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Ao cair da noite, o imponente castelo da Academia de Virtudes Nobres se iluminava como uma joia incrustada no alto da colina. Lustres de cristal pendiam dos arcos altos do salão principal, cada um brilhando com uma luz encantada que dançava em tons dourados e prateados. Era como se as estrelas tivessem descido para enfeitar o ambiente, criando uma atmosfera etérea e quase onírica.

Elara caminhava pelo corredor que levava ao grande salão, acompanhada de outros jovens nobres que, assim como ela, mal podiam conter a expectativa daquela primeira noite. Todos estavam trajados em suas melhores vestes, roupas cuidadosamente bordadas, joias que reluziam sob a luz suave das tochas e ares de nobreza que apenas quem nascera com tal privilégio poderia exibir.

Ao cruzarem a entrada do salão, o esplendor do ambiente os envolveu. O teto era decorado com afrescos que contavam histórias antigas, cenas de batalhas, alianças e conquistas de um tempo que apenas os mais velhos conheciam por completo. Tapeçarias ricas em detalhes pendiam das paredes, ilustrando lendas e figuras míticas, como se o salão estivesse coberto de fragmentos de eras passadas. As janelas de vitrais projetavam tons coloridos pelo chão de mármore polido, dando um toque quase místico ao lugar.

À mesa principal, estavam figuras que traziam consigo a marca do poder: os professores da Academia, cujas posturas revelavam sabedoria e experiência; o diretor, cuja presença irradiava uma autoridade tranquila; e os imperadores, sentados lado a lado, envoltos em uma aura de soberania e respeito. Eles observavam os jovens que entravam, seus olhares perscrutadores avaliando cada rosto, cada postura, como se buscassem aqueles que trariam honra à Academia e ao império.

Elara avançou até seu lugar designado, situado a algumas cadeiras de distância do herdeiro imperial, que também aguardava em silêncio. O jovem mantinha a postura ereta, o semblante imperturbável, mas seu olhar escuro parecia percorrer o ambiente com uma curiosidade velada, como se cada detalhe fosse uma peça de um quebra-cabeça que ele estava tentando montar.

O jantar começou ao soar de um sino suave, e os serviçais apareceram, deslizando pelo salão como sombras, trazendo pratos adornados com iguarias que pareciam retiradas de contos antigos. As travessas continham carnes suculentas, frutas brilhantes como joias e pães artesanais em formatos intrincados. Cada prato parecia ter sido preparado com esmero, enaltecendo tanto o sabor quanto a aparência.

Ao seu redor, Elara observava as conversas se desdobrarem. Os alunos trocavam olhares cautelosos e sorrisos tímidos, enquanto os professores discutiam assuntos acadêmicos e as histórias das terras distantes. Por entre o som das vozes, era possível ouvir o riso contido dos jovens que tentavam impressionar uns aos outros. Os imperadores mantinham um tom calmo e reservado, trocando palavras esparsas que carregavam um peso de sabedoria e história.

Sentindo o peso da presença daqueles que a rodeavam, Elara mantinha uma postura discreta, absorvendo cada detalhe com a serenidade que lhe era característica. Ela sabia que cada palavra dita naquela noite carregava uma intenção, uma oportunidade de observação. Mantinha o olhar levemente abaixado, mas seus sentidos estavam alertas, capturando as nuances das vozes ao seu redor, as emoções que deslizavam por entre as palavras.

Quando o prato principal foi servido, um silêncio respeitoso tomou conta do salão. Era uma tradição da Academia que, no primeiro jantar, um momento de silêncio fosse reservado para honrar os ancestrais e os que haviam pavimentado o caminho para que todos ali presentes pudessem sentar-se àquela mesa. Elara fechou os olhos por um instante, sentindo o peso das vidas que haviam passado antes dela, daqueles que haviam deixado suas marcas naquele mundo e cujas histórias se entrelaçavam agora com a sua própria.

