Elara Sulfuric [ O Legado ]

15

O sol se filtrava através das folhas das árvores, lançando sombras dançantes sobre o caminho de pedras do jardim da academia. O ar estava perfumado com o doce aroma das flores exóticas, cada uma mais vibrante que a anterior, como se a própria natureza estivesse se esforçando para encantar os visitantes daquele mundo. Elara, com um vestido de tecido leve que fluía ao redor de seus pés, caminhava ao lado de Benedith, sua fiel serva, que carregava uma bandeja cuidadosamente arrumada com finas porcelanas e iguarias que pareciam ter saído de um conto de fadas.

À medida que se aproximavam de uma mesa disposta sob a sombra de uma árvore majestosa, Elara sentiu a serenidade daquele momento se infiltrar em seu ser. As flores ao seu redor eram de um azul profundo, quase etéreo, enquanto borboletas com asas como cristal dançavam pelo ar, trazendo à mente uma sensação de maravilha que ela havia apenas lido em histórias. Era um cenário que parecia existir em uma dimensão diferente, um lembrete constante de que ela não estava mais em sua vida anterior, mas em um mundo onde a magia pulsava em cada canto.

Benedith arrumou os pratos delicadamente, e enquanto a serva ocupava suas mãos, Elara não pôde deixar de refletir sobre sua vida como Hinylle. As memórias surgiram como vislumbres fragmentados: a insegurança, a ambição sufocante e a constante luta por reconhecimento. Agora, vestindo a pele de Elara, uma nova determinação brotava em seu coração. Ela não era mais uma simples espectadora, mas uma jogadora astuta nesse tabuleiro de xadrez, onde cada movimento contava.

Com um gesto gracioso, Elara se sentou, observando os pequenos pássaros que piavam alegremente, enquanto sua mente maquinava. As lições de política que recebera nas últimas semanas ecoavam em seus pensamentos, mas havia um impulso mais profundo, uma necessidade de criar uma estratégia que transcendesse o jogo visível. O que se escondia nas sombras, longe dos olhares curiosos?

"Como o chá, a vida é uma mistura de sabores, Benedith", disse Elara, com um leve sorriso nos lábios, enquanto a serva servia uma infusão de folhas raras que mudavam de cor ao toque da água quente. "Precisamos sempre ter algo inesperado, algo que não se revele até o momento certo."

A serva ergueu uma sobrancelha, interessada. "Mademoiselle, o que tem em mente?"

Elara inclinou-se levemente, seus olhos escuros brilhando com uma nova intensidade. "Um plano que irá abalar os alicerces do reino. Vou conquistar influência anônima na capital, de forma que ninguém perceba minhas mãos nos bastidores. Um poder que se espalhará como raízes malignas, sutil e silencioso, até que se torne incontrolável."

Benedith a olhava, intrigada e preocupada. "Mas como você pretende fazer isso?"

"Comércio", respondeu Elara, a palavra saindo de seus lábios como um feitiço. "Este reino ainda é primitivo, e o comércio é o pulso que alimenta sua vida. Usarei a magia para facilitar transações que ninguém poderia imaginar. Serei a sombra que empurra as engrenagens, garantindo que minha influência se espalhe por toda a capital, enquanto opero nas sombras."

"Mas, para isso, precisaremos de alguém mais, não é?" Benedith perguntou, percebendo a profundidade do plano. "Você precisará de alguém em quem possa confiar, que seja leal e capaz."

"Exatamente. Quero que você traga outra serva para a Academia", Elara respondeu, seus olhos brilhando com determinação. "Ela será minha extensão, alguém que possa executar meus planos com precisão e lealdade. Uma confidente, que trabalhará ao meu lado sem que ninguém perceba."

O jardim encantado da Academia de Virtudes Nobres deixava de ser apenas um refúgio tranquilo, tornando-se o solo fértil onde os primeiros vestígios de um novo domínio começavam a germinar. A cada batida de seu coração, Elara Sulfuric esculpia um destino forjado nas sombras, silencioso e letal. O plano que surgia em sua mente não prometia apenas poder, mas a ascensão de um império invisível, ramificado pelas artimanhas do comércio e movido pela magia.