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Elara afastou-se da janela, sentindo o suave toque da luz da lua guiar seus passos pelos corredores do castelo. Cada curva e cada sombra pareciam ganhar vida sob o olhar atento da noite, que envolvia o lugar em um manto de silêncio e mistério, contrastando com o brilho grandioso do salão. As risadas e conversas dos convidados ainda ecoavam em sua mente, como fantasmas de uma noite que parecia longe de terminar.

As palavras do herdeiro imperial retornavam-lhe à mente, não pela clareza, mas pelo enigma que carregavam. Ele era um mistério; um mistério que parecia querer descobrir, mas que também lhe trazia a sensação de um perigo iminente. A intensidade do olhar dele, o magnetismo que emanava... Era inegável. Porém, Elara tinha plena consciência de que qualquer proximidade com ele não seria simples. A política e a sociedade nobre eram um jogo de máscaras e espinhos, e ela ainda era uma peça cautelosa nesse tabuleiro traiçoeiro.

Enquanto cruzava os corredores silenciosos, Elara sentia o peso do castelo ao seu redor. As paredes imponentes e os tetos altos pareciam sussurrar histórias há muito esquecidas, segredos que esperavam por alguém audaz o suficiente para desvendá-los. "A Academia de Virtudes Nobres não é apenas uma escola," murmurou para si, quase como se as pedras pudessem ouvir e entender. Era um palco onde poder e influência dançavam de mãos dadas, onde alianças eram costuradas e ambições se entrelaçavam. Sentia uma tensão no ar, uma energia latente, como uma corda esticada prestes a romper.

Ao chegar aos seus aposentos, ela fechou a porta atrás de si com cuidado, como se encerrasse o mundo exterior para criar um santuário privado. Aquele quarto luxuoso, decorado com móveis esculpidos em madeira escura e tecidos finos adornando cada superfície, parecia ser o único lugar onde poderia baixar a guarda. Aproximou-se do espelho dourado, olhando o próprio reflexo. Era um rosto familiar, mas que lhe parecia ao mesmo tempo distante. "Hinylle…" sussurrou, quase como uma prece. A lembrança da antiga vida a tomava, o eco dos sonhos que outrora possuíra reverberava em seu coração. A dualidade pesava, mas também fortalecia. "Sou mais que Elara Sulfuric," afirmou baixinho. "Sou a junção de duas almas."

Um leve toque na porta interrompeu seus pensamentos, trazendo-a de volta ao presente. Com um suspiro, ela murmurou, "Entre," e a porta se abriu, revelando Benedith. A presença da serva era um alívio; trazia um ar de conforto e segurança, como uma âncora em meio à tempestade emocional que a jovem enfrentava.

"Lady Elara, como foi o jantar?" Benedith perguntou, com aquele olhar cuidadoso que sempre tinha, como se pudesse captar até os menores detalhes.

Elara ergueu o queixo, tentando manter um tom sereno. "Cansativo, Benedith… mas, de certa forma, revigorante." A jovem desviou o olhar, observando as sombras que dançavam nas paredes. "É como se todo o castelo estivesse atento, esperando cada movimento meu, como se eu estivesse em uma constante vigília."

Benedith assentiu, a compreensão em seus olhos. "Não é fácil ser uma Sulfuric, minha Lady. As expectativas recaem sobre você, como um peso invisível. Mas… lembre-se: você é mais do que o nome que carrega."

Elara voltou-se para o espelho, onde o reflexo a encarava de volta, uma mistura de determinação e vulnerabilidade. "Sim… mas às vezes é difícil ver isso. Todos veem apenas o título, o sobrenome, e esquecem que há mais por trás de cada fachada." Um leve sorriso tocou seus lábios, ainda que carregado de amargura. "Quero que um dia me vejam pelo que sou… que reconheçam o meu próprio legado, não apenas o dos meus pais."

A serva sorriu, os olhos brilhando com orgulho. "Você será, minha Lady. Esse é apenas o começo. E estarei ao seu lado, onde quer que essa jornada a leve." A firmeza em sua voz era como um bálsamo para Elara, que sentiu o coração serenar.

"Obrigada, Benedith," sussurrou Elara, tocando o ombro da serva com um afeto silencioso.

Durante um momento, ambas ficaram em um silêncio confortável, que parecia ecoar a lealdade e o respeito que unia as duas. Era um raro instante de paz em meio às pressões que a aguardavam.

Após a despedida, Benedith preparou a cama com cuidado, ajeitando os lençóis macios e os travesseiros de penas, enquanto Elara tirava o vestido e colocava uma camisola leve, bordada com detalhes dourados. O toque dos tecidos finos em sua pele parecia acalmá-la, uma lembrança de casa e de sua posição, mas também uma espécie de armadura leve contra as ansiedades daquela primeira noite na Academia.

Com um último olhar ao redor do quarto, apagou a vela próxima ao leito e deitou-se. A maciez do colchão a envolveu, e, ao fechar os olhos, deixou-se levar pelos pensamentos que rodopiavam em sua mente. Fragmentos do dia cruzavam sua memória, como o olhar do herdeiro imperial, as vozes dos estudantes ao seu redor, e o eco das palavras de Benedith. "Você é mais do que o nome que carrega…" A frase ainda ressoava em sua mente enquanto o sono, aos poucos, tomava conta dela.

A noite foi calma, e Elara mergulhou em um sono profundo. Ela sonhou com florestas antigas, onde figuras indistintas pareciam observá-la das sombras, e com um rio cristalino onde via seu próprio reflexo se transformar, de Elara para Hinylle, como se ambas fossem uma única entidade separada por um véu tênue. Foi uma visão perturbadora e fascinante que a acompanhou até o primeiro raio de sol.

Ao amanhecer, a luz suave da manhã invadiu o quarto através das grandes janelas, banhando o ambiente com um brilho dourado. Elara despertou sentindo-se renovada. Levantou-se devagar, espreguiçando-se enquanto os olhos se ajustavam à claridade do novo dia. A porta se abriu suavemente, e Benedith entrou trazendo uma bandeja com café da manhã. "Bom dia, Lady Elara. Espero que tenha descansado bem."

"Bom dia, Benedith. Sim, sinto-me preparada para o que vier," respondeu Elara, com uma determinação tranquila. Ela tomou seu café da manhã em silêncio, concentrada em seus pensamentos e nas expectativas que o dia trazia.

Após se vestir com a ajuda de Benedith, optou por um traje simples, mas elegante, de tons escuros com detalhes sutis em dourado que destacavam sua presença sem exagero. "Hoje, que observem o meu esforço, não o meu nome," pensou enquanto ajustava o broche em seu peito.

Pronta, Elara saiu de seus aposentos e caminhou com Benedith pelos corredores da Academia. A movimentação dos estudantes era intensa, e ela notou como todos pareciam envolvidos em alguma tarefa ou conversa importante.

Elara Sulfuric [  O Legado ]Onde histórias criam vida. Descubra agora