Após o silêncio, as conversas recomeçaram, e o herdeiro imperial, que até então estava reservado, dirigiu-se a ela. “Lady Elara,” disse ele, sua voz profunda e segura quebrando a distância entre eles. “Acredito que não tivemos a chance de conversar apropriadamente. É raro encontrar alguém que traga consigo uma serenidade tão... enigmática.” Havia em seu olhar uma chama de curiosidade que ele não conseguia esconder.

Elara ergueu os olhos, capturando o dele em uma troca de olhares que parecia congelar o tempo ao redor. “Vossa Alteza, talvez alguns mistérios prefiram ser guardados, e algumas respostas, serem descobertas em seu devido tempo,” respondeu ela, com um leve sorriso que transmitia tanto a deferência quanto o desafio.

Ele inclinou a cabeça, intrigado. Era como se estivesse tentando decifrar uma linguagem antiga, e Elara sabia que o mistério ao seu redor apenas atiçava o interesse dele. “Acredito que nossos caminhos se cruzarão muitas vezes na Academia,” disse ele, uma promessa implícita em suas palavras.

Elara apenas assentiu, retornando o olhar ao seu prato. Ela podia sentir o peso dos olhares ao seu redor, alguns estudantes murmurando discretamente, capturando o interesse mútuo entre ela e o herdeiro imperial. Mas ela não se deixaria abalar; sabia que precisava manter a calma e a discrição, pois a última coisa que desejava era que seu segredo fosse revelado.

O jantar prosseguiu com os diferentes pratos, cada um mais elaborado que o anterior, e os estudantes começavam a relaxar conforme a noite avançava. Quando a sobremesa foi servida — uma seleção de frutas raras, delicadas e perfumadas, acompanhadas de doces feitos com especiarias exóticas — os jovens começaram a compartilhar histórias de suas casas, de suas famílias, e de suas expectativas para o futuro.

Em meio às conversas, Elara percebeu um olhar atento vindo da mesa dos professores. Era o olhar do diretor da Academia, um homem de cabelos grisalhos e expressão serena, mas com olhos que pareciam enxergar através das camadas de qualquer segredo. Ele a observava com uma curiosidade controlada, como se visse algo que ninguém mais podia notar.

Ela manteve sua postura, mas aquela observação a fez pensar. O diretor era um homem conhecido por sua sabedoria e pela capacidade de ler as almas de seus alunos, de encontrar neles aquilo que nem eles mesmos compreendiam. Elara sabia que precisaria ser cautelosa, pois ele poderia ser capaz de enxergar mais do que ela desejava revelar.

Finalmente, o jantar chegou ao fim. Os imperadores levantaram-se, agradecendo a presença de todos e oferecendo palavras de incentivo aos jovens ali presentes, falando sobre as responsabilidades e as honras que vinham com a posição que ocupavam. Cada palavra parecia carregar um peso especial, uma espécie de bênção que selava o compromisso daqueles jovens com o império e com a Academia.

Enquanto os estudantes se retiravam para os aposentos, Elara desviou-se da multidão por um momento e se aproximou de uma das janelas, observando o céu noturno. A lua estava cheia, brilhando com uma intensidade prateada que parecia atravessar sua pele e tocar sua essência. Ela sentiu uma onda de determinação, uma certeza de que aquele era apenas o começo de uma jornada longa e cheia de desafios, mas que ela estava pronta para enfrentá-los.

Foi então que ouviu passos atrás de si e virou-se, encontrando o herdeiro imperial, que também havia se afastado discretamente. “Parece que estamos destinados a nos cruzar, Lady Elara,” disse ele, com um sorriso enigmático. “E não posso negar que sua presença torna essa noite ainda mais... interessante.”

Elara manteve o olhar, uma resposta não dita passando entre eles. Ela sabia que precisaria ser cautelosa com aquele jovem, que trazia consigo o peso da realeza e uma inteligência perspicaz. Mas também sabia que ele poderia ser uma peça importante em sua jornada.

Eles trocaram um último olhar antes de se retirarem, cada um levando consigo as impressões daquela primeira noite, conscientes de que aquele jantar havia sido mais do que uma simples recepção. Era o início de algo profundo, uma conexão entre histórias que estavam apenas começando a ser contadas.

Elara Sulfuric [  O Legado ]Onde histórias criam vida. Descubra agora