nunca vou te esquecer. Posso… te beijar?

Ela permitiu com a cabeça e eu me aproximei lentamente. Queria decorar aquele momento para lembrar sempre.
Nos beijamos com carinho e com a expectativa que existia há meses. Quando o beijo terminou, encostei a testa na testa de Luiza, respirei fundo pois me sentia frustrado em ter que partir logo agora que encontrei o amor. Dei um selinho em sua boca e espalhei vários beijinhos pelo rosto dela repetindo o quanto ela era linda.

- Me beija mais Jonas, eu não vou quebrar. Eu quero te beijar a noite toda.

Não pensei duas vezes em atender seu pedido. Eu estava louco por ela. Os beijos foram de carinhosos a urgentes. As mãos explorando um ao outro. Éramos dois adolescentes com sentimentos e hormônios. Depois de algum tempo eu precisei voltar a realidade

- Precisamos parar. Imagina se seu pai entra e me pega excitado desse jeito. Me expulsa daqui antes mesmo que eu vá.

O tempo foi cruel e passou rápido demais. Depois de horas nós já estávamos cansados, mas antes de dormir, Luiza me falou

- Em cima da mesa tem uma pasta com o nosso nome. Leva com você, foi algo que eu fiz e queria te dar como lembrança nossa.

Eu sorri e abracei ela mais forte. Cochichei em seu ouvido antes dela dormir

- Eu te amo Lu

Na manhã seguinte peguei a pasta, dei um último beijo em Luiza e desci. Precisava partir cedo, minha mãe já estava esperando. Deixei uma mensagem para ela ouvir quando acordasse e após enviar, destrui o chip como sempre fazia após as mudanças. Tudo novo de novo. Olhei para a pasta em meu colo e nela haviam vários desenhos, caricaturas, desenhos realistas, desenhos animados, sempre nós dois. De corpo inteiro, de rosto, mas dois desenhos chamaram a minha atenção, eram exatamente iguais, porém em um eles estavam juntos envoltos por corações e ela em sua cadeira de rodas. E no outro, exatamente igual na decoração, estávamos com as mesmas roupas e aparência, porém ela estava de pé. Será que havia alguma chance dela voltar a andar? Pelo desenho parecia que ela sonhava com isso e eu desejava poder tornar possível todos os sonhos dela. Decidi que iria resolver a minha vida, faria dezoito anos e essas mudanças tinham que acabar. Precisavam acabar! Já era tempo de enfrentar, afinal eu ficaria maior de idade e nada mais poderiam fazer contra minha mãe e eu. Estava na hora de assumir as rédeas da minha vida, iria estudar, ser alguém para um dia voltar para Luiza. Esses eram os meus planos.

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