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O sol já se esgueirava para trás das altas muralhas da Academia de Virtudes Nobres quando Elara e Benedith saíram do pátio de treinamento. O peso do olhar dos outros alunos ainda parecia seguir cada passo que ela dava, uma constante lembrança de que, para os nobres ali, ela não era apenas uma Sulfuric — ela era uma força a ser observada e, para alguns, temida.

Caminhando pelos corredores de pedra fria, Elara permitiu-se relaxar, embora seu exterior mantivesse a postura rígida e calculada. Benedith seguia ao seu lado em silêncio, como uma sombra protetora. No entanto, Elara sabia que, por trás da aparência silenciosa e obediente, Benedith estava sempre atenta, absorvendo cada detalhe e sempre pronta para agir em defesa de sua senhora.

“Minha Lady,” a voz de Benedith rompeu a calma do corredor, suave, mas com uma nota de admiração. “O desempenho de hoje... foi uma verdadeira exibição de poder. Tenho certeza de que Vossa Alteza não esperava encontrar tanta resistência.”

Elara permitiu-se um pequeno sorriso, mas logo o suprimiu. “O herdeiro imperial tem muitos recursos à sua disposição,” respondeu, sua voz controlada. “Hoje foi apenas um primeiro encontro. Eu não o subestimo, assim como espero que ele não cometa o mesmo erro.”

Benedith acenou, reconhecendo a sabedoria de sua senhora. Ela sabia que Elara sempre via além do que estava à frente, antecipando movimentos e calculando suas ações com uma precisão fria. Isso era o que a tornava tão diferente dos outros nobres de sua idade, sempre prontos a se entregar às emoções e à glória momentânea.

Ao virarem o corredor em direção aos aposentos de Elara, uma batida forte e ritmada ecoou atrás delas. Antes que pudessem reagir, um mensageiro da Academia apareceu, um jovem de expressão tensa e ligeiramente ofegante.

“Lady Elara Sulfuric,” disse ele, curvando-se formalmente. “Fui enviado pelo diretor. Ele solicita sua presença no salão principal para uma audiência privada, imediatamente.”

Elara trocou um breve olhar com Benedith, uma troca silenciosa de pensamentos que apenas as duas compartilhavam. Com um aceno de cabeça, dispensou o mensageiro. “Diga ao diretor que estarei lá em breve.”

Assim que o jovem desapareceu, Benedith falou em um tom baixo. “Uma audiência privada? É incomum que o diretor faça esse tipo de solicitação diretamente.”

“Concordo,” disse Elara, seus olhos fixos em um ponto distante. “Isso só reforça a importância do que está para acontecer. Algo está em movimento.” Ela respirou fundo, organizando seus pensamentos. “Vamos nos preparar.”

Nos aposentos, Benedith ajudou Elara a trocar sua roupa de treino por algo mais formal. O tecido fluido do vestido azul-escuro parecia se moldar ao corpo dela como se tivesse sido feito sob medida para uma ocasião como essa — discreto, mas com uma elegância cortante. Elara olhou-se no espelho por um momento, percebendo como sua própria imagem refletia a dualidade que sentia por dentro: forte e segura, mas com algo indomável oculto sob a superfície.

Benedith ajeitou os últimos detalhes, fixando uma pequena joia no cabelo de Elara. “Tudo está perfeito, minha Lady. O diretor não poderá ignorar sua presença.”

Com um aceno de cabeça firme, Elara seguiu pelo corredor em direção ao salão principal, seu coração batendo com uma intensidade sutil, como um tambor de guerra que apenas ela conseguia ouvir. Ao atravessar os corredores largos da Academia, a mente dela fervilhava com possibilidades. O que poderia ser tão urgente para o diretor chamá-la pessoalmente? Era uma questão sobre sua performance? Sobre sua relação com o herdeiro imperial?

Quando as portas do salão principal se abriram diante dela, Elara encontrou o diretor já esperando. A figura dele, imponente, estava iluminada apenas pela luz suave das tochas ao redor. Sua expressão era indecifrável, os olhos astutos fixos nela enquanto ela caminhava com elegância para o centro do salão.

“Lady Elara,” ele começou, sua voz ecoando no espaço silencioso. “Seu desempenho hoje foi, sem dúvida, notável. Não é apenas o que se espera de uma Sulfuric, mas algo além. No entanto, estou aqui para tratar de algo que vai além das lições de hoje.”

Elara permaneceu em silêncio, sua expressão impassível. Cada palavra do diretor parecia carregar um peso oculto, como se houvesse algo nas entrelinhas que ela deveria captar.

“Há forças em jogo na Academia que você ainda não está completamente ciente,” continuou o diretor, cruzando os braços e caminhando lentamente ao redor dela. “Fui instruído a observar de perto alguns alunos... e você, Lady Elara, é um deles.”

As palavras pairaram no ar como uma nuvem densa. Elara não reagiu externamente, mas por dentro, seu coração acelerou. O que exatamente o diretor sabia? Estaria ele ciente de sua verdadeira identidade, de seu segredo que ninguém deveria descobrir?

“Sei que uma Sulfuric jamais é uma peça passiva no tabuleiro,” disse ele, parando de frente para ela. “E é por isso que gostaria de estender a você uma oferta. Há oportunidades aqui, Lady Elara, que podem definir seu futuro e o de sua família. Mas essas oportunidades exigem lealdade, comprometimento... e discrição.”

O ar ao redor parecia se comprimir. Elara sabia que aquele momento era um teste, mas também era uma armadilha em potencial. Escolher suas palavras com cuidado seria crucial.

Ela ergueu o queixo, seu olhar firme, mas suas palavras carregavam uma leveza controlada. “Estou sempre pronta para servir ao melhor interesse da minha casa e do império, senhor. No entanto, preciso entender exatamente quais são essas oportunidades... e o que o senhor espera de mim em troca.”

O diretor sorriu, mas o sorriso não atingiu seus olhos. “Ah, Lady Elara... tudo será revelado em seu devido tempo. Mas acredite, os ventos estão mudando, e aqueles que souberem posicionar suas velas alcançarão grandes coisas.”

Com essas palavras enigmáticas, ele fez um gesto para que ela se retirasse. Elara curvou-se levemente em despedida, mas em sua mente, o cenário estava claro: a Academia era um campo de batalha muito maior do que os treinos deixavam transparecer.

Caminhando de volta para seus aposentos, a sensação de intriga a envolvia. Estava claro que o diretor a via como uma peça importante — mas em qual jogo ele estava jogando? E mais importante, como ela poderia manipular aquele jogo a seu favor?

Elara Sulfuric [  O Legado ]Onde histórias criam vida. Descubra agora