Elara Sulfuric [ O Legado ]

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O som suave dos sinos da Academia ecoava pelos corredores enquanto Elara caminhava pelo mármore impecável. Hoje, mais do que nunca, ela precisaria manter o equilíbrio entre sabedoria e cautela. As aulas de política e estratégias não eram apenas lições para os outros. Para ela, eram oportunidades de demonstrar um conhecimento que transcendia o tempo e as convenções.

Ao adentrar a sala, seus olhos percorreram o ambiente. Os alunos, já acomodados, sussurravam entre si, enquanto ao fundo, o professor Arion — uma figura imponente com suas vestes cerimoniais escuras — aguardava diante de um imenso mapa do reino. Seus olhos cinzentos, como nuvens antes de uma tempestade, examinaram Elara por um breve momento. Havia uma tensão sutil no ar, como se todos soubessem que aquela aula seria um divisor de águas.

“Bom dia, nobres,” a voz grave de Arion cortou o silêncio, atraindo a atenção de todos. “Hoje, exploraremos as reais questões que assolam nosso reino. Não se trata de meras lições teóricas, mas de decisões que vocês, como futuros líderes, terão que enfrentar.”

Ele caminhou até o mapa, tocando com os dedos as fronteiras delineadas, as terras distantes e os reinos vizinhos. “Nosso reino prospera, mas até quando? Como garantir que essa estabilidade perdure? Sugestões?”

Os alunos começaram a falar um por um, alguns com propostas previsíveis de fortalecer o exército, outros sugerindo acordos comerciais com aliados. Elara ouviu atentamente, sem interromper, seu olhar sereno disfarçando a análise afiada que fazia de cada ideia superficial. Quando chegou sua vez, ela se ergueu com uma graça calculada, todos os olhos se voltando para ela como se pressentissem que algo incomum estava prestes a ser dito.

“Elara Sulfuric,” Arion a chamou, sua voz carregando um misto de curiosidade e expectativa. “Quais são seus pensamentos sobre o futuro do reino?”

Ela respirou fundo, mantendo o olhar firme no mapa à sua frente. "Acredito que não podemos nos prender ao presente ou ao que é óbvio. Nosso reino não prosperará apenas com defesas militares ou alianças triviais. Devemos pensar à frente, onde as ações de hoje moldarão a supremacia de amanhã."

Um silêncio tomou conta da sala. Aquelas palavras, embora sutis, carregavam um peso incomum para a idade dos alunos ali presentes.

Elara deu um passo à frente, seu dedo desenhando lentamente as fronteiras no mapa. "Se queremos assegurar um futuro de glória, devemos ser mais estratégicos, mais sutis. Devemos usar a diplomacia e os acordos comerciais não como meros tratados, mas como ferramentas para sondar a verdadeira lealdade dos nossos aliados e, ao mesmo tempo, minar as forças de nossos adversários sem que eles percebam."

Arion inclinou a cabeça, intrigado. "Você sugere uma abordagem mais... calculista?"

Ela assentiu, seu olhar frio e calculado. “Precisamos ser inteligentes. A força militar é importante, mas ela só deve ser usada como último recurso. Podemos controlar reinos inteiros sem precisar levantar uma espada, se soubermos manipular os interesses certos. Oferecemos vantagens econômicas, mas secretamente garantimos apoio militar em troca, garantindo que esses reinos se tornem dependentes de nós. E, no momento certo, teremos não apenas aliados, mas submissos.”

Alguns alunos se entreolharam, inquietos. Era uma abordagem diferente, quase ousada demais para ser considerada por muitos ali. Elara, porém, sabia que aquele era o caminho para consolidar o poder de forma duradoura. Não era apenas sobre proteger o presente, mas assegurar o futuro — um futuro onde ela estivesse no topo.

Arion deu um passo adiante, sua expressão agora carregada de uma admiração cautelosa. “Você fala de uma visão que poucos aqui ousariam considerar, senhorita Sulfuric. Manipulação, estratégia... E como sugere que tal plano seja implementado sem levantar suspeitas?”

Elara deu um pequeno sorriso, quase imperceptível. “Precisamos fazer com que nossos movimentos pareçam benéficos para todos. Oferecemos comércio, mas garantimos que os termos sempre nos favoreçam. Propomos tratados de paz, mas introduzimos condições que garantam nossa vantagem. E, enquanto isso, estudamos seus pontos fracos, seus medos. Quando chegar a hora, eles já estarão tão presos aos nossos acordos que não poderão se rebelar sem sacrificar tudo.”

O silêncio na sala era palpável. O professor Arion cruzou os braços, refletindo sobre as palavras de Elara. “Você tem uma visão interessante... poderosa. É assim que se pensam os verdadeiros líderes. Devemos moldar o futuro, e não sermos moldados por ele.”

Elara sentou-se lentamente, sua mente ainda vibrando com o poder de suas próprias palavras. Ela sabia que estava jogando um jogo perigoso, mas também sabia que estava se posicionando onde queria estar — um passo à frente de todos.

O que acabara de dizer não era apenas uma análise perspicaz; era uma revelação da verdadeira profundidade de seu pensamento, algo que ela raramente permitia que os outros vissem. Os alunos ao seu redor, em silêncio absoluto, pareciam ainda digerir suas palavras, enquanto o professor Arion mantinha uma expressão indecifrável.

Ele passou os olhos pela classe antes de se aproximar de Elara. "Você compreende as implicações de suas palavras, senhorita Sulfuric?" A voz de Arion era controlada, mas carregava um tom de advertência. "Não estamos falando apenas de política, mas de como você pode reconfigurar os alicerces de todo o reino."

Elara manteve sua postura firme, sem hesitação em seu olhar. "Compreendo, professor. Acredito que essa é a única maneira de garantir a verdadeira longevidade do poder."

Arion a estudou por um momento, antes de dar um leve aceno de aprovação. "Muito bem. Vamos prosseguir." Ele voltou sua atenção para o restante da turma, mas a atmosfera já havia mudado. Elara sentiu isso no ar — uma mistura de temor e admiração que permeava o ambiente. Havia plantado a semente do que seria a próxima fase de sua ascensão.

Após a aula, enquanto os alunos se dispersavam, Elara notou um pequeno grupo de colegas reunido em sussurros ao fundo da sala, seus olhares direcionados a ela com uma intensidade inquietante. Era de se esperar. Sua presença, já notável por seu nome e sua história familiar, agora ganhava uma nova dimensão.

Entre os rostos no grupo, Erion, o herdeiro do império, mantinha uma expressão enigmática. Seu interesse por Elara já havia ficado claro anteriormente, mas agora parecia que algo mais havia sido aceso dentro dele. Havia uma curiosidade em seus olhos, algo que Elara sabia que precisaria explorar e, ao mesmo tempo, manter à distância. Ele se aproximou lentamente enquanto os outros alunos se afastavam, deixando os dois em uma aura de tensão discreta.

“Você não para de me surpreender, Elara,” Erion disse com um sorriso que não chegava aos olhos. “Esse é o tipo de pensamento que pode transformar o reino... ou destruir aqueles que ousam pensar grande demais.”

Ela o encarou de volta, seus olhos sombrios refletindo uma firmeza calculada. "A diferença, príncipe, é que alguns falam de transformação, enquanto outros a fazem acontecer. Meu foco sempre será na ação."

Erion riu suavemente, cruzando os braços. "Veremos, então, até onde sua ambição vai te levar. Mas cuidado... mesmo o melhor dos estrategistas pode cair se der o passo errado." Ele inclinou a cabeça ligeiramente, seu tom mesclando interesse genuíno com uma sombra de ameaça.

Elara manteve sua compostura, mesmo sabendo que aquele era um jogo perigoso. "E o que seria a vitória sem risco?" respondeu ela, suavemente, antes de se afastar.

Conforme se dirigia aos corredores da Academia, Benedith, sua serva leal, se aproximou rapidamente, suas feições carregando uma preocupação discreta. "Senhorita, ouvi rumores de que suas palavras na aula causaram impacto... algumas pessoas importantes já estão comentando."

Elara apenas acenou com a cabeça, sabendo que isso era inevitável. "Que comentem. Quanto mais falam, mais eu sou lembrada." Sua voz era fria, controlada, como o fio de uma lâmina recém-afiada. No fundo, ela sabia que esse era apenas o início. As atenções se voltariam para ela, o que significava que deveria ser ainda mais cuidadosa com seus próximos movimentos. Havia muito em jogo.

Com um suspiro silencioso, Elara sentiu a adrenalina pulsar em suas veias. O destino que ela desejava estava ao alcance, mas precisaria jogar esse jogo perigoso com perfeição. Ela estava preparada. E sabia que, em breve, não seria apenas uma estudante na Academia de Virtudes Nobres, mas uma força a ser temida em todo o reino.