Capítulo Vinte Dois - Isso vai demorar uma vida

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Luke Blackthorn

— Sabe... Admiro algo no Aly, e diversas vezes no John - digo me levantando e olhando para a vista — Eles são como alguns criminosos que vi na TV, eles poderiam descer até o próprio inferno e voltar de lá com o próprio diabo devendo um favor a eles.

— E qual é a diferença entre a gente e eles? - pergunta a minha mãe, a July tinha saído com o Mark, não estavam longe daqui, na real, cinco minutos correndo e dois de carro — Você foi criado assim como o Aly, você é um advogado, o seu trabalho consiste em saber refutar e questionar.

— A diferença não existe, mas tentamos manter uma linha tênue - respondo olhando para ela, a minha mãe tinha uma postura ereta, usava uma calça jeans justa com uma blusa preta, os seus olhos estavam fechados, mas sentia que me analisava internamente.

— Me lembro quando o Aly estava doente e você precisou assumir o trabalho de verão que vocês criaram - ela fala e me sento para tentar pegar o raciocínio dela — O Jack tinha chamado sua atenção na noite anterior, falando... - a corto, sabia o que meu avô tinha me falado, nunca me esquecerei daquelas palavras.

— Você é o meu neto mais velho, carrega o legado que os seus e os meus ancestrais construíram - começo a falar sentindo um gosto metálico forte na boca, aquele gosto vermelho amargo único, uma mistura de saudade e dor, que sempre sentia quando falava do Jack — Se o Aly lidera, você o aconselha, se ele não pode liderar, você fará isso, e ajudará ele a se levantar, assim como ele vai te levantar, um vive pelo outro, um ajuda o outro, vocês são irmãos, tem uma ligação única que não pode ser desfeita ou quebrada, nem com a morte.

— Exatamente! - ela fala — Se o Allyson é de um jeito, é por que você está com ele, vocês são a face um do outro, você praticamente parecia morto quando ele estava no hospital.

— Eu me sentia morto - respondo —, meu peito doía, sentia uma parte de mim sendo arrancada, sentia que estava morrendo lentamente... E alguns momentos antes dele acordar, senti meu peito se rasgando, doendo tanto que poderia sentir ele indo...

— Essa ligação que o Jack sempre foi fascinado - ela diz, andando até mim e segurando o meu rosto com suas mãos finas — Vocês estão ligados e ninguém pode destruir isso. Assim como os seus filhos também serão ligados

— Mas não entendia como poderia sentir minha alma indo junto com ele - digo tocando o símbolo da família, olhava para as paredes, perdido em meus pensamentos — Será assim quando as crianças nascerem?

— Na minha mente, e análise... - fala a minha mãe, seus olhos eram tão lindos e únicos — algo em vocês ficará mais forte, mas não será a paternidade, será o amor que carregam - ela beija a minha testa devagar, me fazendo me sentir tão amado, carinhosamente bem, era único o carinho da minha mãe.

Harry Adams

Fico batendo os meus dedos no volante do carro, o John dormia no banco traseiro com uma revista na cara, o Brutos dormia encostado na janela, era por volta das duas da manhã.

Eu estava dirigindo há algumas horas, a pista estava iluminada por alguns faróis, o caminho para Toronto era peculiar, bem peculiar, diferente da cidade dos anjos, penso em parar para respirar, mas assim que aciono o pisca-alerta, escuto a voz grave do John.

— Se você parar esse carro para fazer qualquer coisa que não seja mijar, eu vou assumir o volante e lhe deixar aqui - ele fala tirando a revista do rosto, sua cara amassada me fez sorrir — Faltam quantas horas?

— Para chegar? - pergunto vendo a fachada de um posto de gasolina, dirigindo um pouco mais rápido — Pela velocidade em que estamos indo, vamos chegar daqui de umas nove a onze horas.

— Que?! - ele fala assustado acordando o Brutos — Mas eram quarenta horas de viagem!

— Quem morreu? - pergunta o Brutos me olhando e fazendo eu gargalhar — Já chegamos?

— Pelo visto, o senhor pés de chumbo fez algo para chegarmos mais rápido... - fala John, e olho para ele pelo retrovisor, entrando no posto de gasolina — Não que eu esteja reclamando, tô orgulhoso, mini Flash.

— Tem uma cidade que corta caminho - respondo, parando no posto de gasolina e desligando o carro — Vamos chegar rápido - digo saindo do carro, indo em direção a loja de conveniência — Então, se levantem, vamos chegar logo lá!

(...)

— Onde estamos? - pergunto, as últimas horas quem dirigia era o Brutos, pois ele quem sabia o lugar correto.

— Isso é um cemitério - fala o John pulando do carro, ele arruma o seu cabelo — Foi aqui que a senhorita Collins foi enterrada - ele fala e corto ele.

— Não, ela foi enterrada em Vancouver - respondo e ele nega com os olhos distantes — Como não? O registro mostra que ela morreu lá.

— O Loiro pagou bem caro para trazer ela pra cá - ele responde, o Brutos andava perto do carro, chutando o chão com sua bota — Só que eu nunca soube, onde realmente foi enterrada, procurei muito e não achei...

— Ela foi enterrada aqui - fala o Brutos pela primeira vez em uma hora, ele vai andando até nós dois — A Jéssica me deixou aqui, nunca soube onde é a lápide, ela demorou muitas horas aqui, a gente veio aqui durante duas semanas, mas eu sempre ficava aqui... Esperando.

— Perfeito! - digo olhando aquele lugar enorme, era por volta das quatro da tarde, estava vazio o lugar, mas tinha tantas lápides que sabia só de uma coisa — Isso vai demorar muito.

Reencontro com o PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora